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Opinião

Foto: Divulgação

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A contrapartida dos gastos públicos em C, T & I é extraordinariamente importante. Entretanto, para um retorno positivo mais eficiente, é necessário um esforço conjunto da sociedade de forma a induzir maior prioridade ao tema. A exemplo da realidade tocantinense, se aqui houvesse maiores investimentos em ciência, tecnologia e inovação, bem provável não teríamos uma crise tão profunda nos dias atuais. Qual seria então o papel do poder público em nosso estado?

Ao contrário que pensa a maioria, os EUA são um País onde o Estado intervém muito na sua economia, e da mesma forma ocorre em todos os países desenvolvidos da Europa. Na verdade, são países que possuem agências estatais que contribuem fortemente para o dinamismo e a competitividade econômica. Contudo, não basta apenas assumir esse papel; é preciso saber como construí-lo. Sendo assim, o Brasil, e em especial o Tocantins, necessita de políticas C, T & I mais ousadas. Não se trata apenas de copiar o que se fez ou que se faz nos EUA, Europa e China; o que se pode é comparar princípios e políticas associadas aos casos de sucesso de forma a verificar caminhos mais factíveis e favoráveis às especificidades regionais.

Em países desenvolvidos, o estabelecimento de novas relações de sucesso entre universidade, empresa e governo mostra que é preciso repensar não somente a relação entre essas três esferas. É necessário que cada um destes setores adote novas práticas de trabalho, voltadas para o empreendedorismo e o incentivo à apropriação do conhecimento tecnológico, principalmente na forma de patentes.

No que tange às universidades muitos pontos precisam ser mais priorizados. Temos como exemplo a importância da ciência básica na geração de novas tecnologias, que é estratégica para um país, uma vez que as ciências aplicadas desenvolvem tecnologias sob os ditames das leis e teorias descobertas pelas ciências puras, desencadeando mais e mais descobertas e inovações, sendo este um investimento de longo prazo, porém, não menos importante.

No Brasil, a maior parte das pesquisas científicas vem sendo desenvolvidas nas universidades coordenadas por docentes. O problema é que esse modelo possui algumas fragilidades; uma delas é o fato de que o docente acaba tendo que conciliar duas ou mais tarefas: a pesquisa e a sala de aula e muitas vezes precisa desenvolver outras atividades externas, quando possível, para complementar sua remuneração.

Neste contexto de parcos recursos, as universidades precisam repensar o seu modus operandi, pois representa mais que a geração de conhecimento tecnológico, representa a educação. Este seria o fator chave de conscientização e disseminação da cultura da inovação em todos os Estados brasileiros, o que poderia ajudar a esclarecer e favorecer o debate de prós e contras, propondo alternativas e caminhos. Para isso, deveria ampliar também o seu papel político de participação da elaboração das leis e políticas públicas, desenvolvendo lideranças capazes de contribuir para uma ruptura de paradigma do ponto de vista cultural, de forma a desencadear uma significativa sensibilização da classe política e da sociedade.

Quanto ao Sistema S, tem sido muito útil à iniciativa privada do campo e da cidade, pois conta com uma rede de escolas, laboratórios e centros tecnológicos voltados para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica; no entanto, não deve ter como finalidade principal subsidiar financeiramente a pesquisa científica, pois essa não faz parte de seu rol de atribuições. Assemelha-se a este o caso da iniciativa privada nacional, que sempre teve o papel de financiar, projetar, fomentar e desencadear todo o processo de inovação, onde de fato transforma o capital intelectual e o conhecimento tecnológico estratégico em bens e produtos. Contudo, a iniciativa privada nacional, sozinha, não teria suporte financeiro suficiente para assumir funções de tão grande relevância. Sendo assim, seu papel principal seria o de inserir os “produtos” no mercado os quais seriam gerados por essa nova “universidade empreendedora.”

Por que então o Estado precisa ser empreendedor e assumir de vez esse papel? O fato é que investimentos em C, T & I são vultosos e de interesse nacional para um país, pois envolvem assuntos de soberania nacional, defesa estratégica e geopolítica, necessidade de desenvolvimento, expansão do comércio exterior com países desenvolvidos, equilíbrio da balança comercial e desenvolvimento econômico de forma ampla.

Para uma reflexão mais profunda do tema, chamo a atenção do leitor para o caso da Fundação Nacional de Ciência (National Science Foundation - NSF), que é uma agência governamental dos Estados Unidos, independente, que promove a pesquisa e a educação fundamental em todos os campos da ciência e da engenharia. Seu investimento público anual é cerca de 10 vezes maior que todo o investimento que o governo brasileiro executa em todas as ações do Ministério de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Inovação. Essa disparidade chocante deixa clara a urgência de Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação mais sérias e ousadas.

*Marco Antônio Baleeiro Alves, é bacharel e licenciado em Química / Mestre em Agroenergia/Ciências Agrárias e Coordenador da Especialização em Gestão Estratégica da Inovação e PCT (Política de Ciência e Tecnologia).