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Opinião

Foto: Pixabay

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A indústria têxtil e de confecção do Brasil, uma das cinco maiores do planeta, é constituída por cerca de 25 mil empresas, de produtoras de fibras a vestuário, empregando perto de 1,5 milhão de trabalhadores. Seu faturamento anual alcança R$ 190 bilhões, as exportações, US$ 1,14 bilhão e as importações, US$ 5,9 bilhões, com saldo negativo de US$ 4,8 bilhões na balança comercial setorial em 2022. Nosso país é um dos poucos com produção em todos os elos da cadeia de valor, incluindo 140 mil lojas no varejo de roupas, contando, ainda, com fornecedores de insumos, universidades e centros de pesquisa.

Apesar de todos esses consistentes fatores estruturais e da sinergia desse ecossistema, não estamos posicionados entre os maiores exportadores globais do setor e enfrentamos em nosso próprio mercado forte concorrência de produtos estrangeiros. Obviamente, fatores relevantes, como impostos e juros elevados, insegurança jurídica e todos os demais gargalos que compõem o “Custo Brasil”, conspiram contra nossa competitividade. Porém, a despeito dessas questões, as quais esperamos sejam resolvidas na agenda do governo e do Congresso Nacional, nossa indústria têxtil e de confecção, como toda a manufatura nacional, tem boas perspectivas de ampliar sua capacidade concorrencial e ganhar muitas posições no ranking do comércio exterior.

Nossas oportunidades – em especial se considerarmos as mudanças geopolíticas, suscitado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia e as sequelas da pandemia, que impactaram a estratégia de suprimentos dos países – são significativas se atendermos com eficácia às demandas inerentes à governança ambiental, social e corporativa (ESG). Para dimensionarmos a grandeza desse potencial e a relevância desses princípios no mundo, há interessantes indicadores: o relatório ESG and Sustainable Investment Outlook, da Broadridge Financial Solutions, do ano de 2021, mostra que os ativos em fundos nessa área podem crescer de US$ 8 trilhões para US$ 30 trilhões até 2030; em 2022, pesquisa da Delloite revelou que 57% dos executivos ouvidos relatam ter implementado um grupo de trabalho ESG multifuncional, encarregado de direcionar a atenção estratégica para o preceito, e outros 42% estão tomando medidas para fazer o mesmo.

Para a indústria têxtil e de confecção, o melhor caminho para aderência a essa agenda é gerar produtos sustentáveis, com base na bioeconomia e governança interna respeitosa ao compliance e práticas corretas nos aspectos trabalhista, social e ambiental. Para isso, temos um parque fabril bem-estruturado, recursos humanos capacitados, parcerias com universidades e instituições de pesquisa e tecnologia. Com certeza, os avanços na efetivação dos acordos multi e bilaterais do Brasil e do Mercosul e a interação e/ou ingresso na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) abrirão novas oportunidades para nossos produtos verdes e, claro, implicarão exigências crescentes nesse sentido.

Temos um arcabouço consistente de conhecimento e estratégias congruentes com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), consubstanciados no “Documento Têxtil 2030”, um trabalho de fôlego e estruturante quanto aos caminhos a serem seguidos. As tendências e perspectivas que se abrem no contexto da aderência à agenda ESG ficaram muito claras no painel “Ecossistema brasileiro de moda sustentável: resultados e perspectivas de projetos colaborativos bem-sucedidos”, realizado dia 13 de fevereiro último, na 9ª Conferência Internacional de Due Diligence na Rede de Produção de Têxteis, Vestuário e Calçados da OCDE, realizada no Centro de Conferências da entidade, em Paris, na França.

Participaram representantes da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), da ABVTEX – ModaComVerso, Programa Texbrasil por parte da ApexBrasil – Liga de Sustentabilidade; Escritório da OIT no Brasil – Projeto SCORE, Reos Partners e Colabora Moda Sustentável. Não restou dúvida de que a sustentabilidade social e ambiental e as boas práticas de governança podem nos proporcionar significativo aumento de competitividade para ampliar nossa inserção internacional, como também no nosso próprio mercado interno, diminuindo seu suprimento com importados.

Os europeus exigirão em breve que produtos tenham DNA verde para ingressar em suas fronteiras e não tardará que exigências semelhantes sejam adotadas paulatinamente por crescente número de países. Assim, se incorporarmos na prática os preceitos de ESG e sairmos na frente dos concorrentes, teremos grande espaço no comércio nacional e internacional, aumentando investimentos, gerando empregos e promovendo uma jornada ininterrupta de aporte tecnológico e inovação.

*Fernando Valente Pimentel é presidente emérito e diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).