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Polí­tica

Foto: Divulgação

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Um dos maiores líderes da União do Tocantins, o senador João Ribeiro (PR) contabiliza como positivo, para a oposição no Estado, o resultado das eleições municipais. Ele diz não ver dificuldade em uma aproximação com o PT para 2010 e garante que isso chegou a ser cogitado para 2008, mas que, devido ao compromisso que aquele partido já havia feito com o PMDB, a melhor opção era também ter uma candidatura própria. Em entrevista exclusiva à Tribuna do Planalto, o senador fala sobre os recursos que tem pleiteado para ajudar os municípios tocantinenses e sobre sua relação com o governo federal - João Ribeiro é líder do PR no Senado. "Somos cinco senadores e aparentemente parecer ser pouco, mas na realidade é muito, porque a disputa no Senado entre a oposição e a situação do governo Lula é muito acirrada; ali quem ganha é por uma diferença muito pequena", explica. O parlamentar defende ainda a aprovação no próximo ano da Reforma Política, para que a verticalização não venha a atrapalhar a formação de alianças. "As pessoas não podem ficar presas a um processo de verticalização que não dê liberdade a um município ou ao Estado. Defendo a idéia de que os partidos têm de estar livres para compor de acordo com o interesse local, municipal, estadual e com interesse nacional. Acho que engessar não é bom", enfatiza.

Tribuna do Planalto - O que as últimas eleições representaram para a União do Tocantins?

João Ribeiro - De forma geral, saímos do processo muito bem. Tanto a União do Tocantins quanto as oposições. Primeiro porque saímos de 34/35 prefeitos para 52. E isso neste primeiro momento. Além dos prefeitos de cujas eleições nós participamos, ou com coligação ou como aliados, apoiando nos palanques, nas reuniões ou nas caminhadas, ou seja, além dos nossos 52 prefeitos, temos muitos que irão ficar com a gente. Prefiro não os nominar agora para poder preservá-los, já que são prefeitos da base de sustentação ao atual governo do Estado. Prefiro que eles tomem uma definição política de forma bem tranqüila, clara e serena, ou seja, o futuro político com quem eles pretendem trabalhar, da maneira que eles acharem melhor para conduzir este seu comportamento, esta sua aliança para o futuro. Mas garanto que são muitos e que tiveram nosso apoio, ou que são simpáticos a nós ou que tem uma boa convivência com a gente. Podem ser dez ou mais. Além disso, há os doze municípios que o PT elegeu, em sua grande maioria com o apoio nosso. Por isso as coisas estão caminhando para que estejamos juntos nas eleições de 2010. Em resumo, a União do Tocantins saiu amplamente vitoriosa, levando-se em consideração a falta de estrutura que os nossos candidatos tinham, falta de apoio, que não foi grande, foi pequeno. Mas o pequeno acabou sendo o suficiente para que eles pudessem sair vitoriosos nas urnas. Nós, junto com o Partido dos Trabalhadores, vencemos as eleições.

Esta foi uma eleição atípica, com as oposições se unindo contra o governo do Estado. O que contribuiu para que isso ocorresse? Houve até mesmo um racha no PMDB ...

Primeiro, o governo do Estado trabalhou muito mal no sentido de apoiar os seus candidatos. Política é reciprocidade. Política não é diferente das outras atividades da vida. Se você tem alguém que trata você bem, você irá querer retribuir. Mas se trata mal, no mínimo você irá se afastar, não é verdade? As pessoas estão se aproximando cada vez mais do nosso grupo: o senador, os deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores, os líderes que não têm mandato, mas que são importantes no processo eleitoral, todos que fazem parte da União do Tocantins e das oposições. Por incrível que pareça, todos os nossos candidatos que foram à reeleição foram reeleitos. Se você me perguntar o motivo, só posso responder que foi pelo apoio popular que se conquista com benefícios para a população. Nossos prefeitos tiveram apoio financeiro para trabalhar, têm e terão dinheiro para trabalhar, porque o dinheiro vem de Brasília, articulado por mim e pela nossa bancada. Terão condições de fazer muita coisa pela sua comunidade, ou seja, irão honrar o compromisso que assumiram em praça pública para com a sua população.

Muitos disseram que vieram poucos recursos para Palmas nos últimos quatro anos. Isso procede?

Não, de forma alguma. Somente ano passado eu trouxe R$ 26 milhões para a cidade. Todo ano vem recurso para Palmas.

Mas muitos contestam isso e dizem que a atual gestão estaria usando recursos próprios, da fonte 00, para investir em obras na Capital?

Não sei. Confesso que não sei lhe dizer se eles fizeram. E se fizeram é bom que tenham feito, porque o dinheiro do povo é para ser gasto com isso mesmo. Mas se você conversar com o prefeito Raul Filho, garanto que ele vai dizer que temos ajudado muito Palmas. Sei que ele tem dito isso a outras pessoas e a mim também, apesar de não termos ficado juntos na eleição. Aqui foi um dos locais aonde tivemos candidatura própria e saímos da eleição sem nenhuma divergência forte que impeça a gente de continuar conversando, dialogando. Hoje estamos.

E como está a relação do senhor, da UT, com o prefeito Raul Filho? Houve o dito encontro entre a UT e o prefeito Raul Filho para um possível apoio nas eleições deste ano?

É, mas o prefeito Raul Filho já tinha um compromisso com o PMDB, até mesmo porque o seu vice é do PMDB, e não podíamos chegar no dia da convenção e ouvir: "Olha, vou compor com o PMDB". Como a gente ficaria, já que tínhamos nomes, não só um, mas mais de um, que podiam disputar as eleições até com condições de vencer? A verdade é que o nosso candidato a prefeito [Marcelo Lelis, do PV] disputou a eleição, e bem. Foi o concorrente mais próximo, ou seja, mais acirrado do Raul. Sobre o nosso relacionamento, eu já conversei com o prefeito, não pessoalmente, mas por telefone, e existe sim um relacionamento bom entre nós, franco. Ele disse que não tem nenhuma reparação a fazer quanto ao pleito eleitoral disputado. Ele acha que a nossa conduta aqui foi muito limpa no processo e que o confronto existe normalmente entre os candidatos. Da nossa parte sempre houve um respeito muito grande. Então não haverá nenhum empecilho, se a gente continuar conversando, se for interessante para nós e para o PT, para que possamos estar juntos em 2010.

Essa aproximação pode resultar em uma aliança em 2010?

Pode sim.

Um pouco antes das eleições houve uma dúvida em relação à aproximação entre UT e PT. Realmente aconteceu?

Nós trabalhamos muito no sentido de fortalecer os dois grupos para as eleições municipais e na Capital nós procuramos nos fortalecer, assim como o PT, porque a disputa foi acirrada e cada um fez a sua parte.

Ainda com relação às eleições municipais, o que faltou para que o candidato Marcelo Lelis vencesse em Palmas? Faltou mais participação do ex-governador Siqueira Campos no palanque?

Não, ele esteve presente.

Mas essa participação foi mais na reta final...

Ele esteve no final da campanha, mas não acho que tenha sido isso [a causa da derrota], até porque as pessoas sabiam que o Marcelo Lelis tinha o apoio dele. Acho que é uma questão de entendimento. Nós fizemos uma campanha muito boa, de corpo a corpo. Acho que faltou mais estrutura, uma estrutura melhor, maior, e infelizmente nossos vereadores não conseguiram a votação que se esperava, não por culpa deles, mas realmente porque não tiveram condições. De um lado tivemos a máquina administrativa do governo do Estado e do outro enfrentamos a Prefeitura. Vencer quem está no poder é muito difícil. Veja bem: dos 20 candidatos das capitais brasileiras que foram à reeleição, 19 ganharam. É quase 100%. Ouço até o presidente do TSE, o ministro Aires Brito, falando que é preciso discutir melhor o processo da reeleição, porque o cargo dá uma grande vantagem. E se nas grandes cidades é assim, nas pequenas também.

Essa aproximação entre UT e PT esbarra justamente no deputado Marcelo Lelis, que foi candidato do grupo à prefeitura da Capital. Ele chegou a declarar que se tivesse que se aliar ao PT, mais precisamente ao Raul Filho, ele sairia fora. Isso não atrapalharia os planos do grupo para o futuro?

O Marcelo Lelis é um político de grupo, sabe o quanto teve o nosso apoio e lutamos para que fosse eleito. Da nossa parte, fizemos o possível e o impossível para que ele ganhasse as eleições. Então, acho que ele não decide por ele só. Ele não vai decidir sozinho. Como disse, a gente vai continuar conversando, até mesmo porque ainda não foi feita nenhuma aliança.

Existe a possibilidade?

Existe a possibilidade, porque daqui para 2010 há muita água para rolar debaixo da ponte. A eleição municipal está muito recente e daqui para lá muita coisa vai acontecer. Conversações irão acontecer e acho que ninguém isoladamente será empecilho para um acordo tão importante para o Estado e para a UT e o PT. Estamos abertos para conversar com queira conversar com a gente.

Tribuna do Planalto - Nos bastidores dizem que o senhor pode ser candidato ao governo do Estado em 2010. Há essa possibilidade?

João Ribeiro - Neste momento sou candidato a uma única coisa, e inclusive cheguei a mandar uma nota para a imprensa, dizendo o que poderemos fazer para reforçar o caixa das prefeituras municipais. Esse é o meu maior compromisso. Fui reeleito líder do partido por mais dois anos, até o final do meu mandato, tanto que estarei no conselho político do presidente por mais este período e por isso continuo em Brasília com trânsito livre. Meu compromisso é ver quem mais ajuda os municípios e estarei nesta briga direta.

Há uma fórmula para ajudar aos municípios?

Há sim.

E qual seria?

Sinceridade, lealdade, dedicação, muito trabalho. Porque política não é só falar. É fazer. Volto a repetir: política é como as outras atividades da vida: tudo o que você vai fazer tem que ser bem feito para conseguir sucesso. Um bom relacionamento na esfera federal como o que tenho com o presidente Lula para conseguir recursos para os municípios tocantinenses. Estou em Brasília há 14 anos, com bons relacionamentos para abrir os cofres dos ministérios e ajudar nossos municípios e isso para que os prefeitos eleitos possam cumprir seus compromissos.

O sr. continua na liderança do PR, com o apoio do próprio presidente Lula. O que isso representa politicamente?

A liderança de um partido no Senado Federal, onde somos cinco senadores, pode parecer ser pouco, mas na realidade é muito. A disputa entre oposição e situação é muito acirrada no Senado, porque ali quem ganha é por uma diferença muito pequena. Os quatro senadores do meu partido resolveram me reconduzir por achar que estamos fazendo um bom trabalho. Sendo líder, continuo no conselho político do presidente. E prestigiado. Assim continuo com um relacionamento melhor para continuar ajudando o Tocantins da melhor maneira possível.

Quanto à verticalização, caso se confirme, ela poderá vir a prejudicar alguma aliança, principalmente no Tocantins?

Estamos lutando para fazer a Reforma Política e estamos lutando para que seja no próximo ano. Um dos pontos que temos que atacar é exatamente esse. Até porque as pessoas não podem ficar presas a um processo de verticalização que não dê liberdade a um município ou um Estado. Eu defendo a idéia de que os partidos têm que estar livres para compor de acordo com o interesse local, municipal, estadual e nacional. Acho que engessar não é bom.

Mas e se ela realmente se confirmar?

Poderá prejudicar. Mas para tudo se tem o jeitinho brasileiro. Já tivemos isso aqui no Estado. Tivemos, por exemplo, uma época em que o pastor Amarildo apoiou o candidato Garotinho à presidência da República, que não era nosso candidato. Então já houve precedente. Não vejo a verticalização como um fator proibitivo para que as pessoas continuem conversando. Nessas eleições municipais vimos o que aconteceu com PP, PSDB, PT, DEM... Não podemos levar isso ao pé da letra, achando que vá ser um impedimento para que a gente faça uma aliança bem aberta em 2010. Não sei quem será candidato, mas sei que nosso grupo terá um candidato a governador, dois ao senado, suplente, vice-governador, candidatos federais e estaduais. E eu quero estar junto com esse grupo para ser candidato a alguma coisa e continuar ajudando. Mas não há cartas marcadas, ainda está distante. Acho que a discussão, no sentido de escolher nomes, ainda é cedo.

Fonte: Tribuna do planalto

Inez Freitas de Oliveira