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Turismo & Lazer

Foto: Carlessandro Souza e as demais de Carlos Eller

De um lado a mata do Cerrado, com as suas conhecidas árvores tortas pela influência do solo e do clima; do outro lado, a Floresta Amazônica com sua vegetação inundada, cheia de nós dos cipós e das lianas. Assim começa a aventura que é conhecer e fazer turismo no Parque Estadual do Cantão, um cantinho verde na bacia do Rio Araguaia, de quase 90 mil hectares preservados no coração do Brasil.

O Cantão fica no Estado do Tocantins e é uma região de transição que abriga três ecossistemas: Cerrado, Floresta Amazônica e Pantanal. É o lugar perfeito para quem ama o ecoturismo; quer conhecer a região de maior biodiversidade do país; descobrir os segredos da mata; contemplar o boto do Araguaia; apreciar o canto de inúmeras espécies de pássaros que colorem os céus; se encantar com uma paisagem surreal do pôr do sol com uma junção entre o firmamento e as águas dos rios Coco, Javaés e Araguaia; saborear um murici no pé; passear de voadeira; comer uma comidinha feita no fogão a lenha; e se emocionar com a beleza natural da floresta. São atrações únicas para o turista que busca uma conexão direta com a natureza. Pequenos prazeres inusitados, sensações indescritíveis.

O ponto de partida para explorar o Cantão é a cidade de Caseara, município de quase 5 mil habitantes, às margens do rios Araguaia e Coco, distante cerca de 230 km de Palmas, a capital do Tocantins. O acesso à cidade é realizado por rodovia pavimentada que está em ótimas condições de trafegabilidade. A partir de Caseara, os únicos meios de locomoção do turista são as embarcações: voadeiras, canoas indígenas e caiaques, que percorrem as caudalosas águas do Cantão e adentram em um cenário paradisíaco composto por mais de 830 lagoas e braços de rios.

Neste ponto, começa a trilha aquática, um passeio navegável pelos igapós - floresta que fica inundada de dezembro a março, período das cheias na região. Os rios sobem em média 10 metros e as embarcações navegam próximas ao topo das árvores, uma experiência ímpar onde o turista tem a oportunidade de contemplar a beleza dos pássaros, ouvir os sons da mata e ver os varjões – espécie de pradarias de vegetação flutuante, que abrigam grande diversidade florística e acolhem, para reprodução, as famosas ciganas, lindos pássaros que vivem no Cantão.

Em mais de duas horas navegando, quem visita o Parque Estadual do Cantão conhece alguns lagos que são como berçários do Araguaia e locais para reprodução de muitas espécies de peixes, dentre eles o pirarucu, típico da região amazônica e um dos maiores peixes de água doce do planeta. O caminho é todo entrecortado por trilhas aquáticas, lagos, braços de rios e varjões. Na paisagem, o turista avista alguns torrões – pedaços de terras não inundadas onde vivem os torrãozeiros, ribeirinhos que habitavam o Parque Estadual do Cantão antes do seu tombamento como Área de Preservação Ambiental (APA), em 1998.

Em um desses torrões, o viajante tem a oportunidade de experimentar um pernoite na floresta e de conhecer o Seu Levi, torrãozeiro que recebe pessoas de todo o Brasil e do mundo na sua casa à margem do rio Coco, onde vive há mais de 30 anos. O ribeirinho acolhe os turistas e disse que tem alegria em receber os visitantes. “É bom demais poder oferecer uma janta, uma comida para quem vem na minha casa. Já veio gente aqui da Espanha, dos Estados Unidos, do Japão, da Alemanha”, contou.

Em seu quintal, gatos, cachorros e galinhas vivem harmonicamente cercados por jacarés. No escuro da noite, regada por uma lamparina, o turista saboreia uma comida caseira feita no fogão a lenha e ouve as histórias dos ribeirinhos na companhia da luz das estrelas e dos sons dos animais da mata. Se der sorte, pode ouvir até o esturro da onça. Enquanto a prosa acontece, no rio, bem pertinho, o jacaré-açu repousa na margem. É neste momento, na convivência com o cotidiano dos torrãozeiros, que o turista vivencia a experiência do modo de vida do ribeirinho. Tudo muito rústico, muito natural e muito íntimo.

E, no breu da floresta, o viajante passa a sua noite em uma barraca, com cama de campanha. Na mata, o dia amanhece cedo. A lida dos ribeirinhos começa com os primeiros raios de sol e o café da manhã é servido na cozinha de chão batido do Seu Levi. Mais histórias, mais vivências e, na hora da partida, a lembrança de um sorriso largo e acolhedor de um homem simples, mas com muita bagagem para ensinar.

O servidor público federal Francisco Carlos Leal e o economista irlandês Thomas Giblin são viajantes apaixonados por ecoturismo e encontraram no Cantão um ambiente de relaxamento e de convivência com natureza. “Aqui, existem elementos de safari de ficar dentro do mato olhando os pássaros. Eu vi mais de quinze diferentes tipos de pássaros. A diversidade da natureza tão rica e, no dia a dia, despercebemos e não valorizamos. Tivemos a oportunidade de ver como é a vida de quem mora na beira do rio", destacou Thomaz. Os dois já estiveram na Amazônia, no Pantanal e na Mongólia. São praticantes de ecoturismo e amam trilhagem pela mata. As suas viagens “têm sempre o mesmo princípio o encontro com a natureza e perceber a importância da preservação da natureza e de como as pessoas vivem. Isso é uma riqueza muito grande e uma maneira de compreender melhor o mundo”, apontou Francisco, que também comenta que o próximo destino do dois é o Jalapão, que também fica no estado do Tocantins.

Barco na água e é hora de navegar até o píer da Unidade de Conservação do Parque Estadual do Cantão e percorrer uma trilha para conhecer o complexo, que é administrado pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) e conta com o Centro de Recepção do Turista, um espaço com auditório para palestras e exibição de vídeos, atendimento informativo sobre os projetos de preservação da região e as ações governamentais executadas no Cantão e lojinha de artesanato local. Além disso, na unidade, o turista pode praticar arvorismo e tirolesa, participar de práticas esportivas de aventura, nas estruturas que foram construídas na mata fechada. São desafios com vários níveis de dificuldades em duas bases: infantil e adulto. Adrenalina e diversão nas alturas, nas árvores do Parque Estadual do Cantão.

A unidade conta com trilhas terrestres para visitação, dentre elas a trilha que leva à Cabana, construção erguida às margens do rio e que serviu de locação para o filme Xingu. Após a caminhada, ao pôr do sol, o píer é base de contemplação do boto do Araguaia, o Inia Araguaiaensis, que exibe seu nado acrobático nas calmas águas do Rio Coco, no dourado do sol poente. Jacarés, tartarugas e ariranhas se juntam ao boto para a alegria dos turistas que podem ver tamanha diversidade. Todo esse ecossistema é preservado e considerado uma das áreas mais importantes da amazônia brasileira, abrigando um berçário de reprodução natural e de riqueza biológica.

tour termina no porto do Horácio, na cidade de Caseara, sem souvenir, sem espaço para compras de lembranças. Na bagagem de volta, a mente em paz e como recordação os cliques fotográficos de cada animal exótico, de cada ribeirinho acolhedor, da simpatia contagiante dos barqueiros e do profissionalismo de uma operadora de viagem local, que tem parceria com o Governo do Tocantins e que promove o Turismo de Experiência do Cantão, que mais do que experimentar situações, desperta os sentidos. A viagem é realizada com o acompanhamento de um guia de turismo local. Os barqueiros também são todos nativos da região e conhecedores das belezas naturais do Cantão e do fluxo das águas dos rios que cortam a paisagem. O passeio acontece em um clima de muita descontração e amizade, com a contação de muitas histórias e lendas. 

Para o turismólogo e empresário Leonardo Azevedo, da operadora de turismo, o aproveitamento da mão de obra local é mais do que gerar a oferta de empregos na região. “Nossa equipe nasceu e cresceu às margens desses rios, eles conhecem cada canto mágico do Cantão”. Ele explica que trabalha com o turismo sustentável, que proporciona a geração de renda para as pessoas. É o morador local que acompanha o turista nas atividades ao ar livre. A proposta de visita ao Cantão é o turismo de experiência onde é “vivenciado o dia a dia dos moradores que não têm energia elétrica. É um tipo de turismo, em que se saí da zona de conforto. É comer com o prato na mão, é ajudar a fazer a comida no fogão a lenha”, pontuou Leonardo.

No ano de 2106, mais de 200 grupos visitaram o Parque Estadual do Cantão. Pessoas oriundas de diversas regiões do Brasil e do mundo. Amantes do ecoturismo, pessoas em busca de contato com a natureza. De São Paulo, Marta Fernandes, Julio Barbero e Mario Hilsenrath vivenciaram a experiência de vir conhecer uma Amazônia cheia que eles só viam na televisão. “No pernoite no Seu Levi, tomamos um banho no chuveirão com a água que vem do rio onde o jacaré estava. Ouvimos histórias que levaremos conosco pra sempre. Vimos como ele vive na mata e como planta a mandioca, a abóbora e a melancia”, disse Marta. O grupo é apaixonado por ecoturismo e já estiveram em Bonito, na Chapada dos Veadeiros, no Petar e no Jalapão, destino que amaram e recomendam.

Visitar o Cantão é compreender o jargão popular que a Amazônia é o pulmão do mundo e entender a dimensão do que significa preservar a área e as espécies que habitam a região. Visitar o Cantão é se permitir ter um contato íntimo com a natureza e quiçá dizer com o Criador também, pois só mesmo algo tão grandioso e acima da compreensão humana poderia desenhar um pedacinho de paraíso como o Cantão. No coração da floresta, a vida pulsa; na alma viajante, o Cantão emociona o coração do turista que ama a natureza!  (Secom TO)