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Opinião

O seminário dos Democratas na última sexta-feira, 09, serviu para sinalizar alguns passos que serão dados pelos atores políticos nos próximos dias. O primeiro ponto a se ressaltar é que o partido demonstrou que está com uma militância motivada e isto é importante para quem tem pretensões grandiosas no estado. São eles, os militantes, que cabalarão importantes levas de eleitores, e assim já estão fazendo por cada canto e palmo dos municípios do Tocantins.

Na capital, Palmas, o DEM possui como candidata a deputada federal Nilmar Ruiz, que foi prefeita na gestão passada (2001-2004) e que embora tenha deixado a prefeitura em situação caótica para seu sucessor Raul Filho (PT), – o prefeito se queixa de que faltava até cadeiras para os funcionários sentarem e que a prefeitura foi entregue endividada – goza de boa intenção de votos, provavelmente, não por sua administração passada que demitiu nos últimos meses de governo milhares de funcionários contratados, mas, mais pela lacuna deixada pelo prefeito Raul Filho, que fez bastante pela cidade, mas não mostrou.

Como os espaços vazios tendem a ser ocupados, a militância demo trabalha apontando os pontos nevrálgicos da atual administração e por tabela capitalizam apoio para sua candidata. Isto deixa o Governador Marcelo Miranda (PMDB) em uma sinuca de bico com relação à escolha que terá que fazer entre apoiar Raul, do partido do presidente Lula, que nutre especial simpatia pelo governador e muito o prestigia, ou apoiar Nilmar, peça chave para as pretensões da senadora Kátia Abreu (DEM), que tem o seu nome prematuramente ventilado para o governo do estado em 2010.

Durante o evento dos democratas, a senadora como sempre foi enfática em seu discurso e disse que o partido fará a maioria dos prefeitos e vereadores do estado. Com relação a Palmas, disse ao Conexão Tocantins e a outros veículos de comunicação, que tem “absoluta certeza” do apoio do governador Marcelo Miranda.

Este tipo de estratégia discursiva da senadora deixa Marcelo em situação difícil, pois gera uma alta expectativa que a cada dia fica mais difícil de ser desfeita sem prejuízos à opção do governador. Marcelo já carrega o estigma de traidor junto aos simpatizantes Utistas. E poderá carregar agora a pecha de ingrato junto a outro grupo político, caso vire as costas às pretensões de Kátia.

O pano de fundo deste discurso da senadora é a fidelidade e gratidão. Ao dizer que tem “absoluta certeza”, Kátia manda para Marcelo a fatura do importante apoio do DEM para derrotar o grupo do ex-governador Siqueira Campos em 2006, muito embora ela também tenha sido escolhida naquela época pelo governador, em detrimento de outros postulantes ao senado.

O governador neste momento se faz de cego, surdo e mudo para todos que buscam seu apoio, mas dá sinais discretos de sua predileção pelo petista, como fez ao dizer ao Conexão Tocantins que admira o prefeito e nada o impede de apoiá-lo. No evento democrata o governador e por “coincidência”, nenhum governista, compareceu. Vale lembrar que na reunião da executiva estadual do DEM no dia 30 de novembro de 2007, evento de menor importância que o atual, Marcelo marcou presença e fez uso da palavra. Por outro lado têm sido freqüentes os eventos em que se vêem representantes dos governos estadual e municipal da capital dando provas de alinhamento político.

Ao se acompanhar as falas e atitudes de todos os atores envolvidos no processo se vê claramente o dialogismo estabelecido entre Kátia e Marcelo. Na última fala da senadora sobre o tema, na sexta feira, em entrevista ao jornalista Cleber Toledo, Kátia disparou na direção do alvo certo ao demonstrar sua certeza no apoio de Marcelo. Falando de Nilmar disse, “ela foi uma peça fundamental para eleição do governador, eu tenho certeza que o governador dará esta reciprocidade a ela”.

Outra peça importante que pode atrapalhar os planos de Kátia, interessada em levar pelo menos duas das prefeituras das três maiores cidades do estado, é o vice-governador Paulo Sidnei. Ele e Raul fizeram gestos de aproximação durante o período em que exerceu a governadoria interina durante a viagem de Marcelo ao exterior. Sidnei tem interesse em alinhavar acordo com Raul que retribuiria com apoio em 2010.

Dentro do PMDB as principais peças também se movem pensando nas eleições para governador. Neste aspecto tem suas próprias pretensões e não estariam dispostos a apoiar o DEM, que por sinal já foi identificado como o principal adversário nos municípios. Na reunião do PMDB marcada para hoje, 12, o pré-candidato do partido, Eli Borges, deve ser admoestado a reconsiderar seu pleito. A seguir esta tendência restaria demover da cabeça da senadora a “absoluta certeza”, maior problema para Marcelo, que deverá ser o emissário da decisão final dos partidos que compõem a Aliança da Vitória.

Na cabeça do governador com certeza passa uma análise sobre os deputados do DEM que lhe dão sustentação na Assembléia Legislativa, quatro no total, que junto com os oito da oposição poderiam causar problemas, embora esta ruptura seja muitíssimo pouco provável, uma vez que pelo menos dois deles já comentaram que vão para onde o governador Marcelo Miranda for. Como fez César Halum em entrevista após a citada reunião da executiva do DEM no ano passado. É esperar para ver.

 

Umberto Salvador Coelho