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Opinião

Foto: Divulgação

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As crises surgem, fazem estragos, mas acabam sendo superadas, com maiores ou menores sacrifícios do povo. O que preocupa é o difícil aprendizado para evitar a próxima ou amenizar os efeitos.

Lamentavelmente, a crise atual é essencialmente de moral política e de administração pública. Estamos assistindo à subversão de valores éticos e ao mesmo tempo notando certa indiferença dos brasileiros, como se tudo isso seja normal ou que não haja solução; punem-se uns, surgem outros agentes dos desvios que levam a situações danosas para toda a sociedade.

Acredito que solução existe, porém é preciso repensar a política, há necessidade de mudar e urgência em iniciar a mudança. Se esta geração política está contaminada, preparemos então a próxima, pois se isto fosse feito há mais tempo não estaríamos hoje lamentando.

Devido à continuidade de gerações perniciosas que deturparam em proveito próprio os reais valores políticos, a geração que está em formação se frustra, perde o interesse em participar e se mantém alheia.

É notória a aversão dos jovens à política, chega quase ao desprezo, o qual deveria ser dirigido aos maus políticos e não à ciência e arte que é a política, importante e necessária à condução dos destinos da humanidade desde a antiguidade. Para se entender a indiferença é preciso analisar que nossa juventude não gosta de política porque não a compreende e por desconhecer a verdadeira essência, seus reais valores. Portanto, comecemos mostrando os fundamentos e a importância da participação no processo político para administração do nosso país. É uma tarefa quase didática e por isso deve então começar desde o período escolar.

Tenho pregado proposta no sentido de se ministrar política como matéria escolar, exatamente para pessoas que formarão as próximas gerações brasileiras. A sugestão é a implantação da disciplina Formação Cidadã como matéria ou módulo curricular obrigatório no segundo grau em todo o Brasil, enfocando princípios básicos de política, ética e responsabilidade social, utilizando-se para isso a rede regular de ensino e também o sistema de educação a distância.

Para maior credibilidade e isenção como projeto de estado e não de governo, o conteúdo deve ser preparado por instituição não governamental, como a OAB, que certamente estará disposta a colaborar e tem nos seus quadros professores, especialistas e mestres em questões inerentes às matérias requeridas. É necessário também estabelecer que esse conteúdo seja unificado para todo o país a fim de prevenir que professores ao ministrar a matéria venham a incluir ideologias pessoais.

Em décadas passadas houve matéria regular obrigatória que ensinava conceitos básicos de organização social, princípios de civismo e fundamentos de política que é ciência indispensável à cidadania, pois em tudo está presente, até no cotidiano pessoal, profissional e de participação. Não se trata de retomar aquele caminho, porém implantar um projeto contemporâneo, noutros moldes, a fim de despertar na juventude o interesse na efetiva participação política.

Para se fazer isso custa quase nada e os resultados serão imensamente gratificantes porque será ensinado à nossa juventude que política existe para o cidadão servir a seu país e seu povo, não para servir-se, porque quando se vê a repetição de absurdos tem-se a impressão de que políticos de seguidas gerações entendem ser política o caminho natural para realização de satisfação do interesse individual e não do bem público coletivo.

A solução está em erradicar os conceitos viciados e formar uma nova geração. Ou a situação continuará lamentável por muitas décadas, até que alguém acorde, decida e faça... 

Luiz Carlos Borges da Silveira é médico, ex-ministro da Saúde, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Tocantins e ex-secretário do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Emprego do Município de Palmas-TO