Há um abismo entre a possibilidade e a prática, fruto da desinformação, da falta de preparo e, não raro, de inteligência. E a vontade política parece sempre menor do que a necessidade. Essa é, em síntese, a conclusão que se pode depreender das informações transmitidas por técnicos especialistas que se dedicam há décadas a várias áreas do agronegócio para explicar a vanguarda na produção de alimentos e energia renovável de biomassa e as notícias que colocam o Brasil entre os quatro maiores poluidores do mundo, por causa do desmatamento.
"O País pode triplicar a produção de grãos sem derrubar uma árvore sequer", afirma o gerente-geral da Embrapa Transferência de Tecnologia, José Roberto Rodrigues Peres. "Somente no cerrado, há 50 milhões de pastagens degradadas, uma área maior do que a que se planta hoje. O surgimento de cupim identifica a terra de baixo aproveitamento." A proposta é simples, barata e dá resultados excepcionais de produtividade: a integração da lavoura com a pecuária e a floresta, por meio, principalmente, do plantio direto.
O projeto tem mecanismos tão eficientes que o Brasil, por intermédio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vai coordenar uma rede de cooperação técnica e cientifica para o desenvolvimento de sistemas sustentáveis, a Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF). As ações da rede serão voltadas para áreas alteradas da região tropical sul-americana, envolvendo os ecossistemas amazônico, cerrado e a parte oriental da cordilheira dos Andes. Deverão integrar a rede Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Suriname e Venezuela .
A criação da rede foi decidida durante o seminário internacional Integración tecnológica para el desarrollo de sistemas agrosilvopastoriles para las regiones de Sabanas y Amazônia, realizado na Venezuela em setembro. De acordo com o supervisor da gerência de planejamento e negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia, que deverá coordenar a rede, Luiz Carlos Balbino, os projetos servirão de base para a elaboração de um plano de desenvolvimento para a América Latina. A proposta da rede será apresentada a financiadores internacionais para viabilizar sua execução.
Peres afirma que o potencial e os resultados do sistema ILPF tem atraído a atenção de produtores de países vizinhos e fez com que ganhasse dimensão nacional como programa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. "Em pouco mais de dois anos, cerca de 20 mil produtores de todas as regiões do País, especialmente do cerrado, têm obtido a sustentabilidade da atividade agropecuária com a adoção do sistema." O sistema produtivo é viável tanto em grandes como em pequenas propriedades e consiste em fazer com que culturas agrícolas, gado e floresta sejam integradas e convivam em uma mesma área, a partir da sincronização de suas etapas de produção.
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