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Polí­tica

Foto: Adenauer Cunha

O prefeito de Palmas/TO, Carlos Amastha (PSB), renunciou e transmitiu o cargo de prefeito para a sua vice Cínthia Ribeiro  (PSDB) na manhã desta terça-feira, 3, no Teatro Fernanda Montenegro, no Espaço Cultural José Gomes Sobrinho, na capital.

O evento teve a dimensão proporcional às tendências megalomaníacas do agora ex-prefeito. Para dar o tom da teatralidade do momento a sessão ocorreu no teatro ao invés da Câmara Municipal como exigiria a lei orgânica do município de Palmas.

As crianças da Escola de Tempo Integral Almirante Tamandaré formaram um corredor por onde Amastha e Cínthia adentraram ao teatro sendo recepcionados por vereadores aliados.

A entrada cinematográfica de Amastha foi marcada pelos versos da canção “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, entoados por “apoiadores” do prefeito na plateia.  Amastha “chorou” e cantou junto forçando o restante da plateia, visivelmente desconfortável, a acompanhar a cena.

Superados os momentos cênicos da sessão, finalmente Carlos Amastha foi à tribuna onde leu e assinou seu termo de renúncia, que não ocorreu exatamente às 8h45 como havia prometido o político. Em seguida o ex-prefeito começou a ler um discurso, interrompido novamente pela plateia cantora, desta vez desafinando a música “Trem das onze” de Adoniran Barbosa.

Passada a interrupção o ex-prefeiro deu continuidade ao discurso. Com a voz “embargada” Amastha exaltou os feitos de sua própria gestão. Destacou as escolas de tempo integral entregues em sua gestão, a política de valorização dos servidores públicos do município – embora tenha enfrentado movimentos de greve dos servidores na cobrança por direitos - e a manutenção de patrimônios e equipamentos públicos da capital.

Como não poderia deixar de ser o discurso foi marcado por críticas aos adversários políticos. Sem falar da cassação de Marcelo Miranda (MDB), Amastha criticou a gestão estadual, mencionou os problemas na saúde pública do Estado e comparou a administração de pessoal do governo estadual à da Prefeitura. Falou que as sucessivas trocas de governadores no executivo estadual em um curto período de tempo foi “uma politicagem que cansou a população” e voltou a empregar o termo “velha política” que já se tornou uma espécie de marca registrada e imprime uma ideia de distanciamento de Amastha das tradicionais práticas políticas empregadas por seus colegas.

Carlos Amastha encerrou dizendo que foram os melhores cinco anos de sua vida e brincou com o público ao dizer descontraidamente que sua alçada ao Palácio Araguaia foi ordem de sua esposa Glô Amastha. “Falei pra ela aproveitar ontem porque era a última vez que ela dormia com o prefeito. Ela me disse que não me queria mais como prefeito, que precisava de um homem com outro cargo.” Brincou em tom machista acompanhado de risos da plateia de apoiadores e acenos de cabeça negativos e desconcertados da ex-primeira-dama que acompanhava da mesa de honra. Em seguida Cínthia Ribeiro foi convocada a tomar posse como prefeita de Palmas.

Completando os ritos protocolares, Cínthia proferiu o juramento, assinou o termo de posse e recebeu a faixa de prefeita da capital do agora ex-prefeito.

Com um discurso mais firme e sem sentimentalismos desnecessários a prefeita falou sobre sua vida pública e carreira política. Lembrou a memória do seu finado marido, senador João Ribeiro, e atacou o machismo na política.

Cinthia Ribeiro disse que vai dar continuidade a gestão de Carlos Amastha com quem diz ter aprendido o que sabe sobre gestão. “Serei uma funcionária pública exemplar porque meu patrão é exigente, o povo”, finalizou a prefeita.

Adendo

Vale aqui um adendo.

Com o discurso de Cínthia dando sinais de que a pieguice havia se findado e a cerimônia finalmente tomaria a seriedade que exige, foi o vereador Folha Filho, presidente da câmara municipal, o responsável por dramatizar outra cena desconcertante.

Ao fazer uso da tribuna e – confirmando as expectativas –  “rasgar seda” para o ex-prefeito, o público presenciou um desconcertado Folha retirar do bolso um celular e, improvisadamente, colocar pra tocar colado ao microfone um hino evangélico “dedicado ao meu eterno prefeito, Carlos Amastha.” Adulou o vereador.

Avaliação

Superados os constrangimentos, Amastha, que renunciou para poder concorrer ao cargo de governador do estado do Tocantins, tanto na eleição suplementar de junho, quando em outubro, concedeu entrevista à imprensa e fez uma avaliação de sua gestão. Disse que, apesar de “se orgulhar do palmense ter recuperado o orgulho,” não está deixando legado algum à sua sucessora. “Foi um trabalho construído a quatro mãos.” E completou, “a escolha de Cínthia como vice-prefeita foi pessoal. Palmas perde um gestor mas continua com a gestão.”

Quando confrontado com a própria declaração de que reeleito prefeito não renunciaria ao cargo para se candidatar ao governo do estado, Amastha foi esquivo e declarou, “esse compromisso foi feito em 2012. Eu sou muito cuidadoso com as palavras.”

Prefeita

A atual prefeita de Palmas, Cínthia Ribeiro, é goiana da cidade de Anápolis. Formou-se em fonoaudiologia pela Unip em Brasília onde também começou a ter os primeiros contatos com a política ao trabalhar no Senado Federal. Foi lá onde ela conheceu João Ribeiro com quem se casaria.

Cínthia Ribeiro só entrou pra política efetivamente após o falecimento de João Ribeiro, candidatando-se à vice-governadora  em 2014. Cínthia não foi eleita, mas foi convidada por Amastha para ser sua vice em 2016.

Cínthia Ribeiro ficará no cargo até 31 de dezembro de 2020.