Desde o início do período de estiagem, a cidade de Palmas vem sendo castigada diariamente por uma nuvem de poeira e fumaça que se aglomeram no horizonte. Quem parar para olhar a plana capital do Tocantins, principalmente no início da manhã, irá notar a densa camada de fumaça e poeira encobrindo os edifícios. Além do mal cheiro, a poluição do ar ainda pode trazer diversos problemas de saúde para a população.
De acordo com a professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Karina do Valle Marques, que desenvolve pesquisas na área de poluição e saúde humana com o grupo de pesquisa em poluição do ar da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP), mesmo Palmas não sofrendo com a emissão de gases como o monóxido de carbono e o enxofre (advindos da ação de automóveis e indústrias), a queima de matéria orgânica pelas queimadas no entorno e dentro da cidade, também são causadoras de problemas de saúde principalmente em crianças e idosos.
Dentre os males causados pela inalação constante da fumaça causada pelas queimadas, estão problemas respiratórios, irritação nos olhos, garganta e vias nasais, acentuação de problemas crônicos como a rinite e a bronquite asmática, entre outros. A professora, no entanto, alertou para problemas mais sérios que podem ser causados pela inalação da fumaça.
Segundo Karina, a dificuldade em respirar aumenta os batimentos cardíacos, causando arritmia. Além disto, a inalação da fumaça diminui a produção de neurônios cardíacos, que são os responsáveis pelocontrole dos batimentos do coração, causando sérios danos cardiovasculares às pessoas. O cérebro também pode ser afetado pela constante absorção da fumaça que paira sobre a cidade. Segundo a professora da UFT, a poluição tem o poder de atravessar a barreira hematoencefálica, podendo causar sérios danos cerebrais. “Muitas vezes, sintomas que parecem corriqueiros como ardência nos olhos, nariz e garganta, podem ser causas de um problema mais sério”, alertou.
Inversão térmica e horários críticos para atividade física
O ar quente sempre tenderá a subir, enquanto o ar frio, mais pesado, tem a tendência de descer. Ao amanhecer, quando o sol começa a esquentar o solo, o ar mais próximo do chão sobe, levando com ele a carga de poeira e fumaça concentrada. Já na parte da noite, com solo mais frio, a tendência é que o ar não suba e a poeira, juntamente com a fumaça das queimadas, permaneça em um nível mais baixo de altitude. Este fenômeno é chamado “inversão térmica”.
Por conta disto, a professora Karina do Valle informou que os horários mais críticos de concentração de fumaça próximo ao chão, são justamente os preferidos da população na hora de praticar esportes como a caminhada, ou seja, à noite e no princípio da manhã, quando o Sol não aquece o solo. “Por isso é recomendável que as pessoas evitem fazer suas caminhadas nesses períodos, para evitar maior inalação de poluição”, explicou.
Alerta
A professora ainda frisou que é necessário que sejam tomadas providências urgentes para que a poluição causada pelas queimadas não se transformem em caso de Saúde Pública. De acordo com Karina, a população precisa evitar queimar qualquer tipo de resíduo em suas residências. Além disto, ela pediu que as autoridades intensifiquem programas de conscientização da população quanto aos riscos que as queimadas trazem à saúde.
Ações
A Defesa Civil informou que no período de estiagem, entre junho e novembro, vem as entidades responsáveis vem atuando com foco prioritário no combate aos focos de incêndio. De acordo com a Capitã Mariellen, uma das responsáveis pelas ações da Defesa Civil, desde o início do semestre foi formado o Centro Integrado de Multiagências (CIMAN), que visa ações combate às queimadas.
O Centro é integrado pela Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Naturatins e outros órgãos do governo que ficam a encargo de mapear e organizar o operacional para apagar os focos de incêndio. De acordo com a capitã,as medidas preventivas vem sendo tomadas desde o início do ano através do Programa de Ações de Controle de Queimadas do Tocantins (Paqcto), através de ações em escolas, municípios e eventos.
Além disto, continuam as aplicações de penalidades a proprietários de imóveis (urbanos e rurais) que desrespeitarem a legislação no que tange queimadas controladas. “Toda queimada, em zona rural, só é permitida com autorização do Naturatins e depois da comprovação de diversas normas de segurança. Nas cidades é proibido qualquer tipo de fogo, seja em lixou, ou folhas secas”, completou. Cabe ressaltar que qualquer pessoa que desrespeitar a legislação, é passível de aplicação de multa.