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Estado

Foto: Loise Maria Evane, moradora do acampamento Padre Josimo, nas cinzas do incêncio cujas causas ainda estão sob investigação Evane, moradora do acampamento Padre Josimo, nas cinzas do incêncio cujas causas ainda estão sob investigação

Olhando as cinzas do barraco em que vivia com seus seis filhos, o mais velho com 21 anos e a mais nova com nove meses, a lavradora Evane Sousa Silva, 33 anos, fala da tristeza em perder o pouco que tinha em um incêndio. “Tinha cama, prateleira, fogão, berço, carrinho de bebê, cadeiras, rede e roupa, arroz. Foi triste ver as nossas coisas queimadas, ficar sem nada”.

Ela e outras 80 famílias resistem na luta por terra no Acampamento Padre Josimo, em Carrasco Bonito, a 647 Km de Palmas, na região do Bico do Papagaio. As causas desse incêndio, ocorrido em 14 de agosto, ainda estão sob investigação.

Com um modo de vida comunitário, os lavradores reconstruíram as moradias em mutirão, onde uns ajudam com mão-de-obra. A madeira e palha, por exemplo, são coletadas na área do acampamento. Após o incêndio, os acampados se uniram para ajudar todos da comunidade, e após morar alguns dias com outra família, Evane recebeu um novo barraco, além de comida, utensílios de casa, colchão e roupas.

“Ainda tenho uma esperançinha, porque ainda estou aqui dentro. Eu queria a terra para os meus os filhos, para eles trabalharem. Eu não tenho estudo, meus filhos também não. Por isso acho que eles vão ter um futuro melhor na roça”, disse a lavradora que, assim como os demais acampados, é assistida pela Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO).

O incêndio no acampamento não deixou vítimas fatais, mas destruiu muitos barracos. Algumas famílias perderam todos os seus pertences, além de uma grande quantidade de alimentos, já que seis alqueires plantados também foram atingidos pelas chamas.

Atendimentos 

Medidas importantes estão sendo tomadas pela DPE no Acampamento. A comunidade está sendo acompanhada pelo Núcleo Aplicado das Minorias e Ações Coletivas (NUAmac) de Araguaína e pelo Núcleo da Defensoria Pública Agrária (DPAgra). Os acampados tiveram atendimento jurídico da DPE na época do incêndio e, mais recentemente, no último dia 26.

Os acampados falaram de dificuldades para registrar boletim de ocorrência na localidade e solicitaram a atuação da DPE-TO para resolver esse problema. As famílias foram orientadas sobre como proceder em situações similares buscando o apoio dos Núcleos Especializados da DPE no registro de ocorrências em situações de dano coletivo.

Também foi informado aos Assistidos que existe no Ministério Público Federal (MPF) um pedido de informações acerca da área junto Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), resultado de uma reunião conjunta realizada com a parceria interinstitucional da Defensoria Pública e MPF. 

O acampamento

Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Acampamento Padre Josimo está situado em um assentamento do Incra, criado na década de 90, em uma região de forte disputa.

Os trabalhadores rurais relatam que o Incra destinou cerca de cinco mil hectares, contudo, no cartório só consta a desapropriação de pouco mais de dois mil hectares. A área restante não possui título de domínio e está sendo tomada por posseiros. (Com informações do MST)