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Opinião

Foto: Divulgação

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Temos aqui uma arriscada missão, na qual o professor de biologia encontra-se sem chão, pois para um sindicalista em ação, adentrar nas trilhas da poesia do grande figurão é deveras “Inducação”.

Como o talento para manipulação de palavras e construção de poemas é algo insólito, louvemos Fidêncio Bogo, grande professor e escritor que soube como poucos refletir as mazelas da educação no Tocantins.

O poema: Inducação servirá para iluminar nossa reflexão a seguir sobre aspectos da educação pública no Tocantins, a data de 1997;

- A educação vai melhorar?/- Mas tá na cara que vai!/- Como é que você sabe?- É muito simples, uai!/ É só ver lá nas escolas/ o que está a acontecer,/quem são os diretores/ e quem os vai escolher./ O mui nobre deputado/ indica o diretor./ O secretario é indicado/ pelo ilustre vereador./ Outros cargos lá na escola/ saem do cabo eleitoral./ Isso vai melhorar, e muito,/ o nível educacional/.../Se você quiser um cargo,/ esqueça sua competência/ e procure ser amigo/ de alguma Sua Excelência./E assim, de tombo em tombo,/a educação se estrumbica./ Competência? Nada disso!/Vale o QI – quem indica./Enquanto a politicagem/ desmandar em nossas escolas,/ ela nunca irá crescer,/viverá sempre de esmola.(1997) Fidêncio Bogo.

Como podemos observar o contexto inspirador do poeta, infelizmente não mudou nada.

O poeta Fidêncio, hoje dá nome a uma escola de tempo integral em Palmas, recebeu também o título de cidadão palmense e cidadão tocantinense, homenagens, diga-se de passagem, mais que merecidas a esse grande educador. O que espanta são as contradições, pois muitos dos que estão marcados na história por tais condecorações (professor, secretário, vereadores e deputados), não tiveram nenhuma preocupação de realizar o mínimo esforço para modificar a realidade denunciada em suas obras e antagonicamente exacerbando ações antidemocráticas que eram o combustível inspirador da crítica do poeta.

Na ETI Fidêncio Bogo, a exemplo de 100% das escolas públicas do Tocantins, não possui eleição para diretor escolar, o/a secretário/a de educação (SEMED/SEDUC) continuam sendo cargos de disputas politiqueiras, os professores em contratos temporários continuam sendo nomeados de forma obscura. E o que fazer? O Sintet continua a denunciar via ministério público, justiça e imprensa tais absurdos e a Lutar por uma gestão escolar democrática.

E ao realizar uma reflexão acerca das ações e comportamentos das nossas lideranças educacionais/governamentais do Tocantins podemos notar que são, a expressão decadente de um coronelismo arcaico, transfigurada em uma figura de intelecto teórico-acadêmico elevado, porém, sem nenhuma perspectiva humana e/ou apenas confiada na capacidade hierárquica, desta forma tentam oprimir os educadores que ousam questionar e modificar esse modelo ditatorial de gestão. Em descompasso com os ensinamentos de Paulo Freire que dizia que: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”. 

Nossas secretarias de educação Seduc/Semed não apresentam a mínima harmonia com os trabalhadores e suas ações evidenciam que não possuem autonomia para ações progressistas, restando-os minimizar problemas através das ameaças e punições (remoções, modulações nebulosas, assédios etc...). Essa Instabilidade e fragilidade de experiências democráticas, fomentada principalmente em função de longos períodos de governos autoritários, prejudicam a articulação entre as instituições políticas e os atores sociais no caso os profissionais de ensino.

No município de Palmas, por exemplo, quando o “Alto escalão” da secretaria de educação (Semed) decide visitar as escolas, geralmente o fazem de forma cronometrada, tendo por medo ou asco, contato mínimo com os trabalhadores do chão da escola. Convergente com esse pensamento está a Seduc, porém, para piorar possuía uma secretária que só adentrava nas escolas públicas do Estado por meio da internet com patéticos vídeos motivacionais, totalmente desconectados com os problemas vivenciados pelos alunos e profissionais que atuam nas precárias escolas públicas estaduais.

Ambos são defensores e a personificação do padrão meritocráticos, todavia a julgar pela dificuldade: CASO 1, do município em cumprir o  plano de carreira dos educadores, que possui progressões verticais, biênios e titularidades com estarrecedores atrasos desde 2013, e mais, a letargia para resolver a falta de vagas para as crianças em escolas próxima a suas residências, a superlotação de algumas salas, o demorado e obscuro processo para suprir a falta de professores em diversas unidades de ensino, recorrentes atrasos nos recursos da merenda escolar além da falta de capacidade de articular um diálogo franco com os representantes da categoria a fim de evitar possíveis atos e protestos ou mesmo uma greve. CASO 2; quanto a rede estadual segue a mesma linha de incapacidades, ampliada pelo tamanho da rede e por anos de sucateamento, a exemplo da escola referência do estado, o CEM Militar de Palmas, que no último ano teve que ser esvaziado após uma das salas pegar fogo na rede elétrica e nos últimos dias os alunos e professores fizeram uma paralização por conta do risco de novos acidentes. Imaginem as escolas de placas dos rincões do estado? Muitas escolas estaduais estão reduzindo aulas por falta de merenda. Triste realidade do Tocantins, ou seja, um caos total, enfim, me pergunto qual seria o bônus meritocrático dos nossos gestores se fossem avaliados pelo seu público alvo?

Não! Não somos amigos de nenhuma “Sua excelência”.

E por reconhecer a força da união da classe trabalhadora, continuaremos enquanto Sintet a combater a politicagem nas escolas tocantinenses e iremos explorar as contradições de todos os tiranos travestidos de políticos sejam eles Des(ex)Governador, Prefeik, diretores ou ditadores, secretário/a e fomentaremos em cada unidade educacional debates progressistas para que possamos deixar de viver de esmola, como já denunciava Bogo em 1997.

Não! Nossa educação não viverá de esmola! Seguiremos a Resistir na trilha da Educação!

Fábio de Souza Lopes é professor da Rede Municipal de Palmas e da Rede Estadual, além se secretário de Políticas Educacionais do Sintet- Regional de Palmas