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Polí­tica

O prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), concedeu entrevista ao Conexão Tocantins por email e afirmou que sua meta atualmente é concluir o mandato de prefeito, ou, dependendo da conjuntura, se lançar como candidato ao governo do Estado - para isto, ele precisaria renunciar ao atual mandato.

Segundo o petista, não existe preocupação com uma margem percentual segura de intenção de votos, em pesquisa, para que ele renuncie, “o que eu tenho dito, é que se sentir da comunidade o chamado para concorrer ao cargo de governador, não me furtarei. Essa é até minha responsabilidade enquanto gestor. Não há esta história de margem segura pra eu poder concorrer. O que há é o respeito pela intenção que a gente pode sentir da população”, afirmou.

O petista ainda afirma, que, em seu projeto político, não consta o interesse pela vaga de vice-governador em uma eventual chapa majoritária dos partidos da base aliada do presidente Lula no Tocantins.

Na entrevista, Raul Filho também analisa sua administração, fala das divergências com o vereador e correligionário, Bismarque do Movimento, e afirma que o pré-candidato ao governo do Estado e ex-governador, Siqueira Campos (PSDB), é uma liderança que merece ser respeitada sempre, “por sua história, sua capacidade de articulação”.

Confira a íntegra da entrevista

1 Conexão Tocantins - O senhor passou o primeiro mandato inteiro reclamando da herança deixada pela sua antecessora na gestão da prefeitura. Entretanto, neste segundo mandato, há um sentimento na população de que a cidade está parada quando se fala em investimento do poder público municipal. O que mudou neste mandato do senhor em relação ao primeiro?

Raul Filho - Acredito que há um equívoco nessa pergunta. Apesar da situação caótica em que encontramos a Prefeitura de Palmas em 2005, não ficamos reclamando e menos ainda anunciando sobre o caos encontrado. Ao contrário, fomos cuidar de elaborar projetos, aumentar a arrecadação municipal e conseguir meios para captação de recursos federal, diretamente. Em um ano, já tínhamos mudado este cenário, com as contas da Prefeitura organizadas e projetos de captação de recursos diretos, já que não tínhamos representação de parlamentares federais.

Hoje, nossa realidade é outra. A Prefeitura de Palmas é reconhecida e respeitada em todo o País, alcançando destaque nas áreas de educação, saúde, previdência, habitação, políticas sociais e economia solidária, dentre outros. Porém, desde o final do ano de 2008 nos deparamos com cenários difíceis, que independeram da nossa vontade política. Enfrentamos queda no repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), sofremos as consequências da crise financeira internacional e outra vez, tivemos que adequar as ações administrativas a um cenário de incertezas. Mas não paramos em momento algum. Passamos a figurar entre as cidades que mais reduziram a pobreza, temos obras por toda a cidade, aumentamos o número de vagas nas escolas, aumentamos a capacidade de atendimento na rede pública de saúde. Por isso acreditamos que não há este sentimento de que a cidade esteja parada.

2 CT - O primeiro mandato o senhor obteve e uma das promessas era a de construir dois hospitais municipais. Um na área norte de Palmas e outro na área sul. O senhor já está indo para a metade do segundo mandato. Como anda o projeto dos hospitais?

RF - Então, os dois projetos estão em andamento. O da região Sul mais adiantado que o da região Norte. Nos dois casos esbarramos em entraves burocráticos, no Ministério da Saúde, no âmbito Federal. Aqui, enfrentamos problemas com as empresas vencedoras das licitações, que estão pedindo reajustes de preços e o município não pode ceder.

3 CT - No que se refere à relação do senhor com a Câmara Municipal, o vereador Bismarque do Movimento, correligionário do senhor, vinha mantendo uma postura crítica em relação à sua administração, como por exemplo no debate sobre as propostas que resultaram na mudança do nome da Avenida Theotônio Segurado para Avenida Governador Siqueira Campos e no aumento na tarifa de ônibus da cidade. A saída do vereador da liderança do seu bloco de governo na Câmara tem facilitado as iniciativas da sua gestão?

RF - Posturas críticas de parlamentares são comuns e até saudáveis. Pois um gestor que não enfrenta críticas corre o risco de não ter parâmetros pra sua atuação. Nós respeitamos as opiniões do companheiro Bismarque, reconhecemos sua importância, mas divergimos em opiniões. Nada mais do que isto. A saída dele do bloco, não se deu diretamente por ele ter discordado de dois dos nossos projetos, mas por toda uma conjuntura. Por razões pessoais, que não cabe a mim julgar se certas ou erradas, ele preferiu se afastar, e nós respeitamos.

4 CT - Sobre o Pólo de Confecções, também uma proposta de campanha do senhor, o que de concreto se pode dizer para os palmenses que já foi feito? O Pólo se tornará mesmo realidade ou não passa de uma peça de publicidade?

RF - O Pólo de Confecções não vai se tornar, o Pólo já é uma realidade. Tivemos a primeira edição da Feira da Moda de Palmas em dezembro, com grande participação de empresários do setor de confecções, tanto de Palmas, quanto de cidades do interior. Muitas dessas pessoas tiveram seus estoques esgotados. Agora estão trabalhando para compor novos estoques, para a próxima edição. Além disso, contamos com parcerias de instituições como o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Sistema S (SESC, Sebrae, SENAI, Sesi). Daí, eu posso conclui que não se trata apenas de uma peça publicitária, por que senão não teríamos nem os bons resultados, nem os parceiros.

5 CT - Foi realizada no último dia 11, uma reunião com o secretariado para balanço das ações de 2009 e planejamento de 2010. O senhor pode adiantar algumas das metas para este ano?

RF - As reuniões do prefeito com seu grupo de assessores diretos são comuns, fazem parte da rotina de trabalho. Todo início de ano, nos reunimos pra traçar metas, avaliar o exercício anterior e planejar as nossas ações pros próximos meses. Nossa meta é dar celeridade às obras que estão em execução, concluir os hospitais, ampliar o ensino na modalidade integral, ampliar o atendimento em saúde, tanto em quantidade, quanto em qualidade e complexidade.

6 CT - A Prefeitura de Palmas foi afetada pela queda no repasse do FPM em 2009 em que proporção? Que medidas o senhor tomou para compensar as perdas?

RF - Muitos municípios tiveram que parar seus investimentos. Porém, aqui em Palmas, apenas diminuímos o ritmo de algumas ações, priorizamos outras e ainda adotamos uma posição mais austera em relação a investimentos. Também racionamos o consumo de serviços – água, luz, telefone – e dessa forma reduzimos gastos e mantivemos nossa capacidade de trabalho.

7 CT - O que o governo do Estado pode fazer para ajudar os municípios a equilibrarem suas contas?

RF - Trabalhar de forma planejada e em parceria é imperativo para toda administração. Porém, não existe uma fórmula única a ser aplicada. É necessário conhecer a realidade e respeitar o perfil do administrador.

8 CT - Qual a avaliação do senhor sobre administração do governador Carlos Gaguim?

RF - O Governador tem se mostrado um homem decidido e trabalhador, como deve ser todo administrado público. Mas, não me vejo na condição de avaliar, mas somente de nos colocar à disposição para um trabalho em parceria, que tenha como finalidade o desenvolvimento de Palmas e do Tocantins.

9 CT - O senhor colocou o nome à disposição e a Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores no Tocantins, em reunião no final deste ano passado, decidiu apresentá-lo como pré-candidato ao governo do Estado. Entretanto, repetindo o que fez durante o período pré-eleitoral para disputa à reeleição para a prefeitura, o senhor vem alimentando ultimamente uma certa indefinição quanto a se candidatar. Tem dito que sua candidatura ainda depende da análise das pesquisas de intenção de votos. Qual margem percentual de intenção de votos o senhor acha que seria segura em uma pesquisa para lhe propiciar renunciar ao cargo atual e se candidatar para vencer, sem risco de ficar apeado do poder?

RF - Na qualidade de homem público, político, eu tenho sim pretensão de chegar ao Governo Estadual. Acredito que seja este o objetivo de todo gestor; desenvolver um bom trabalho, que possa alçá-lo a outros cargos. Porém, não pretendo apenas me manter no poder. O meu desejo não é o de poder, mas o de continuar trabalhando e dar sequência ao projeto de desenvolvimento que iniciamos em Palmas. A intenção é poder expandi-lo para o Estado.

Porém, o que eu tenho dito, é que se sentir da comunidade o chamado para concorrer ao cargo de governador, não me furtarei. Essa é até minha responsabilidade enquanto gestor. Não há esta história de margem segura pra eu poder concorrer. O que há é o respeito pela intenção que a gente pode sentir da população.

10 CT - O governador Carlos Gaguim disse recentemente que a disputa pelo governo estadual será polarizada entre os candidatos que tiverem apoio de José Serra (PSDB) de um lado, e do presidente Lula do outro. O senhor concorda com este ponto de vista?

RF - O que sei é que a política é muito dinâmica. Muda conforme se aproxima da realização do pleito. Mas é normal uma polarização entre dois candidatos que se opõe. Vamos esperar pra ver o que vai acontecer.

11 CT - O Partido dos Trabalhadores se interessa por uma composição na chapa majoritária de partidos da base do presidente Lula no Estado que lhe reserve a vaga da vice-governadoria?

RF - Em meu projeto político não consta o interesse pela vaga de vice-governador. Não por desmerecer o cargo, que é muito honroso para qualquer cidadão. Mas é que a gente estabelece metas e a minha, atualmente, é, ou de continuar Prefeito de Palmas e concluir o mandato, ou dependendo da conjuntura, me lançar ao governo estadual.

12 CT - Segundo uma pesquisa divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo no final deste ano passado, o ex-governador Siqueira Campos (PSDB), um dos pré-candidatos ao governo, tem 31% de intenção de votos na modalidade estimulada. Em 2005, exatamente um ano antes das eleições de 2006, pesquisas na mesma modalidade mostravam o ex-governador com 70% de intenções de voto e ele acabou sendo derrotado pelo ex-governador Marcelo Miranda (PMDB). Naquela oportunidade Siqueira ainda contava, também, com uma forte coligação partidária, diferente do atual momento, onde ele tenta juntar os cacos. Na opinião do senhor, o velho Siqueira já faz parte da história e será fácil derrotá-lo, ou ele ainda é um duro oponente?

RF - Não existem opositores fracos. E não é só na política, é na vida. E o ex-governador Siqueira Campos é uma liderança que merece ser respeitada sempre, por sua história, sua capacidade de articulação. Ele se mantém no cenário após oito anos sem mandato. Não dá pra diminuir a importância de uma pessoa com essas prerrogativas.

13 CT - O governador Carlos Gaguim (PMDB), apesar do curto espaço de tempo à frente do governo, foi avaliado nesta mesma pesquisa do jornal Folha de S. Paulo com intenção de votos de 16% na modalidade estimulada. Os aliados do governador ficaram satisfeitos com o resultado e avaliam que ele só não será candidato à reeleição se não quiser. Sendo o PMDB da base do presidente Lula e caso o senhor venha refluir da sua pré-candidatura, poderia vir a apoiá-lo ou o senhor prefere o senador João Ribeiro (PR) também da base do presidente Lula, mas que não foi bem avaliado na referida pesquisa?

RF - Primeiro, a pesquisa reflete o momento e o governador Carlos Henrique Gaguim está em bastante evidência. Pouco tempo de mandato, muito trabalho e a pré-candidatura ainda não definida. Por outro lado, o senador João Ribeiro já está com o nome à disposição para disputar o governo 2010 há bastante tempo. Não tenho uma preferência, avalio apenas que os dois são homens valorosos, com boas condições para a disputa e para exercer o governo estadual.