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Polí­tica

Uma dos 100 parlamentares mais influentes no Congresso Nacional, a senadora Kátia Abreu (DEM) garante que a sua relação com o governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), e com o PMDB é a melhor possível, e descarta qualquer rompimento com o Palácio Araguaia, com vistas às eleições municipais do próximo ano. No entanto, entende que PMDB tem de se harmonizar internamente e buscar um entendimento, para evitar que a base aliada do governo vá dividida para o processo sucessório, sob pena de comprometer o êxito eleitoral em 2010. A senadora diz que a aliança de 2010 pode ser maior do que a de 2006.

Kátia Abreu diz que não existe guerra entre DEM e PMDB: "Existe, a princípio, um acordo entre os dois partidos para manter a aliança. As arestas serão aparadas com inteligência e maturidade. Marcelo Miranda é o coordenador de todos os partidos que compõem a base aliada. Embora filiado ao PMDB, ele tem um pedaço de cada partido. O seu papel de contemporizador é fundamental para manter a unidade da base".

A senadora não tergiversa quando é questionada sobre a pretensão de um dia governar o Estado do Tocantins. Só que não está em seus planos forçar a barra. Ela diz que tem muitas falhas e deficiências que precisam ser corrigidas, mas que procura melhorar sua atuação a cada dia, com muito trabalho. Kátia Abreu também afirma que a aproximação do DEM com o PR do senador João Ribeiro não significa distanciamento do PMDB.

Os Democratas (DEM) saíram na frente na questão da sucessão municipal e, mesmo, estadual, realizando reuniões regularmente com suas lideranças. Como está o relacionamento da sra. com o PMDB e com o governador Marcelo Miranda?

Tenho dito em todas as reuniões que realizo pelo interior do Estado, reunindo grupos e ouvindo as pessoas, que demoramos 20 anos para fazer o casamento do PMDB com o PFL, hoje Democratas. Um casamento tão difícil para ser harmonizado - como nós fizemos na eleição para o governo, em 2006 - não pode ser dissolvido nas eleições municipais de 2008. Seria incompetência nossa, dos peemedebistas e dos democratas, deixar o casamento ser desfeito. Temos de respeitar a questão interna dos dois partidos, mas fortalecendo cada um. Unidos, os dois partidos terão condições de eleger a maioria dos prefeitos dos 139 municípios. É claro que, neste ou naquele município, poderá haver divergência, uma disputa mais acirrada, mas vamos trabalhar no sentido de integrar os dois partidos e sair do casamento de 2008 mais fortalecidos para 2010. A intenção dos Democratas é: onde o candidato do PMDB estiver mais forte, saberemos ceder, mas queremos reciprocidade.

A aproximação do DEM com o PR do senador João Ribeiro não é um recado principalmente para a ala ortodoxa do PMDB do ex-governador Moisés Avelino e uma sinalização de que poderia estar nascendo a terceira via, visando 2010?

Nas eleições do próximo ano deverão acontecer várias alianças partidárias, até mesmo com partidos que hoje são de oposição à base aliada. Vai variar muito, de acordo com a realidade político-eleitoral de cada município. O senador João Ribeiro, que preside o PR regional, vem se aproximando do governo Marcelo Miranda desde o ano passado, inclusive na época da realização do orçamento para o Tocantins, em novembro de 2006. João Ribeiro foi muito importante para harmonizar o desejo do governo, numa bancada praticamente toda de oposição. Na época, só éramos dois, eu e o deputado Osvaldo Reis, da base aliada do governador. A aproximação foi coordenada diretamente pelo governador e pelo secretário Brito Miranda, da Infra-estrutura. O PR está próximo de integrantes dos Democratas, do PMDB, do PDT e do PPS. Vamos fazer a coisa acontecer naturalmente, nada será imposto de cima para baixo. Em municípios onde os nossos candidatos a prefeito quiserem se aliar ao PR, não criaremos problemas. Nós vamos fortalecer o grupo Marcelo Miranda. Ganhamos uma eleição com 51,8 por cento dos votos. Entretanto, não podemos estacionar nesse percentual. Daqui para frente, cabe a nós aumentar esta marca, respeitando os atuais líderes e apoiadores, mas ampliando a base.

A senadora tem conversado com as lideranças do PMDB sobre a sucessão municipal? O partido parece um pouco apático nessa questão.

Tenho um relacionamento pessoal e político o melhor possível com o deputado Osvaldo Reis [presidente do diretório regional do PMDB]. Nós nos respeitamos e temos uma amizade profunda. Na eleição passada, nos ajudamos muito. Ele está no quinto mandato de deputado federal, representando a região do Bico do Papagaio. É um político valoroso e nas eleições de 2010, seguramente, vai disputar uma vaga na chapa majoritária, em qualquer cargo. Ele reúne todas as condições para isso e os democratas não têm nada a opor.

Mas existem divergências internas que podem não ser contornadas até as eleições de outubro de 2008.

As alas do PMDB têm que se harmonizar para decidir sobre isso. Citei o deputado Osvaldo Reis, mas o deputado federal Moisés Avelino também tem condições de figurar na chapa majoritária em 2010, bem como o governador Marcelo Miranda. Tenho certeza de que, com o PMDB harmonizado, chegaremos à sucessão estadual com uma grande aliança, muito maior do que a de 2006. Não existe uma guerra interna entre o DEM e o PMDB. Assim como existe indisposição dentro do nosso partido, em determinados momentos, existem também internamente no PMDB. Mas existe um acordo entre os dois partidos de manter a aliança. As arestas nós vamos aparando com inteligência e maturidade. O governador Marcelo Miranda é o coordenador de todos os partidos que compõem a base aliada. Embora filiado ao PMDB, ele tem um pedaço de cada partido. O seu papel de contemporizador é fundamental para manter a unidade da base.

A senhora tem conversado com o governador com freqüência?

Tenho o governador como um irmão. Nós temos um convívio saudável e respeitoso e nos falamos várias vezes durante a semana. Não tenho o menor arrependimento de tê-lo apoiado em 2006. Marcelo está conduzindo muito bem o Estado. Nós temos dificuldades e problemas com recursos financeiros. O Tocantins tem um grande potencial, mas ainda é um Estado pobre. Mas será um Estado rico, não só em potencial, mas também financeiramente. As obras de infra-estrutura continuam sendo feitas. O governador tem inaugurado grandes obras e também obras menores nos municípios.

Se a base do governo não mantiver a unidade, o siqueirismo não pode conquistar Palmas e se fortalecer para disputar o governo em 2010?

Todos da base aliada têm consciência de que é preciso manter a aliança nas maiores cidades, principalmente. Temos de fazer um esforço muito grande para irmos unidos para a disputa na capital, porque é uma caixa de ressonância decisiva. A divisão será prejudicial só para nós.

Que critério deve ser adotado para a definição de candidatos únicos da base aliada, sobretudo nos municípios de maior densidade eleitoral?

As pesquisas podem sondar a opinião do povo. Entretanto, é evidente que temos de fazer algumas considerações ao elaborar pesquisas. Temos leituras e mais leituras de pesquisas. Às vezes, se faz uma pesquisa quantitativa e acontece de o candidato que estava em terceiro lugar crescer durante a campanha eleitoral e ultrapassar aquele que estava em primeiro. Daí a necessidade da pesquisa qualitativa.

A sra. já vivenciou essa situação?

Se fosse obedecer à pesquisa quantitativa, eu não teria sido candidata a senadora. Mas uma pesquisa qualitativa mostrava que eu tinha condições de crescer, que tinha credibilidade junto à população. Tivemos problemas internos, como aparar arestas. A composição de uma chapa majoritária é complicada em qualquer lugar do mundo. A costura interna é própria do processo democrático. Só nos resta ter habilidade e saber ponderar para contornar eventuais desentendimentos. As lideranças dos partidos que compõem a base aliada precisam agir com inteligência para evitar dissensões, tendo em vista as eleições de 2008. Precisamos fazer análise estatística de pesquisas.

O DEM pode ser a cabeça-de-chapa para a disputa da Prefeitura de Palmas? Uma ala do PMDB disse que não abre mão da candidatura do deputado Eli Borges. Qual será o procedimento dos Democratas?

A deputada Nilmar Ruiz é uma pré-candidata forte. Ela administrou muito bem a cidade quando foi prefeita, além de ter sido a candidata a deputada federal mais bem votada na capital, com 18 mil votos. Uma votação expressiva que lhe dá todas as condições de postular novamente o cargo. Não existe a disposição dentro do PMDB de fechar questão em nome do deputado Eli Borges. A gente tem conversado bastante. Nilmar tem diálogo com o pessoal do PMDB nesse sentido. Estamos dispostos a apoiar o candidato do PMDB em Palmas desde que ele tenha um melhor desempenho nas pesquisas do que os pré-candidatos dos Democratas. Queremos essa reciprocidade: se nosso candidato estiver melhor, queremos o apoio do PMDB; se o pré-candidato peemedebista apresentar melhor desempenho, não teremos nenhuma objeção em apoiá-lo. Esse critério vai servir para todas as cidades do Estado.

A senhora avalia que não há mais espaço para o siqueirismo governar Palmas e voltar ao governo do Estado nos próximos quatro, oito anos?

Não se deve subestimar adversário. Qualquer que seja a sua densidade eleitoral, temos que respeitá-lo, observá-lo e tratar de forma inteligente a questão. O ex-governador Siqueira Campos foi um político muito importante para o Estado. Foi uma das pessoas que ajudaram a criar o Tocantins. Um governador que teve uma boa performance nas suas administrações. Não existe nenhum adversário enterrado. A fase do "já-ganhou" é prima primeira do "já-perdeu".

A senhora pretende governar o Estado do Tocantins. Está trabalhando para isso?

É provável que a maioria dos vereadores, deputados, prefeitos do Brasil tem o sonho de governar o seu Estado. Nós do Tocantins não somos diferentes. Os deputados sonham com isso e seria um grande privilégio poder governar o Estado. O sonho de um político é ir subindo os seus degraus, desde que trabalhe direito e corresponda aos anseios da população e dê retorno aos votos que recebeu.

Em curto ou médio prazo?

Prefiro deixar as coisas acontecerem naturalmente. Eu me candidatei a presidente de Sindicato Rural e nunca pensei em ser presidente da Federação da Agricultura do Estado. Nunca pensei que ia entrar na política partidária e, de repente, fui candidata a deputada federal. Nunca pensei que pudesse chegar ao Senado e lá cheguei. As coisas devem acontecer em conseqüência de um trabalho.

A criação de novos Estados, principalmente os Estados de Carajás, Mato Grosso do Norte e Maranhão do Sul, que estão sendo cogitados no Congresso Nacional, pode prejudicar o Estado do Tocantins econômica e financeiramente?

Pelo contrário, vai fortalecer o Tocantins. Na época da criação do Tocantins, diziam que Goiás se enfraqueceria e o novo Estado sairia fortalecido. Por isso, sou favorável à divisão do Maranhão e do Pará.

A senhora diz que o Tocantins vem se desenvolvendo muito do ponto de vista econômico. E no aspecto social, esse crescimento também pode ser mensurado? A qualidade de vida do povo tem melhorado?

Sim. Avalio as cidades do Estado desde 1998, desde a minha eleição para deputada federal, quando fui para a base do governo. É visível a melhoria dos nossos municípios ao longo desse tempo, em termos de infra-estrutura, menos casas de palha e taipa, mais asfalto, melhores postos de saúde, ampliação da rede de água tratada e melhores escolas. Nos próximos cinco ou dez anos, o Tocantins será um novo Estado, porque está consolidado do ponto de vista da infra-estrutura para receber grandes empreendimentos e projetos. Melhoramos a mão-de-obra, mas precisamos qualificar ainda mais os nossos trabalhadores, para quando vier a indústria.

Diante de todo esse cenário promissor, a sra. avalia como viável a criação de uma faculdade de Logística no Estado?

Será importante, porque o Tocantins será um exemplo em termos de aproximação da perfeição logística, porque nós temos hidrovias, uma ferrovia que está sendo construída. Nós queremos a Ferrovia Norte-Sul e, posteriormente, os braços dessa ferrovia para atingir a produção. Se existe uma produção grande no Oeste da Bahia e no Sudeste tocantinense, esse braço da ferrovia tem que ir até lá. Se nós temos um importante pólo de produção em Campos Lindos, o braço da ferrovia tem que ir lá. Se podemos ligar a produção do Mato Grosso até a Ferrovia Norte-Sul, temos que trazê-la para cá. Se nós podemos fazer um entreposto em Xambioá, para abrigar as barcaças do Rio Araguaia, com um braço até a ferrovia, vamos lutar por isso. O Tocantins, por tudo isso, será um modelo de logística inteligente, se nós conseguirmos viabilizar não somente a ferrovia, mas os braços que vão chegar até os pólos de produção. Por isso, é importante viabilizar as eclusas do Rio Tocantins. Por isso, nós recorremos à Justiça Federal e pedimos a paralisação da construção da Hidrelétrica de Estreito, não por que somos contra o empreendimento. Somos contrários à construção da hidrelétrica sem a eclusa, que vai facilitar a passagem de barcos e navios, que vai facilitar o escoamento de nossa produção e também dos Estados vizinhos. O transporte ferroviário e hidroviário é o mais barato do mundo. Se gastamos 42 dólares para transportar mil toneladas em cada mil quilômetros de rodovia, na hidrovia gastamos apenas 18 dólares e sem poluir o meio ambiente.

A senhora apresentou, Congresso Nacional, um projeto que transforma o Rio Araguaia em rio-parque. Em que consiste esse projeto?

Como parlamentar desenvolvimentista, procuro ajudar o governador Marcelo Miranda e o meu Estado a buscar empresários e a conquistar empregos e indústrias. Sei da importância da geração de energia elétrica e sempre lutei pela construção das hidrelétricas do Tocantins, mas temos alguns limites a observar. O Tocantins tem contribuído muito com a geração de energia, haja vista que já temos a Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães, e estamos praticamente iniciando as de Estreito, São Salvador, Ipueiras e Peixe-Angical. Com todas as usinas prontas, deveremos consumir não mais do que 2 por cento de toda energia gerada. O restante será direcionado para contribuir com o desenvolvimento das indústrias e da geração de emprego no país. Mas nós temos recebido muito pouco em troca disso tudo.

E quanto ao Rio Araguaia?

O Araguaia é totalmente diferente do Tocantins. Enquanto o Tocantins é um rio encaixado, um rio que a natureza nos deu próprio para a construção de hidrelétricas, o Araguaia é totalmente espraiado, tem características muito distintas. Infelizmente, não são todos os que têm a oportunidade de sobrevoar os dois rios para ver as diferenças, mas mesmo de barco é possível percebê-las. O Rio Araguaia tem um potencial muito pequeno para a construção de hidreletricas: um em Santa Isabel e outro próximo de Aruanã, em Goiás. Uma hidrelétrica no Araguaia pode mudar todo o seu leito e degradá-lo definitivamente, acabando, em termos de belezas naturais, com seu potencial turístico-econômico. O Rio Araguaia, ao longo do tempo e nos próximos anos, poderá gerar emprego e renda para as cidades ribeirinhas e para o próprio Estado. Nós temos uma beleza natural riquíssima em biodiversidade. É possível desenvolver também várias modalidades de esportes. O Araguaia não é próprio para se construir hidrelétrica. Ele pode, sim, servir como meio de transporte fluvial, mas do jeito que ele está, sem sofrer interferências em todo seu curso. Mesmo porque a nossa safra é justamente escoada no período das cheias, e as barcaças até 12 mil toneladas poderão fazer o transporte normalmente até Xambioá, onde deve ser feito um entreposto, com um braço até a Ferrovia Norte-Sul, e escoar as mercadorias e produtos pelo Porto de Itaqui, no Maranhão. Nós temos um planejamento para o Rio Araguaia, que apresenta uma enorme área irrigável, que é riquíssima. O projeto não prevê essa proibição, mas a de qualquer obra que venha mudar o curso e o leito do rio.

Em que fase está o projeto?

O projeto de lei está protocolado no Senado. O projeto está sendo avaliado pela Comissão de Meio Ambiente. A relatora é a senadora Marise Serrano, do Mato Grosso do Sul. Apresentei também um projeto de lei que cria a Escola Técnica Federal de Turismo, em Caseara, justamente para usar o rio como laboratório e utilizar o Parque do Cantão. A iniciativa vai possibilitar que os alunos criem projetos auto-sustentáveis e façam a vigilância do rio.

O que existe de concreto em relação à idéia de se construir uma usina hudrelétrica no Rio Araguaia para preocupar tanto a senhora?

Há um projeto já adiantado em Santa Isabel, não de total licenciamento ambiental, mas um projeto de construção civil, que está sendo encaminhado ao Ibama, com pedido de licenciamento. Por isso é que elaboramos o projeto que proíbe a construção de hidrelétrica no Araguaia e estamos fazendo gestões firmes e sistemáticas para evitar mais um desastre ambiental.

 

Fonte: Entrevista concedida ao Jornal Opção