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Foto: Divulgação

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Apesar de estatisticamente o Tocantins apresentar produtividade média acima da brasileira na cultura agrícola da mandioca, é possível produzir mais e melhor. Apostando nesse e em outros aspectos ligados ao próprio manejo da planta, a Embrapa e instituições parceiras vêm testando 28 variedades comumente plantadas no estado. Os primeiros resultados do experimento, feito em Palmas, apontam para uma diversidade de "campeãs", variando de acordo com o tempo de colheita, o tempo de cozimento e o tipo (se a mandioca é de mesa ou para indústria). Entre elas, destacaram-se, para mesa, a BRS 396, da Embrapa, e para a indústria, a Jaibara e a Galheira.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na safra 2015, foram 18,8 toneladas por hectare no estado contra 15,2 toneladas por hectare da produtividade média brasileira. A pesquisa quer, ao realizar testes, indicar variedades mais propícias para as condições em que estão sendo experimentadas. Com isso, o produtor rural tocantinense que cultiva mandioca contará com informações mais confiáveis do ponto de vista científico. Assim, a experiência do vizinho será acrescida de resultados técnicos que poderão aprimorar a atividade.

As primeiras colheitas feitas no experimento, ainda em 2015, revelaram que das variedades de mandioca de mesa estudadas, cinco alcançaram produtividade média acima da verificada no ano anterior no estado, com destaque para a BRS 396, que apresentou 25,6 toneladas por hectare. Além disso, todas as 14 variedades de mesa estudadas nesse experimento tiveram cozimento em até 30 minutos sob condições de água fervente e sem pressão, característica desejável nesse tipo de mandioca. Esses resultados foram encontrados na colheita aos seis meses.

Quando a colheita foi realizada aos oito meses, seis variedades apresentaram produtividade maior que a média do Tocantins. Dessas, quatro foram as mesmas da colheita anterior. Novamente, o destaque ficou com a BRS 396, que apresentou praticamente o mesmo rendimento médio (25,7 toneladas/hectare). Um aspecto que diferenciou os resultados entre as duas colheitas foi o fato de que, aos oito meses, apenas duas variedades tiveram cozimento em até 30 minutos.

Já com relação às variedades de mandioca para a indústria, colhidas aos nove meses, também foram testadas 14 delas e sete alcançaram produtividade acima da média do estado em 2015. O destaque foi para Jaibara, que rendeu 27 toneladas por hectare. Nesse tipo de mandioca, a porcentagem de amido é uma característica muito importante, por causa da produção da fécula e da farinha. Entre as sete variedades mais produtivas, o teor de amido variou entre 29,7% e 34,65%. Esta última foi a Galheira, que apresentou também a segunda maior média de produtividade.

Em 2016, houve novas colheitas no primeiro experimento e os resultados estão sendo analisados. Além desse primeiro local, em outros estão sendo conduzidos experimentos com o mesmo objetivo de avaliar o desempenho de variedades de mandioca comumente plantadas pelos produtores tocantinenses. A Embrapa tem divulgado, no estado, a importância de o produtor estar atento à busca de manivas com qualidade fitossanitária, ou seja, que sejam livres de doenças, levando a produtividades maiores. Recomendações simples de manejo, como espaçamento adequado entre as plantas e capinas periódicas pelo menos nos cinco primeiros meses após o plantio, também colaboram para melhorar o desempenho produtivo da mandioca.

Evolução na atividade

A produção no Tocantins em 2015, de acordo com números do IBGE, foi de quase 260 mil toneladas de mandioca. Com esse número, o estado foi apenas o 19º produtor nacional. O campeão na produção foi o Pará, com mais de 4,8 milhões de toneladas, seguido pelo Paraná, com mais de 3,9 milhões. Em termos de produtividade, o Pará chegou a 15,2 toneladas por hectare, enquanto o Paraná obteve 27,6 toneladas por hectare.

O pesquisador Gustavo Azevedo Campos, participante do núcleo temático de pesquisa em Sistemas Agrícolas Integrados, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), descreve os desafios para a cultura no estado: "O pessoal da assistência técnica tem relatado a seguinte questão: a produção da mandioca, embora aceitável, ainda é baixa. Precisa ser maior para conseguirmos um retorno econômico adequado. Outro gargalo enorme é quanto à disponibilidade de maniva-semente na época de plantio, pois não há o suficiente. E, quando tem, não é um produto de qualidade, com sanidade, livre de vírus e de bacteriose".

Campos acredita que essa pesquisa aliada à transferência de tecnologias já existente vai permitir  mudar a realidade dos agricultores. "Poderemos auxiliar os extensionistas a levar aos produtores, nessa rede de trabalho, soluções práticas que os tirem de uma situação de baixa produtividade e de baixa renda para uma realidade de equilíbrio financeiro e de produtividade sustentável", espera.

A fim de aprimorar a cultura da mandioca no Tocantins, a Embrapa conta com a parceria de diversas instituições, cada uma em sua área de atuação. Uma das parceiras é a Secretaria de Desenvolvimento Rural (Seder) de Palmas, capital do estado. Segundo o agrônomo Luiz Machado, da Seder, o envolvimento dos produtores está relacionado aos bons resultados obtidos. "Até o momento, muitas informações importantes são baseadas em suas próprias experiências ou nas experiências de um produtor vizinho. Há bastante procura de produtores interessados em tornar-se um mandiocultor, e outros querendo aumentar sua eficiência produtiva e também o tamanho das áreas cultivadas", relata Machado.

O agrônomo também aposta no trabalho: "Uma das principais dúvidas de quem vai cultivar mandioca é saber qual a melhor variedade. E acredito que numa proposta   como essa, em que estão sendo avaliadas 28 variedades, existe a possibilidade de conhecer melhor as características de cada uma delas, tanto quanto aos aspectos produtivos, quanto às características das plantas. Isso subsidiará bastante o produtor na sua escolha, conforme a finalidade de sua produção, disponibilidade de recursos e equipamentos".

O pesquisador Gustavo Campos se mostra animado com os resultados do projeto, iniciado em 2014 e que cada vez mais conta com novos parceiros. "Ficamos muito motivados. Os problemas ficam pequenos quando conseguimos ver esses resultados positivos e também que tantas pessoas conseguem sair de uma situação às vezes não tão positiva para uma situação muito melhor de produção, de fartura e de prosperidade", afirma.