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Campo

O preço médio de terras em Mato Grosso acumula valorização de 16,28% nos últimos 12 meses. Enquanto o hectare era vendido a R$ 2,479 mil no bimestre setembro/outubro deste ano, nos últimos dois meses de 2007, estava em R$ 2,131 mil. Mas a tendência de alta que vem sendo verificada desde 2005 deve se estabilizar agora por conta da crise financeira internacional. A grande procura por terras em Mato Grosso já se acalmou e grandes investidores que compram esses imóveis aqui estão postergando os investimentos.

As terras que mais se valorizaram, percentualmente falando, nos últimos 12 meses no Estado foram na região de Tangará da Serra. Áreas de cerrado em Campo Novo do Parecis subiram 67,39% no período, saindo de R$ 1,255 mil o hectare no bimestre novembro/dezembro de 2007 para R$ 2,1 mil em setembro/outubro deste ano. Em seguida vêm terras de cerrado pecuário em Sapezal e Campos de Júlio. Nesses municípios a valorização foi de 57,97%, ou aumento de R$ 950 o hectare para R$ 1,5 mil.

Os dados são do relatório de terras da AgraFNP, empresa de consultoria e informação estratégica para o agronegócio. Esse relatório é divulgado há aproximadamente três anos, com periodicidade bimestral, mostrando as variações dos preços de terra em todo o Brasil. Conforme o levantamento mais recente, referente ao bimestre setembro/outubro, o valor das terras de Mato Grosso teve aumento maior que a média nacional, que ficou em 12,5%.

Mais caro

O hectare mais caro está na região de Rondonópolis, onde terras agrícolas de soja ou algodão valem R$ 9 mil. Bem perto disso estão os preços da região de Sinop. Entre Sorriso, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum, o hectare foi cotado a R$ 8 mil no bimestre setembro/outubro.

No final do ano passado, essas mesmas terras em Rondonópolis valiam R$ 7,1 mil e nos últimos 12 meses de 2005 o valor era de R$ 4,865 mil. Significa que nesses 36 meses, o AgraFNP apurou um aumento de 84,98% nessas áreas. Foram as terras que mais se valorizam no Estado nesse período. Em reais, o preço subiu R$ 4,135 mil.

Já as terras com hectare mais barato estão na região de Tangará da Serra, entre Sapezal e Campos de Júlio. Nessas cidades, o hectare de terra de cerrado pecuário está valendo R$ 1,5 mil. Nas apurações feitas entre novembro e dezembro tanto de 2007, quanto de 2005, o valor não saiu dos R$ 950.

Na mesma região de Tangará, mas para terras de soja e algodão nos municípios de Campos de Júlio, Sapezal e Campo Novo do Parecis, os preços são bem diferentes. Os valores variam de R$ 6,1 mil a R$ 6,7 mil por hectare. A variação dos últimos 36 meses aponta valorização de 33,98% para Campo Novo e 24,81% para Sapezal e Campos de Júlio.

Estabilização

De acordo com a analista de mercado de terras da AgraFNP, Jacqueline Bierhals, os preços de terra estão estabilizados de forma geral. A alta parou e não há queda de preços. Ela frisa que já é possível ver o início dos reflexos da crise financeira mundial com a desistência de negócios. Para Jacqueline, pode haver uma mudança quando a safra for concluída, porque as previsões não são boas para o agronegócio e os produtores podem ficar "achatados" pela baixa rentabilidade gerada pela ausência de crédito e preço ruim das commodities.

Esse cenário pode levar a uma oferta maior de terras para venda em Mato Grosso, principalmente. Jacqueline observa ainda que no Estado é comum se indexar o preço das terras ao valor da saca de soja. Ou seja, os negócios são baseados no preço da commoditie. Mas recentemente, com a queda no preço internacional da soja, ela deixou de ser utilizada como indexador.

Procura

Mato Grosso também é historicamente uma região muito procurada para aquisição de terras por ter um território grande, ainda com muitas áreas a serem exploradas, enquanto há carência de terras no mundo. Por conta dessa pressão de compradores e investidores sobre o Estado é que o preço vem se mantendo em alta. "A soja caiu pela metade e o preço das terras não. E mesmo que o valor da commoditie venha a cair mais o preço das terras não deve cair tanto no Estado. A crise é momento, é conjuntura. Existe demanda de terras brasileiras e isso deve segurar o preço".

Mesmo com a crise financeira, Jacqueline diz que esta pode até não ser uma hora ruim para vender terras, no entanto, vai ser difícil achar comprador. Além disso, a safra 08/09 está no meio e praticamente não há disponibilidade de terras. Ela lembra que o dinheiro está difícil e que grandes grupos, principalmente argentinos, que investiam em Mato Grosso estão segurando as compras. "Está difícil conseguir realizar negócios".

A analista de mercado de terras da AgraFNP pondera que quem está precisando mesmo vender as terras, pode ter que reduzir o valor pedido para concretizar o processo.

Na espera

Para saber as reais dimensões da crise financeira internacional no setor imobiliário de terras, segundo Jacqueline, é preciso aguardar. Não há um histórico nesse caso que possa ser usado como comparação para eventuais previsões. "Temos que observar". Ela diz, no entanto, que pode haver uma migração do capital especulativo para a compra de terras, que é um ativo "bastante seguro". O único problema é que não liquidez nesse tipo de investimento. Ou seja, não há como fazer dinheiro de uma fazenda da noite para dia, caso seja necessário. Diferente de ações na bolsa, que se pode vender ou comprar a qualquer momento.

Arrendamento

O presidente da Associação de Produtores de Soja em Mato Grosso (Aprosoja), Glauber da Silveira, conta que não tem visto nem ouvido falar de negociação de terras no Estado. O que existe é muito arrendamento. Ele aponta que a questão ambiental e o custo de produção têm emperrado os negócios em Mato Grosso. E para agravar a situação, vem a crise financeira. Mas a questão ambiental, com toda a burocracia para liberação de projetos, é o principal entrave, conforme Silveira. "Além disso, os grandes não têm mais dinheiro para comprar".

Brasil

Em nível nacional, a região Centro-Oeste foi a que teve a maior valorização nos preços dos imóveis rurais no bimestre setembro/outubro em relação ao valor verificado a 36 meses atrás, com aumento de 47,5%. Mas se a comparação for dos últimos 12 meses, a alta mais expressiva aconteceu na região Sul, com 23,8%.

Conforme a analista de mercado de terras da AgraFNP, Jacqueline Bierhals, as áreas localizadas em novas fronteiras agrícolas como na região de Maranhão, Piauí e Tocantins, são as primeiras a sofrer impacto da crise econômica. "A maioria dos negócios engatilhados foi adiada para o início de 2009, mas nada garante que esse prazo não venha a ser estendido. Vale ressaltar, contudo, que não houve queda nos preços".

 

Fonte: A Gazeta