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Cultura

Foto: Divulgação

O filme “Cativas – Presas Pelo Coração”, pouco depois de estrear no Paraná, seu estado natal, chega ao Tocantins onde será exibido no Cine Cultura Sala Sinhozinho do Espaço Cultural de Palmas, diariamente às 19h10. Com o gênero de documentário e duração de 77 minutos, o filme estreia em Palmas no dia 27 de agosto.

O longa mostra como o amor pode superar os limites impostos pelas grades de uma prisão. No documentário de longa-metragem, a diretora Joana Nin retrata uma característica da vida penitenciária no Brasil, mas do ponto de vista de quem convive (mesmo que em breves visitas semanais) com os detentos. São sete mulheres, com histórias diferentes, mas que trazem em comum a perseverança, a dedicação e muita esperança de um dia constituir uma família do lado de fora do presídio. 

“Cativas – Presas Pelo Coração” é a extensão de um trabalho anterior de Joana Nin. Em 2005, ela lançou o curta-metragem “Visita Íntima”, justamente sobre mulheres apaixonadas por presidiários. O documentário foi exibido em mais de 40 festivais em 12 países e conquistou 21 prêmios, incluindo Melhor Curta-metragem Brasileiro no Tudo Verdade 2006 e um Kikito em Gramado. Diante de tal repercussão, continuou-se a pesquisa, que se estendeu por 12 anos (somando-se também o tempo dedicado ao curta), acompanhando diversos casais, até chegar aos personagens do longa-metragem, que tem como protagonistas sete mulheres, que se mantém cativas em nome do amor.

São pessoas sensíveis, íntegras e dedicadas aos relacionamentos. Andrea escolhe seu vestido de noiva. Kamila luta por cinco meses até conseguir os documentos e ser autorizada a visitar o namorado na cadeia. Simone sofre com o companheiro viciado em crack. Eliane trabalhava no conselho tutelar quando se apaixonou por um menino de 14 anos de idade, 22 anos mais novo que ela, e largou marido e filhos para fugir com ele. Malu reencontrou o pai de sua filha dez anos depois e casou-se com ele, mas agora não pode viver ao lado do marido. Camila não pode vivenciar sua gravidez ao lado do pai do bebê. Cida sofreu uma séria desilusão com o homem por quem era apaixonada. São diferentes fases de romances. Estas histórias até poderiam soar comuns, mas neste longa-metragem elas têm enfoques diferenciados e ganham mais força devido ao contexto de restrições.

O filme não só tem predominância feminina em suas imagens, mas também em toda sua produção, visto que boa parte de sua equipe é composta por mulheres – entre elas, a própria diretora, produtora e roteirista Joana Nin e a Jordana Berg, montadora dos filmes de Eduardo Coutinho desde “Santo Forte” (1999) até o derradeiro “Últimas Conversas” (2014), terminado após a sua morte.

Foram usadas como guia as cartas carinhosamente decoradas que os casais trocam. Notavelmente, as dos homens são mais caprichadas em matéria de desenhos e cores. Uma ideia comovente de romantismo popular emana dessa correspondência, assim como das músicas que as preferências das próprias personagens sugeriram para a trilha sonora – um mix com composições do curitibano Cesar Mattos e a balada romântica mais consagrada de Márcio Greyck, “Impossível Acreditar que Perdi Você”, em sua gravação original.

Cativas – Presas Pelo Coração lança um olhar afetuoso para onde menos se espera. Joana Nin acredita que como a população carcerária brasileira é composta por 95% de reincidentes, talvez seja esta uma forma de repensar o sistema. Porque uma pessoa que cometeu um crime e fica isolada do mundo sem qualquer afeto por até 30 anos, não terá muitas alternativas quando sair da cadeia. Se não tiver uma família, não terá para onde ir e nem por quem sonhar com outra vida. Sem trabalho, certamente voltará a praticar crimes, aqueles que já sabia antes da condenação e os que aprendeu nos anos de condenação.

A penitenciária onde se passa o filme fica no maior complexo prisional do Paraná que abriga cerca de 7 mil presos em seis unidades. A PCE – Penitenciária Central do Estado, onde foram feitas todas as cenas, é a mais antiga delas conta com 1600 presos. O acesso da diretora ao interior da cadeia, aos presos e visitas foi bastante privilegiado. Até mesmo uma visita íntima no motel da penitenciária foi documentada pela equipe. A revista feminina, em vias de ser extinta por seu caráter vexatório, também está registrada da forma como ainda hoje é feita na maior parte dos presídios brasileiros. A cena da visita aos presos foi realizada em uma dia exclusivo, apenas com os casais que concordaram em participar. As mulheres entraram com microfones sobre as roupas para gravar o som das conversas íntimas – tudo com o consentimento de todos os personagens.

Assim como ocorreu no curta “Visita Íntima”, “Cativas – Presas Pelo Coração” também percorreu uma trajetória de festivais e mostras, conquistando diversas premiações antes de estrear nos cinemas. Recebeu menção honrosa pelo júri oficial Festival do Rio 2013, fez parte da seleção oficial do Stockholm Film Festival 2014 (na Suécia), foi exibido do Première Brasil Berlim 2014 (na Alemanha), entre outros. 

O filme é uma produção da Sambaqui Cultural em coprodução com o Canal GNT e foi viabilizado pela Lei do Audiovisual com patrocínio da Sanepar por meio do Conta Cultura, um programa de seleção de projetos promovido pela Secretaria de Cultura do Paraná. A distribuição é da Moro Filmes.

Ficha Técnica:

Produção · Joana Nin e Ade Muri

Direção e Produção Executiva · Joana Nin

Direção de Fotografia · Luciano Coelho

Roteiro · Joana Nin e Sandra Nodari

Pesquisa e assistência de direção · Sandra Nodari

Som Direto · Robertinho Oliveira

Montagem · Jordana Berg, edt.

Produtor de Finalização · Ade Muri

Direção de Produção · Sônia Procópio

Preparação de filmagens com presos · Sheylli Caleffi

Fotografia Still · Lauro Borges

Assistente de Produção e pesquisa · Raquel Zanotelli

Assistente de Câmera · Eduardo Azevedo

Desenho de som e mixagem · Alessandro Laroca · Eduardo Virmond Lima  ·  Armando Torres Jr.

Design gráfico  ·  Marcellus Schnell

Videografismo créditos  ·   Liana Lessa

Trilha Original  ·   Cesinha Mattos