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Opinião

Um dos temas bastante debatido nas comemorações dos 500 Anos da Reforma Protestante é a mudança provocada pelo Reformador Martinho Lutero em todo o sistema de ensino, reorganizando a Educação Escolar, desde as séries iniciais até a universidade, no século XVI.

Lutero afirmava que a escola não poderia ser apenas um local de transmissão de conteúdos, mas que fosse um espaço de formação de indivíduos capazes de transformar o mundo. Esta mudança se tornou uma das maiores contribuições da Reforma Protestante para o mundo ocidental.

Georg Hegel, considerado um dos mais importantes e influentes filósofos da história ocidental, afirmou que Lutero foi um intelectual que provocou uma reforma radical nas instituições, pois modificou o modo de pensar, atingindo todo o ocidente, tornando-se, assim, um dos destaques centrais da modernidade. Martinho Lutero também foi indicado como o terceiro personagem que marcou o segundo milênio depois de Cristo, conforme uma pesquisa realizada pela revista americana Life.

A defesa da reforma do ensino secundário e da universidade, além da proposta da criação de escolas de educação elementar que atendesse toda a população, ou seja, que a escola no novo modelo fosse universal, pública, gratuita e obrigatória, se dá a partir da Universidade de Wittenberg, onde Lutero era professor. Foi ali que ele se agregou a outro professor e humanista, Felipe Melanchton, que se tornou o grande responsável para organizar e executar todo o plano de mudança, auxiliado por Johannes Bugenhagen.

Após pregar as 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg, condenando a venda de indulgências em 1517, escrever a Carta aberta à nobreza cristã da nação alemã sobre a Reforma da Cristandade,em 1520, escrever ainda outro documento denominado Aos Conselheiros de todas as cidades da Alemanha sobre dever de fundar e manter escolas cristãs,em 1524, o esquema teórico da reforma de ensino já estava delineado da seguinte forma: Lutero ficou com a tarefa de prescrever as normas fundamentais para a organização das escolas; Felipe Melanchton, o braço direito do reformador, escreveu manuais escolares, organizou o sistema escolar da Saxônia, redigiu juntamente com Lutero as Diretivas aos inspetores escolares e o livro Visita das Escolas, reorganizou diversas universidades, e dava orientação e assistência aos mestres luteranos da Alemanha; já Johannes Bugenhagen ficou responsável pelas escolas elementares no norte da Alemanha, onde, em processo de reorganização das igrejas da região, estabelece diversos preceitos sobre a educação pública.

A primeira etapa nesta reorganização do ensino foi a mudança curricular. Lutero afirmou: "Afinal, que se aprendeu até agora nas universidades e conventos a não ser tornar-se burro, tosco e estúpido? Houve quem estudasse vinte, quarenta anos e não saiba nem latim nem alemão". Para ele, era algo indispensável para as novas escolas, o ensino das línguas antigas, o grego e hebraico, e no ensino secundário o latim, além de estudar muito bem a própria língua, o alemão, pois isto faria com que a Escritura fosse estudada com autonomia e cada um poderia interpretá-la corretamente e combater os erros. Nesta questão, Lutero visualiza o aprendizado como um instrumento para a garantia da liberdade do cristão no conhecimento da Escritura, a Bíblia. Entretanto, também seria necessário conhecer bem a gramática e, na sequência, a leitura de textos mediante o estudo de obras literárias pagãs e cristãs.

No ensino secundário, Lutero recomenda o estudo das ciências, das artes liberais e da história. Ao ensino de história é dada uma ênfase especial, visto que por meio dela as crianças poderiam conhecer a sabedoria de todo o mundo. Lutero afirma: "A História os tornará prudentes, para saberem o que vale a pena perseguir e o que deve ser evitado nesta vida exterior, e para poderem aconselhar e governar a outros de acordo com estas experiências". Além destas áreas, recomendava o ensino de música e da matemática. A jurisprudência e a medicina seriam preparatórias para a universidade. Desde o ensino elementar várias disciplinas faziam parte do currículo, tais como: Gramática, Retórica, Poética, História e Filosofia Moral, Astronomia, demais ciências, Música, Dança e outras artes e exercícios físicos.

Lutero insistia e solicitava àqueles que aceitassem criar e manter as escolas que não poupassem esforços nem dinheiro para a instalação de boas bibliotecas.

Ele também destacou que o método de ensino deveria acontecer com prazer e por meio de brincadeiras. Uma educação lúdica, da forma como faziam os gregos, e isso daria um salto de qualidade na vida das crianças. Afirmava que, se os jovens gostam de dançar, cantar e pular e etão sempre em busca de algo que lhes dê prazer, então que as disciplinas sejam estudadas com prazer e brincando. Ora, há 500 anos Lutero já praticava o Aprender brincando da atualidade. Quanto aos professores, estes deveriam ser bem preparados, qualificados, pois advertia: "para ensinar e educar bem as crianças precisa-se de gente especializada".

Para Lutero, a educação deveria ser obrigatória, financiada pelo poder público, e universal, isto é, tanto para meninos como meninas, o que não era comum na época. Para que isto funcionasse, a proposta consistia em responsabilizar os conselhos municipais das diversas cidades da Alemanha, e estes, por sua vez, exigiriam o sustento econômico para a criação e manutenção das escolas sob a responsabilidade das instituições políticas locais.

Martinho Lutero afirmou que uma cidade só alcançaria a prosperidade e a justiça se os seus cidadãos fossem cultos, soubessem pensar de forma crítica e se fossem capazes de fazer uso racional dos bens materiais, para cuidar de suas famílias e da coletividade. Na proposta da reformulação do sistema educacional estava claro, ninguém poderia se contentar em saber apenas assinar o próprio nome. Era necessária uma educação que instruísse o povo para um desenvolvimento intelectual e que os levasse a compreender as Escrituras Sagradas, podendo, assim, colaborar na construção de um mundo melhor.

*Wolfgang Teske é catarinense de Blumenau-SC, jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Mestre em Ciências do Ambiente/Cultura e Meio Ambiente. Reside em Palmas-TO desde 1992.