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Estado

Foto: Divulgação

O reconhecimento do papel desempenhado por diversos tocantinenses para promoção da igualdade racial e a valorização social e cultural do povo negro marcou a sessão solene realizada na manhã desta quarta-feira, 22, na Assembleia Legislativa do Tocantins. A sessão foi uma homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado anualmente dia 20 de novembro.

A data marca do dia da morte de Zumbi dos Palmares, uma das principais referências na luta pela libertação e contra a escravidão dos negros. Zumbi foi o último líder do Quilombo dos Palmares, assassinado no dia 20 de novembro de 1695.

O Negro no Tocantins

Durante a sessão, a jornalista Maria José Cotrim fez uma explanação acerca da situação do negro no Tocantins. “Quem somos nós no Tocantins? Quem somos nós no Brasil e para o Brasil?”, indagou a jornalista, para afirmar, em seguida, que cerca de 74%  da população tocantinense, conforme IBGE, é negra, mas que esta realidade não é discutida. Para ela, é primordial que se volte o olhar para a auto afirmação e valorização do povo negro no Estado.

Em sua fala, ela apresentou uma série de dados que demonstram a baixa ou inexistente representatividade de negros nos diversos setores da sociedade, como  no meio político, na esfera administrativa, nos cargos e profissões tidas como elitizadas - tanto em nível estadual quanto nacional.  Reforçou, ainda, a  necessidade de disputa dos espaços não só de forma quantitativa, mas qualitativa e que o combate ao racismo precisa se fazer presente no Tocantins, por meio de um trabalho efetivo dos poderes públicos estadual e municipais.

Dentre os alertas feitos, estiveram os autos índices de trabalhadores negros em situação análoga à escravidão no Estado dos dias atuais, o genocídio da juventude negra, a violência enfrentada pelas mulheres negras, e outros.

Em nome dos homenageados, o radialista Edmilson Soares de Melo, mais conhecido como Nilson Bittar, lembrou  o caráter de igualdade da condição humana, que se choca com o olhar discriminatório e os estereótipos que recaem sobre os negros, resultantes da condição de escravo à qual foram postos por centenas de anos. “Somos iguais, mas o homem ainda precisa reconhecer isso”, destacou.

Intolerância religiosa

A presença e desafios enfrentados pelas  religiões de matrizes africanas no Estado também foram abordados na sessão solene pela Ebomi Roberta de Osoguiã Tum, presidente da Federação das Casas de Culto de Matriz Africana do Tocantins. Ela pediu apoio da Assembleia para os povos de religiões de matrizes afro-brasileiras, destacando a recente criação da Federação e denunciou o preconceito existente para com as religiões ditas “de preto”.

Políticas públicas

A sessão solene em homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra resultou de um requerimento de autoria do deputado estadual Paulo Mourão (PT).  Ele reforçou a situação de desigualdade e falta de acesso a direitos básicos por parte dos negros e defendeu implantação de políticas públicas prioritárias que garantam tal acesso, com qualidade, a áreas como saúde e educação.  Para o deputado, a escravidão, que no passado se mantinha pela via da dominação física, por meio da violência e autoritarismo, hoje se mantém através das desigualdades sociais vivenciadas pelos negros.

Cobranças

Das mãos dos parlamentares, 14 pessoas que atuam direta e/ou indiretamente em causas relativas à negritude receberam homenagem, seja pessoalmente ou por meio de representantes.  Mais que homenagem, Cristian Ribas, integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos e membro do Coletivo Nacional de Juventude Negra – Enegrecer, e a homenageada Ana Cláudia Matos da Silva  cobraram dos deputados estaduais  um compromisso institucional com o combate ao racismo, por meio da proposição e aprovação de leis que efetivamente promovam o fim da desigualdade racial. Ana denunciou a falta de representatividade dos negros no Parlamento do Estado, cobrou uma atuação prática de combate ao racismo e garantia de direito ao território pelas comunidades quilombolas.

Apresentações

A sessão solene também foi marcada por apresentações culturais, como a música do artista Dorivã Borges, que homenageou Dona Romana, de Natividade e cantou “Festa da Colheita” música de sua autoria; apresentação de capoeira com o grupo da Academia Tambor; dança cigana, com representantes e filhos do Terreiro de Umbanda Tenda do Caboclo , de Palmas; apresentação do vídeo institucional da campanha da ONU no Brasil “Filtragem Racial Vidas Negras”; e declamação do poema “Faveláfrica” de autoria do Gato Preto, apresentado por Rossana Faustino Reis, integrante dos movimentos Enegrecer e Hip Hop de Palmas.

Homenageados

Ana Cláudia Matos da Silva - Fundadora da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), representante das comunidades quilombolas pela COEQTO no Conselho do Mosaico do Jalapão e artesã do capim dourado;

André Luiz Gomes da Silva – Professor e representante da comunidade quilombola Malhadinha, em Brejinho de Nazaré, e representante dos Agentes Pastorais Negros do Tocantins;

Ednilson Soares de Melo – Radialista;

Eduardo Manzano – Médico, fundador e presidente de honra da Comunidade de Saúde Desenvolvimento e Educação (Comsaúde);

Everton Francisco da Silva (Everton dos Andes) – Professor, cantor e compositor;

Francisco das Chagas Lima Robson (B.Boy Robson) – Professor, dançarino e representante do Movimento Hip Hop de Palmas;

Geraldo Silva Filho (In Memoriam) – Foi professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), ativista, poeta, idealizador e coordenador geral do Núcleo de Estudos Afro Brasileiros da UFT (Neab);

José Iramar da Silva (In Memoriam)- Foi ativista do Grupo de Consciência Negra do Tocantins (Gruconto/Comsaúde), músico, diretor teatral, fotógrafo, cinegrafista e editor;

Maria de Fátima Batista Barros – Pedagoga, militante da Articulação Nacional de Quilombos (ANQ), secretária da Associação dos Remanescentes Quilombolas da Ilha de São Vicente em Araguatins, membro do GT de Comunidades Tradicionais da CRP 23, membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI);

Maria José Cotrim – Jornalista, membro da Coordenação Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira), idealizadora e coordenadora do Instituto Crespas;

Maria Lúcia Fernandes Rocha – Artista cênica, coreógrafa, dramaturga, artista plástica e fotógrafa documentarista;

Manuel Barbosa da Silva – Coordenador e um dos fundadores da Associação Negra Cor de Araguaína (ANCA), membro do Conselho Estadual de Igualdade Racial (Cepir) e diretor da Escola Estadual João Alves Batista, de Araguaína;

Rosa Inês Sousa Santos Carmo – Coronel da Polícia Militar do Tocantins

Ya Isa Silé – Representante da Casa de Culto Ilé Ase Amo Selé, Isa Silé e membro do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir).