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Opinião

Os fortes ventos do mês de agosto começam a desatar os nós das amarrações políticas para as eleições de 2008. O que parecia estar em banho-maria passa a borbulhar nos bastidores. Acertos prévios, conversações e entendimentos começam a ganhar contornos que podem ser estabelecidos até o final do ano e mantidos até as convenções para a disputa de prefeituras nas principais cidades do Estado.

Com a sua matreirice de costume, o velho Siqueira Campos, comandante-mor da União do Tocantins, prepara uma jogada de mestre para surpreender os marcelistas. Comenta-se à boca-miúda que Siqueira pretende aliar-se com o PT em algumas cidades, na tentativa de derrotar a base aliada do governo. O primeiro golpe seria o apoio da prefeita de Araguaína, Valderez Castelo Branco (PR), ao pré-candidato petista Célio Moura. Nas eleições do ano passado, Marcelo obteve 32.774 votos contra 29.225 de Siqueira, em Araguaína.

O acordo entre a União do Tocantins e o PT teria sido costurado com a cúpula petista em nível nacional, o que abriria brecha para entendimentos semelhantes em outros municípios, principalmente Palmas, já que o relacionamento entre o prefeito petista Raul Filho e o governador Marcelo Miranda não está nada harmonioso.

O presidente regional do PT, ex-deputado e ex-prefeito de Colinas José Santana, desconhece qualquer conversação no sentido de uma possível aliança do PT com a UT em Araguaína. No entanto, acredita que a bandeira do anti-siqueirismo acabou. Essa bandeira foi no sentido de evitar que Siqueira voltasse para o governo em 2006. Quem tem o direito de combater a volta de Siqueira tem o dever de fazer um governo melhor do que ele fez, argumenta.

No entendimento de Santana, antes era preciso combater o siqueirismo porque a hegemonia de Siqueira Campos na política estadual estava indo muito longe e fazendo mal para o Tocantins. Hoje, estamos vivendo outro momento histórico, observa. Para a sucessão municipal de 2008, ele diz que o PT quer que estejam na disputa homens e mulheres que compreendam a importância da unidade partidária. Santana reconhece que o seu partido tem sofrido muito devido à falta de unidade.

"As cidades mais importantes para nós são aquelas que decidem a vida política do Estado. Mas, se for para elegermos candidatos sem compromissos partidários é preferível que não entremos nessa luta, porque não há condições de dar continuidade aos projetos", especula o presidente.

Fragilidade —

Ele reconhece que existem algumas falhas na administração do prefeito Raul Filho, principalmente pela falta de um modelo eficiente de comunicação com a sociedade e com a própria administração. Palmas é objeto de desejo de todo político de qualquer partido. Então, não haverá nenhum candidato fraco na capital. E quem postula o cargo observa os pontos negativos e promove a sua amplificação. E se não tiver um contra-ataque da administração, a situação vai se complicando ainda mais, como se fosse uma bola de neve. É preciso que a administração de Raul Filho revide os ataques sistemáticos feitos pelos seus opositores", sugere.

Na sua análise, se Raul Filho, organizar o seu ano de mandato, se reelege com facilidade, porque, na sua opinião, o prefeito dispõe de elementos para mostrar à sociedade e comprovar que a sua administração é melhor que as outras. "É preciso, inclusive, desmentir os adversários sobre as críticas", reitera.

Os aliados históricos do PT no Estado são PTB, PC do B, PPS, PDT e PSB. O petista admite que estes partidos têm interesses conflitantes, não só de poder, mas também de modelo de gestão. Ele garante que, em alguns municípios, os aliados do PT não serão essas legendas. Em diversos municípios tocantinenses, o PT não deve fazer composições com seus aliados históricos porque existem conflitos. Aí, nós vamos construir outro esquema de alianças, admite Santana.

Porto Nacional —

Sobre Porto Nacional, cujo prefeito Paulo Mourão é do PT, Santana tem outra análise. Considera que o prefeito tem feito muitas realizações, mas não tem feito bem a política, devido ao seu perfil pessoal. E aí não se trata de um defeito, mas de um estilo, de uma característica, pondera. Mourão, no entanto, conforme Santana, veio para o PT num momento muito importante: Se ele não tivesse ganhado as eleições em Porto, talvez Siqueira Campos fosse hoje o governador do Estado, porque Porto seria uma cidade-pilastra para a eleição de Siqueira".

José Santana é taxativo sobre a atuação do prefeito de Porto Nacional no PT: Na minha opinião, Paulo Mourão tem um papel estratégico na reconstrução do Estado. O fato de ele não ter sido do PT no passado dificulta um pouco a sua militância no partido. Portanto, nós estamos fazendo essa reconstrução entre ele e o partido no dia a dia. Nós o consideramos um elemento estratégico dentro do PT, porque ele não é um militante tradicional e histórico, que faz as lutas pontuais na luta dos trabalhadores. Ele tem outro papel dentro do partido, que é o papel de fazer o contraponto em alguns aspectos".

Foco no PMDB —

Siqueira Campos continua fazendo reuniões com pretensos candidatos a vereador, lideranças políticas e comunitárias. Em Palmas, a vereadora Warner Pires, do PR, esposa do ex-governador Raimundo Boi, diz que a UT está aguardando a definição sobre a fidelidade partidária para, depois, partir para a discussão de nomes. Ela adianta, no entanto, que existem vários nomes da oposição para a disputa da prefeitura da capital, mas descarta a especulação em torno do Tenente Célio, que hoje está no PSDB, porque na legenda existem nomes mais fortes como o do próprio Siqueira Campos, do ex-senador Eduardo Siqueira Campos, do deputado federal Eduardo Gomes, do deputado estadual Marcelo Lelis, além de Raimundo Boi.

Já a deputada Solange Duailibe, do PT, garante que o prefeito Raul Filho não está preocupado com a reeleição, mas em realizar obras. Recentemente o governo federal autorizou o repasse de recursos da ordem de 85 milhões da União, verba que dará para o prefeito remodelar a cidade e tentar alavancar o seu projeto de reeleição, se souber administrar bem esses recursos e fortalecer a política de alianças.

A parlamentar petista acha que a mesma sintonia que o governador Marcelo Miranda tem com o presidente Lula deve ser feita também em nível regional, de forma efetiva. O PT está avaliando internamente até que ponto é interessante para o partido ser um aliado do governador, mas não participar do governo. Solange Duailibi é taxativa: Até agora o PT não tem sido respeitado pelo governo estadual. Esta afirmação de Solange, mulher do prefeito Raul Filho, é uma sinalização de que o partido pode se distanciar do PMDB, caso não se restabeleça o diálogo.

Gilson Cavalcante