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Opinião

Foto: Divulgação

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Até o pleito de outubro, os eleitores colocarão uma lupa sobre os candidatos. Farão um controle mais apurado do que em eleições passadas. Primeiro, em função da desconfiança que paira sobre os políticos. Segundo, porque o voto começa a sair do coração para subir à cabeça. O voto racional toma o lugar do voto emotivo. Terceiro, porque o conjunto do eleitorado, de costas para a política, se abriga em entidades de referência e defesa – sindicatos, associações, clubes, federações, movimentos de todos os tipos – e estas tendem a orientar a escolha para determinados perfis. Bancadas setoriais ganharão amplitude. Veremos um eleitor afinado ao espírito do tempo.

Que conceito o eleitor faz hoje do político? Pesquisas mostram que, de cada 100 brasileiros, apenas 3 confiam nos políticos. Escândalos em série registrados nos últimos tempos contribuem para a má avaliação. E que perfis conseguem atrair a atenção? Vejamos. A autoridade é seguramente um deles. O brasileiro sente-se atraído pela figura do pai, que expressa autoridade, respeito, o homem providencial capaz de suprir as necessidades da família. Mas não se deve confundir autoridade com autoritarismo, aqui estendido à arbitrariedade. Jânio Quadros era uma figura que expressava respeito.

O equilíbrio atrai a atenção. Pessoas desequilibradas não merecem consideração, mesmo que neste ano a palavra dura, um murro na mesa possam fazer parte do discurso (Bolsonaro absorve essa condição). O equilíbrio está ligado à harmonia, à serenidade, valor que carrega sentimento de justiça. Estes valores somam-se, conferindo ao político confiabilidade e respeitabilidade, base para a consolidação de uma boa imagem.

Os desafios da administração e as demandas sociais exigem conhecimento e experiência, fer­ramentas para o encontro de soluções rápidas. O eleitor desconfia de aventureiros e ignorantes por consi­derá-los “aposta cega, um tiro no escuro”. O preparo e o ideário bem organizado podem melhorar a ima­gem. Melhor ainda quando o ideario for endossado por grupos sociais. Ou seja, se ganhar o apoio de entidades. O bom candidato é também aquele que sabe articular, fazer intermediação e interação com os grupos organizados. Urge respirar o “cheiro das ruas”. A proximidade com o povo se faz necessária.

E os valores negati­vos? Indecisão é um deles. Associa-se à ideia de pessoa sem personalidade, fraca, tíbia. Encrenqueiro e corrupto, então, nem se fala: são traços negativos. O brasileiro desconfia de estilos rompantes, impetuosos, viradores de mesa. Mudanças são desejáveis, contanto que não causem grandes sustos.

Quem está ligado às teias de corrupção será visto com desconfiança. É difícil se purgar. Perfis sem programas, conhecimento de temas, terão voo curto. Morrerão antes de chegar à praia, às urnas. Há um conceito que forma o esqueleto vertebral do político: a identidade, que abriga a história, o pensamento, a coerência, os sentimentos e a maneira de ser. Se a identidade é forte e positiva, o político será associado às boas lembranças de seus eleitores. Uma boa imagem, porém, não nasce e cresce no espaço de uma campanha.

Conselho ao eleitor: comece, desde já, a focar sua lupa sobre os perfis dos eventuais protagonistas.

*Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP é consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato