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Campo

Foto: Aldemar Ribeiro

Foto: Aldemar Ribeiro

Destaque na produção de grãos, sementes e maior produtora de melancia do Brasil, a região do Vale do Araguaia configura como uma das mais produtivas do Tocantins. Conforme os dados oficiais da Secretaria de Estado de  Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária (Seagro) , 15% do arroz produzido no país, por exemplo, estão concentrados naquela região, que também produz mais de 70 mil hectares de arroz irrigado, uma média de 100 sacas por hectare, cerca de 45 mil hectares de soja, no período da entressafra, além de uma média de 15 mil hectares de melancia por ano.

Segundo estudos da Embrapa, o Vale do Araguaia constitui-se em uma das regiões mais promissoras para a expansão da orizicultura brasileira, com condições para atendimento do mercado das Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Ao todo, o Tocantins possui uma área para irrigação de 4.437.000 ha, abrangendo 30,4% da região Norte e 15% do total do Brasil.

Os municípios de Lagoa da Confusão, Formoso do Araguaia, Pium, Santa Rita do Tocantins e Dueré foram incluídos na Portaria 294/14 da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), revogada em fevereiro, que trata da posse de um território de mais de 1,6 milhão de hectares pela União. Prefeitos, empresários, representantes sindicais e de associações dos municípios das áreas afetadas se mobilizam na defesa da região junto ao governo federal e manutenção da titularidade das terras para o Estado do Tocantins. A área em questão abrange ainda seis municípios do Mato Grosso.

Em reunião realizada entre o governador Marcelo Miranda e representantes da região, o chefe do Executivo colocou toda a equipe técnica do Estado à disposição para elaborar diagnósticos econômico, social e ambiental e defendeu a realização de um reordenamento territorial.

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Tocantins (Faet), Paulo Carneiro, a retirada da posse dos produtores da região para a União traria prejuízos econômicos e sociais para todo o setor agropecuário do Tocantins. “A economia do Estado perderia muito em áreas irrigáveis, todos os produtores têm os documentos das terras, aquela região tem forte impacto na produção interna e abastece outros locais do país”, avaliou Paulo Carneiro.

Produtividade

O presidente do Sindicato Rural dos Produtores da Lagoa da Confusão, Nelson Alves Moreira, ressalta a alta produtividade das terras da região. “É uma terra extremamente produtiva que entre os quase seis mil municípios do país está em terceiro no ranking de produção de arroz irrigado. Além disso, temos produtores que carregam mais de 100  caminhões de melancia por dia, gerando emprego, renda e contribuindo para o desenvolvimento do Tocantins”, disse.

Ainda conforme o Sindicato, a regularização fundiária dos mais de 100 produtores da área aconteceu há 60 anos. “Todos os produtores têm os títulos. Outro dado importante é que dentre os 100 municípios que mais contribuem para o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do Brasil, o município de Lagoa da Confusão é o 74º no ranking, o que mostra o destaque que a região tem”, citou.

Estudos mostram que na entressafra são produzidas comercialmente e, com qualidade diferenciada, culturas graníferas, principalmente para sementes, tais como: soja, feijão, sorgo, milho, amendoim, girassol e gergelim; hortifrutigranjeiros como: melancia, melão, pepino, abóbora, entre outros; não tendo sido observado, até então, nenhuma doença foliar, transmitida pela semente, nessas culturas.

A qualidade e potencial agrícola da produção na região compreendida na Portaria também devem ser levados em conta segundo a presidente da Associação de Produtores e Sementes da região, Pedromária de Melo. “Criamos um grupo onde estamos realizando um estudo para mostrar, tecnicamente, que a bacia do Rio Formoso é a responsável por irrigar todos os projetos e que o grande potencial agrícola da região não pode ser ameaçado por uma portaria. Já está comprovado o destaque da riqueza do solo, de ambiente e da água da região”, frisou. Ao comentar sobre as várzeas tropicais, a presidente ressaltou que as melhores sementes do mundo são produzidas nessa área. Conforme dados da Seagro, o Tocantins evoluiu de 24 mil hectares para mais de 54 mil áreas de sementes produzidas.

O secretário de Estado de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária, Clemente Barros, afirmou que tem participado de constantes reuniões em Brasília para tratar também da portaria. “Nos incluíram na mesma situação do Mato Grosso e isso não pode. Essa região produtiva dos municípios de Pium, Lagoa, Dueré e Formoso é protegida pela Ilha do Bananal, os projetos de irrigação tiram água de lá para fora. O Prodoeste, na região, não teria sido aprovado se tivesse algum problema ou risco”, ressaltou.

O titular da Seagro reafirmou ainda que uma equipe está verificando in loco a produção das áreas. “Nessa área, a situação regularizada, os títulos foram liberados ainda no tempo de Goiás. O Projeto Rio Formoso, por exemplo, há dezenas de anos está dentro da área e nunca houve contestação de áreas alagadas”, frisou.

O secretário citou ainda que a produtividade da região aumenta a cada dia. “Temos mais de 200 produtores produzindo sementes e vendendo mais de 2 milhões de hectares para Bahia, Piauí e Maranhão. Além disso, uma indústria de beneficiamento de arroz já está se instalando lá”, revelou.

Levantamento

Levantamentos recentes indicam que, somente no Vale do Araguaia, existem 1,2 milhão de hectares de várzeas tropicais planas, com alto teor de matéria orgânica, em condições de serem utilizadas para irrigação.

Nas várzeas do Vale do Araguaia, pela característica peculiar de seus solos, que possuem alta condutividade hidráulica, a irrigação por subirrigação tem sido a mais adotada para o cultivo de culturas anuais. Nesse método de irrigação (subirrigação), a umidade atinge as raízes das plantas por ascensão capilar. Assim, por não molhar as folhas, não favorece a dispersão dos patógenos da parte aérea, sendo o seu emprego, altamente recomendável na produção de sementes sadias.

É possível produzir no Tocantins, nas planícies tropicais, otimizando as áreas e recursos, bem como com uma qualidade peculiar. As sementes de soja produzidas nas várzeas do Vale estão sendo comercializadas acima do padrão mínimo nacional, em função do curto período de armazenamento.