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Cultura

Foto: Maradona Dona Santinha Dona Santinha
  • Mulheres do Mumbuca desfilam as peças produzidas na comunidade durante a Festa da Colheita de 2015
  • Léia Gomes tem 21 anos e destaca sua preocupação com a  preservação do capim dourado
  • Dona Santinha na vereda de capim dourado mostra a maneira como o capim é colhido

O Dia Internacional da Mulher marca lutas históricas, conquistas e realizações, além de reafirmar a importante contribuição da mulher para a sociedade. No Tocantins, um grupo especial de mulheres transformou a haste de uma sempre-viva em um dos símbolos da cultura do Estado, pelo artesanato em capim dourado. Bolsas, pulseiras, potes, brincos, chapéus, mandalas e enfeites de todos os tipos feitos com esta matéria-prima podem ser encontrados em aeroportos e lojas em diversas cidades do País e até do exterior.

A cor, naturalmente dourada, foi uma das características que fizeram com que o “ouro do cerrado”, como também é conhecido o capim dourado, ganhasse notoriedade e o gosto do público. Mais que uma peça de artesanato, esta arte foi a maneira que mulheres, que vivem numa das regiões mais isoladas do Estado, o Jalapão, encontraram de garantir a subsistência de suas famílias. A técnica, aprendida com os índios da etnia Xerente, se iniciou há mais de um século e é passada de geração a geração. Hoje, o capim não só melhorou a renda das famílias, como também moldou a cultura local.

Uma dessas mulheres é Diomar Ribeiro Silva Gomes, de 71 anos, ou Dona Santinha, como é conhecida no Povoado Mumbuca, localizado na  zona rural de Mateiros. Ela mantém a tradição do artesanato em capim dourado, que aprendeu dos pais e avós quando jovem. “O capim dourado é uma benção de Deus. Através do capim dourado pudemos melhorar de vida. Não só o Mumbuca, mas toda a região melhorou com o capim dourado”, conta. O Mumbuca foi a primeira das comunidades na região a fazer artesanato em capim dourado.

Dona Santinha ainda fez um trabalho de resgate das cantigas que eram comuns no povoado, mas estavam sendo esquecidas. Ao todo 25 cantigas foram resgatadas por ela e o trabalho lhe rendeu o Prêmio Culturas Populares, em 2013, pelo Ministério da Cultura, como Mestre de Cantigas Antigas de Roda Chata. “Foi na Mumbuca que iniciou esta linda arte, com muito amor”, diz uma das cantigas que costumam ecoar nos campos de veredas durante a colheita do capim. Dona Santinha se orgulha de que suas músicas destaquem o Cerrado e o capim dourado. “Meu prazer é ensinar as crianças, os adolescentes e até os adultos. Porque a natureza é a segunda mãe”, conta orgulhosa. “Quando falo do Cerrado vem água nos olhos”, continua.

Esse sentimento também é compartilhado pela nova geração de artesãs do Mumbuca que ainda se preocupa com a sustentabilidade na colheita dessa matéria-prima. “O capim dourado é importante pra gente não só porque ele é uma fonte de renda, que leva comida para a mesa, mas pelo que ele representa para a comunidade. Por isso, nós nos preocupamos com a preservação do capim dourado”, conta Léia Gomes, 21 anos, integrante do Povoado Mumbuca, atualmente morando em Palmas para estudar. Léia lembra ainda de como a vida das famílias mudou à medida que o artesanato passou a ser conhecido. “Lembro quando era criança e não tínhamos cama e nem colchão. Dormíamos em rede. Depois do capim dourado isso mudou, hoje temos mais conforto em casa”, destaca.

O superintendente de Desenvolvimento da Cultura da Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura (Seden), Melck Aquino, destaca o papel de Guilhermina Ribeiro da Silva, mais conhecida como Dona Miúda, ao repassar os ensinamentos das técnicas do artesanato à  comunidade do Jalapão. “Não há como falar do capim dourado, essa riqueza natural que nos encanta, sem falar da Comunidade Quilombola do Mumbuca. E falar do Mumbuca, nos exige reverenciar com muito saudosismo a força da matriarca Dona Miúda. Mulher guerreira, líder nata, que ajudou a projetar a sua comunidade, a cultura de seu povo e as potencialidades de uma economia criativa que se perpetua pelas mãos de outras tantas mulheres que aprenderam o ofício de transformar ‘fios de ouro’ que teimaram em brotar em forma de capim”.

Cada peça que sai da comunidade está adornada com as histórias e sonhos de mulheres que desejam um futuro ainda melhor. “O capim dourado me deixa feliz. Mas ainda tem muita coisa que precisa melhorar na comunidade”, destaca Dona Santinha. O artesanato, por sua história e origem, se tornou um dos símbolos do Estado.   

Atração turística

Hoje, além do artesanato, a comunidade sobrevive do turismo na região. Os turistas visitam o Povoado Mumbuca para conhecerem a arte em capim dourado e comprar peças feitas exclusivamente pelos moradores. De acordo com o superintendente de Desenvolvimento Turístico da Seden, James Possapp, já é tradição em comunidades as mulheres assumirem a liderança em muitos aspectos do dia-a-dia da vida comunitária. “São elas que produzem o artesanato em capim dourado, buriti e outros elementos do Cerrado. Este artesanato e seu modo de vida tradicional se tornaram importantes atrativos turísticos e despertam o interesse de turistas do Brasil e do mundo. São essas valorosas mulheres que, além de tudo isso, costumam receber e encantar os turistas com muita hospitalidade, cantorias e demonstrações de fé”, reforça.