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Palmas

Foto: Umberto Salvador Coelho Dependente fuma a pedra em latas de cerveja Dependente fuma a pedra em latas de cerveja
  • Foto - Umberto Salvador Coelho
  • Pedra de Crack e petrechos utilizados para o consumo - Foto - Umberto Salvador Coelho
  • Casa abandonada utilizada por usuário fica em rua atrás de uma delegacia no centro de Palmas - Foto - Umberto Salvador Coelho
  • Engenheiro Químico e Perito Criminal Rogério Olavo Marçon explica características da pedra de crack - Foto - Umberto Salvador Coelho

Raciocínio acelerado, aumento da capacidade física, sensação de poder e depressão; de um extremo a outro em 15 minutos. Formulado a partir de substâncias psico-estimulantes o crack se difere de drogas como a maconha, que produz relaxamento. Se a maconha por um lado diminui a atividade cerebral, com o crack ocorre uma verdadeira explosão no córtex após a primeira "pipada". Em 15 segundos a cocaína, seu princípio ativo, chega ao cérebro que tem sua atividade acelerada, o usuário fica com o raciocínio mais rápido, vem a sensação de poder, forte aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremor muscular e excitação acentuada, sensações de aparente bem-estar, aumento da capacidade física e indiferença à dor e ao cansaço.

Mas, se os prazeres físicos e psíquicos chegam rápido com uma pedra, os sintomas da abstinência também não demoram. Em média os efeitos do crack duram 5 minutos e em no máximo15 minutos surge de novo a necessidade de inalar a fumaça da pedra outra vez, caso contrário chegarão inevitavelmente o desgaste físico, a prostração, depressão profunda e angustia.

O trajeto do crack no corpo depois de fumado passa pelos alvéolos do pulmão, onde a cocaína, seu princípio ativo, entra na circulação e parte para o cérebro para provocar seus efeitos devastadores sobre a condição psíquica e física do corpo. "o crack tem os mesmos efeitos da cocaína só que agravados com a deterioração do sistema respiratório. Então da família da cocaína eu diria que é o pior de todos" informa Rogério Olavo Marçon Engenheiro químico e perito criminal. No cérebro a cocaína age diretamente nos neurônios bloqueando a recaptura de neurotransmissores como a norodrenalina, serotonina e dopamina, causando uma inundação no cérebro destas substâncias ligadas à euforia e excitação.

Depois do efeito cocaínico as células levam dias para recuperar suas reservas de neurotransmissores em quantidade normal. Isto explica as ressacas e crises depressivas dos usuários depois do episódio, o que leva a recorrência, que em curto espaço de tempo se torna cada vez mais freqüente e habitual. Quando o usuário se dá fé, já está enredado e na "fissura", sendo que pode ocorrer da pessoa viciar só de experimentar ao primeiro contato.

Enquanto outras drogas como o álcool leva cerca de um ano para causar a dependência, a cocaína em seu estado para aspirar cerca de quatro meses, o crack age furtivamente imediatamente causando a dependência em no máximo um mês.

Crack e Merla parentesco destrutivo

A merla assim como o crack tem como princípio ativo a cocaína e são preparadas a partir da pasta base para serem fumadas. Também conhecida como "mel" e "mela" tem poder estimulante ainda maior que o crack e surgiu pela primeira vez nas favelas do ABC paulista, sendo preparada com sobras do refino da cocaína misturadas à gasolina e querosene. "É como se fosse um crack em forma pastosa" informa Rogério Olavo Marçon.

Sua forma de uso difere em parte do crack. Enquanto neste, o usuário faz uso de cachimbos ou latinhas de refrigerante e cerveja com vários furos feitos com objetos perfurantes finos e pontiagudos, furos estes, onde se coloca a pedra em cima da cinza de cigarro para "britar" como se diz no Tocantins, a merla é fumada misturada ao fumo comum ou à maconha em forma de baseado. Esta é uma mistura perigosa, pois enquanto a cocaína é estimulante o THC da canabis é relaxante provocando efeitos contrários no músculo cardíaco.

Resultados devastadores

Como o efeito da droga passa rapidamente, se torna cada vez maior a necessidade do craquero "britar". Surge a necessidade de doses cada vez maiores na tentativa de efeitos mais intensos que possam proporcionar o prazer sempre fugaz. Com uma reação em cadeia que transforma o tão objetivado paraíso em inferno, as altas doses terminam por levar o usuário à paranóia, "nóia" na gíria craquera, que leva a ter um comportamento agressivo e irritado. Na fase aguda produzida pelas altas dosagens o dependente passa a ter alucinações, imagina que está sendo vigiado, perseguido, que o local onde está fazendo uso da droga será invadido por pessoas que irão lhe fazer o mal. Neste aspecto pode se tornar extremamente agressivo, instala-se a psicose cocaínica e o desinteresse sexual.

No corpo os efeitos são igualmente nefastos; afetamento da visão que fica prejudicada pela "visão borrada", dores no peito, contrações musculares, convulsões podendo evoluir para coma. No sistema cardiovascular os efeitos podem ser fatais. A pressão arterial eleva-se e o coração passa a bater mais rapidamente podendo ser produzida uma parada por fibrilação ventricular. Segundo a cardiologista do HGP - Hospital Geral de Palmas, Dra Érica de Souza Teixeira, após o consumo o crack provoca uma arritmia (desvio de ritmo), que pode fazer com que o ventrículo bata tão rápido que não vai fazer a contração muscular levando à parada cardíaca conhecida por morte súbita.

Histórico

O crack que possui este nome decorrente do barulho crepitante do bicarbonato de sódio quando se queima a pedra, começou a ser fumado a partir da década de 70, quando popularizou-se no Peru, ramificando-se posteriormente para outros países produtores da América do sul. Nos EUA o consumo da pasta base foi descrito pela primeira vez em 1974 na Califórnia, mas sua utilização sistêmica se deu a partir de 1984 em bairros de Los Angeles, Nova York e Miami habitados por negros e hispânicos e com altas taxas de desemprego.

No Brasil não há estudos ou informações sobre a chegada desta droga. Os dados disponíveis se encontram através da própria imprensa e órgãos policiais. O que se sabe é que na década de 90 aportou em São Paulo e teve um consumo vertiginosamente crescente aumentando sua incidência em 166 vezes entre 1993 e 1997. No Tocantins a primeira apreensão; 250 pedras e 7 latas de merla, foi realizada em 12 de agosto de 2001 pelo hoje Superintendente Estadual da Polícia Civil Abizair Paniago.

No rastro da pedra outros problemas sociais se agravaram. Comportamentos violentos e chacinas nos grandes centros urbanos brasileiros, venda de objetos pessoais para suprir o vício, furtos, roubos e prostituição. Hoje já faz suas vítimas não mais apenas nas classes menos favorecidas mas também na classe média e alta, sendo considerado epidêmico por autoridades policiais e de saúde. Os escritórios da avenida paulista contabilizam vítimas e a sociedade não é informada. O crack além de perigoso é um tabu. A alta sociedade não admite o envolvimento dos seus filhos.

Fonte complementar: Álcool e drogas sem distorção

Disseminação por toda a cidade

Em Palmas os focos de tráfico se encontram disseminados por toda a cidade; além da região norte, a praça da Arse 14, antiga vila dos deputados, Praia da Graciosa, Asr-se 65 e 75, onde existem muitos prostíbulos, Praça da 122 sul, onde segundo o próprio coordenador de polícia comunitária Gilvan Noleto do Nascimento o consumo de drogas está escancarado e já foi denunciado pelos moradores, Taquaralto e Santa Bárbara.

Enquanto em Palmas o crack sobressai, em Taquaralto a merla divide o espaço. Surpresos ficamos ao constatar focos do crack também no centro da cidade e ouvimos da boca de um usuário da classe média que não quer se identificar: "você pensa que bacana não gosta?"

Para Gilvan Noleto coordenador da polícia comunitária, nas regiões da cidade onde as estatísticas de furtos são grandes nas entrelinhas percebe-se que há a problemática do consumo de drogas. "o crack eu observo o seguinte. Eu chego numa determinada região a quantidade de furtos já é um indício, alguém tá fazendo a receptação. Também está alto o índice de vias de fato, brigas, lesões corporais têm aumentado muito."

Segundo Noleto a meta é formar uma polícia comunitária mais próxima da população, na qual os moradores possam confiar para denunciar os problemas da criminalidade local, contribuindo desta forma com a segurança pública e o combate à marginalidade. Na região que vai da Arse 65 à 122 as estatísticas de furtos se sobressaem, Aureni III, Santa Bárbara e Arnes, também enfrentam problemas quando se olha para as estatísticas que são fechadas mensalmente através de um acompanhamento diário.

Apesar de todos estes sinais indicativos de problemas que estão acontecendo, o crack continua camuflado aos olhos da estatística. É que sua logística é mais adaptada às formas de repressão. Sua forma compacta, com menos volume facilita o transporte e torna a comercialização mais fácil que a cocaína, além de correr menos risco de "melar" como se diz na gíria da cocaína que fica úmida.

Um usuário normalmente gasta em média 8 pedras por dia o que dá um custo diário de R$ 80,00 por dia. Daí é só fazer a conta do custo mensal para ver que a forma como os grandes meios de comunicação enfocam o assunto é estereotipado. O crack está em todas as camadas sociais. Os usuários não têm a característica daqueles da cracolândia tão difundida pelas mídias televisivas. Ali, os que aparecem são na maior parte das vezes "aviões" (aqueles que repassam as drogas para os traficantes). Estes recebem como pagamento pelo serviço prestado pedras que consomem diariamente naquele local.

Ações de repressão

Em janeiro deste ano, segundo o titular do DENARC, Dr. Renato Moreira de Toledo Sales, a cracolândia de Palmas foi estourada em Taquaralto nas imediações das ruas p4 e p5 depois de uma investigação que atravessou os últimos meses de 2006. Segundo Toledo, houve dias dos agentes filmarem engarrafamento de carros de usuários que estavam no local comprando a droga. Confira

C.T - O uso de crack tem sido considerado epidêmico por autoridades da área da saúde e segurança pública. O que o DENARC tem feito para coibir o tráfico em Palmas?

Toledo - Hoje as formas do traficante atuar estão muito diferentes do passado. Hoje eles estão organizados, apesar de não ser uma organização única, uma central de comando, mas eles se interagem, os pontos de venda interagem muito bem entre eles e os fornecedores para o Tocantins geralmente são os mesmos. Hoje nós temos aí em torno de quatro, talvez cinco fornecedores apenas para os pontos da capital e estes pontos entre si interagem se ajudando mutuamente. Então eles estão organizados e como hoje nossa atuação tem sido mais eficaz com mais rigor eles não estão ficando com uma quantidade grande de drogas nos seus pontos, na expectativa de quando ocorrer uma abordagem conseguirem se livrar como se fossem usuários e geralmente os pontos de tráfico envolvem toda a família da casa. Então acabam sendo 2,3,4 moradores com uma quantidade de crack que chega a ser de 20 a 50 gramas, eles tentam usar isso como se fosse para o uso familiar.

C.T - Esta questão é uma adaptação da logística do tráfico que poderia estar contribuindo para o avanço desta droga na sociedade?

Toledo - É uma logística que estão usando para escapar, uma tentativa de fuga deles, e nós percebemos essa mudança deles.

C.T - No caso da cocaína isto não é possível?

Toledo -  É mais difícil fazer porque a cocaína é um volume maior de venda quando o usuário compra. A cocaína atinge a classe alta, talvez a média alta devido ao seu preço. O crack não. O crack ele é vendido como eles falam "dolado" e é uma pedra de meia grama. O papelote do crack é meia grama, muito fácil de esconder, então o que ocorre é isso. E por isso nossas investigações hoje não são imediatistas. Nós estamos hoje agindo de setembro do ano passado pra cá, a gente visa um grupo, trabalhando em comum. Este grupo, tentamos fechar todo ele para não deixar ali naquele setor nenhuma célula que possa reestruturar este grupo, então é um trabalho de entorno de 90 dias a 120 dias do início ao final do trabalho.

C.T  - O senhor disse que a cocaína é uma droga da classe média e alta. Mas o crack em função do alto consumo que o usuário faz não seria também para a alta sociedade uma vez que uma pessoa que consome por dia em média 10 a 13 pedras poderá gastar até R0,00 /dia uma vez que a pedra custa R,00?

Toledo  -  A média hoje do usuário que a gente tem acompanhado, ele fuma quando muito de 5 a 8 pedras diárias.

C.T - Então isto por mês vai dar um gasto acima de R.000,00?

Toledo - É um gasto absurdo.

C.T - Então não é uma droga para pobre?

Toledo - Aí é que vem o problema, os furtos. O que vem ocorrendo é diversos furtos voltados para a droga. Hoje o pobre, ele pratica o furto para manter o seu vício. Este é um caso sério, penso até que se conseguirmos combater com mais assiduidade, mais rapidez o tráfico, vai diminuir bastante furtos e roubos em nosso município.

C.T -  Segundo o coordenador da polícia comunitária Gilvan Noleto, nas regiões onde as estatísticas mostram aumento de furtos e violência, nas entrelinhas pode-se deduzir que existe a droga como problemática. De que forma se fecha o círculo ladrão, traficante e receptador? E neste caso poderia se deduzir que esta droga que está incentivando os furtos na região é o crack?

Toledo - Não que esteja motivando. O furto sempre ocorreu, mas é o que você falou, acaba sendo uma droga cara pela quantidade de vezes que a pessoa usa e uma pessoa de classe baixa e classe média não consegue manter este vício com o trabalho. O de classe média acaba tirando da sua própria residência, dos seus próprios familiares e o de classe baixa acaba praticando os furtos e roubos em residências alheias e até os assaltos que vem ocorrendo que estão gerando até em latrocínios. Então tem realmente uma ligação, é diretamente ligado. Você falou que o coordenador da polícia comunitária acredita que seja, pois eu garanto que seja, está diretamente ligado, principalmente o crack que é a droga da vez aqui no estado do Tocantins.

C.T - E de que forma se fecha o círculo, ladrão, traficante e receptador?

Toledo - Ladrão sendo o usuário, o traficante da boca aceita o produto furtado; a máquina fotográfica digital, o notebook, o celular, um toca cd de veículo e repassa isso. Não para o seu fornecedor, porque esse só aceita dinheiro.

C.T - Existe um sistema integrado de informações e estatísticas entre polícia federal e polícia civil que auxilie no combate ao tráfico de entorpecentes? Principalmente no que se refere a esta droga.

Toledo - Existe os serviços de inteligência tanto da polícia federal, quanto da polícia civil, mas o trabalho é de cada um dentro da sua competência.

C.T - De que forma a polícia comunitária tem contribuído com a inteligência da polícia civil?

Toledo - A inteligência da polícia civil é outro departamento, não é narcótico, somente agora que foi nomeado pelo atual secretário o delegado para assumir a diretoria da polícia comunitária e está ocorrendo agora mudanças valiosas para a polícia civil com a colocação de um delegado chefiando a polícia comunitária, então inclusive ele já marcou uma reunião conosco. Agora sim a polícia comunitária está começando a colaborar com a polícia civil.

C.T - Sabe-se que o crack por sua forma compacta facilita o transporte, armazenamento e comercialização diferente da cocaína que corre o risco de "melar" como se diz na gíria do tráfico, quando armazenada em locais abertos como matagais. O que a polícia pode estar fazendo para melhorar sua atuação em relação a está logística mais adaptada do tráfico?

Toledo - Com relação aos pontos de venda que ocorrem em praças públicas é de difícil resolução na parte investigativa, nesta questão aí tinha que entrar a polícia militar e guarda metropolitana que tem a função constitucional de repressão. Se existe um foco em uma praça e este foco é permanente porque não se monta um quiosque nestas praças e lá se coloca um patrulhamento 24 horas com sistema de plantão, aonde vai se gastar 6 homens, 2 por dia, plantão de 24 horas por 72 horas de folga que é o que a lei determina. Porque não faz isso com polícia militar juntamente com prefeitura, com 1 policial militar e 1 guarda metropolitano. Porque para a polícia civil, para a narcóticos tem que existir, expulsar este traficante do ar livre, porque no ar livre a narcóticos não tem equipamentos para fazer investigação, porque da forma como você citou, você deve estar citando a praça da Arse 14 e 12. São duas praças enormes com uma área livre muito grande e não tem como nós chegarmos sem sermos notados e nós não temos equipamentos eletrônicos capazes de nos auxiliar igual a polícia de São Paulo, igual você comentou, acabou com a cracolândia deles usando micro-câmeras e micro-gravadores. Nós não temos esses equipamentos. Então se é um ponto de tráfico permanente ao ar livre, eu acho que, já que se constrói tantos quiosques para bares, porque não se construir para patrulhamento, para que a praça seja usada pelos moradores da quadra e dali sejam expulsos usuários e os traficantes através da ostencividade que é obrigação constitucional da polícia militar e guarda metropolitana.

C. T - O tráfico do crack se encontra ramificado por toda a cidade. Arse 14, Arse 12 como o senhor acabou de citar, Arnes (região norte), Praia da Graciosa, Asr-se 65 e 75, Taquaralto e Santa Bárbara. Porque não tem aparecido nas estatísticas o volume de drogas apreendidas e traficantes retirados de circulação no que se refere a esta droga?

Toledo - Bom. A minha função eu sou pago é para trabalhar. Eu trabalho, prendo, se eu abrir aquele cofre ali você vai ver a quantidade de drogas que eu possuo. Se eu abrir meu computador aqui, o senhor vai ver a quantidade de pessoas que eu prendi. Eu comunico a minha chefia imediata, e eu sei que minha chefia comunica a secretaria as prisões que são feitas pela narcóticos. Eles acompanham meu trabalho. Como eu disse só no mês de janeiro eu prendi 11 traficantes responsáveis pela cracolândia de Palmas que é na região de Taquaralto. Acabei de tirar de circulação a família Peres, que era outra família que dominava o tráfico em Palmas, até mesmo no estado. A família chegava a mandar droga para fora da capital. De janeiro para cá já foram feitas em torno de 17 prisões de traficantes.

C.T - O senhor disse que na cracolândia de Palmas chegou a ter engarrafamento de carros de usuários para comprar a droga. Isto no período do final de 2006...

Toledo - Teve engarrafamento, nossas investigações começaram em novembro e o inquérito policial foi concluído em princípio de fevereiro. Durante as filmagens chegou a pegar engarrafamento na rua de veículos, inclusive veículos chegaram a dar ré para passar por outras ruas. Hoje pode ir lá que não foi reativado o ponto. Não que não possa estar ocorrendo naquela rua uma ou outra venda. Mas não foi reativado aquele ponto.

C.T - Uma questão que se tem percebido quanto à logística da droga crack é que em relação à cocaína, há uma modificação, ela parece ser uma droga mais fácil de ser armazenada e comercializada em função de sua resistência aos efeitos do ambiente como a umidade...

Toledo - O crack pode ser armazenado por um tempo longo. A vantagem do crack em relação à cocaína vem sendo o preço de mercado. 1 grama de cocaína é vendida por R,00, o crack é vendido na faixa de R,00. O ácido bórico e o éter são usados para fazer a cocaína a partir da pasta, mas são produtos controlados pela vigilância sanitária. A pessoa tem que devolver, o farmacêutico tem que devolver o frasco, então devido a este controle a dificuldade de se fazer a cocaína. O crack os ácidos que usam no crack são liberados.

Prevenção e recuperação de dependentes

Como forma de tentar prevenir a questão da criminalidade e questões relativas a drogas, a polícia comunitária da capital vem realizando um trabalho de aproximação com a população. Neste trabalho os policiais fazem um cadastramento e colhem impressões dos moradores sobre os acontecimentos locais. De posse destas informações a polícia comunitária alimenta sua base de dados e repassa aos setores de inteligência para que outras estratégias sejam tomadas.

No que concerne ao tratamento e recuperação de dependentes químicos a lei 6368 em seu artigo 9° determina que a rede pública de saúde estadual e municipal, bem como o ministério da previdência e assistência social, fornecerão tratamento aos dependentes. No entanto, verificamos através de contato com a assessoria de comunicação da secretária da saúde que este serviço não é oferecido pelo estado. Apenas o município é que, segundo assessoria de comunicação da prefeitura, tem uma parceria com o governo federal para manter o Ambulatório Renascer que atende atualmente 30 pessoas dependentes de drogas em geral.

Como opções para os dependentes químicos, uma vez que as clínicas particulares chegam a cobrar até R.000,00 mensais por internação, estão as ONGs como a Fazenda da Esperança, ligada à Igreja Católica. Vale destacar que as clínicas têm sua terapêutica centrada na medicação, diferente da fazenda, onde o eixo básico é a laborterapia assentada no tripé: trabalho, espiritualidade e convivência, forma que valoriza também a participação da família na recuperação do interno.

A família ajuda a vender os produtos que os internos produzem. Para Magda Valadares Tesoureira e voluntária da Fazenda da Esperança a sociedade pode contribuir adquirindo das famílias os produtos produzidos pelos internos. Ainda segunda Magda a fazenda está presente no Tocantins a sete anos, tendo neste período devolvido à sociedade tocantinense 140 homens recuperados. É o caso de Marco Antônio Alves de Oliveira, ofice boy em uma empresa privada em Palmas. Marquinhos como é conhecido, foi usuário dentre outras drogas do crack, "comprei a primeira pedra por curiosidade e só procurei ajuda quando já estava para morrer, quando faltava a droga meu coração disparava, tinha muita ansiedade e vivia praticamente na rua". Marquinhos ainda brinca dizendo que quando chegou à fazenda estranhou o ritmo, "eu sou nordestino e eles ficavam falando que era preciso amar. Mas com o tempo entendi a solidariedade e isso foi me cativando". Hoje já se passaram três anos que saiu da fazenda, depois de cinco anos internado e sempre que pode dá seu depoimento e procura ajudar na fazenda.

Mas não são todos que conseguem se livrar das malévolas teias sociais urdidas pela droga. Cabe ao dependente cair na real e romper com o círculo social que alimenta a dependência e procurar ajuda. M.V.L funcionário público que não quer se identificar já está nesta vida clandestina há algum tempo, "a primeira vez que usei crack foi quando faltou cocaína aqui em Palmas, aí encontrei a droga acessível e comecei a usar. Já cheguei a deixar minha mulher e filha dentro de casa e me hospedar em um hotel aqui em Palmas, onde fiquei fumando durante quatro dias, recebia apenas o traficante e umas amigas dependentes que iam lá para fumar comigo, gastei R$ 1.400,00".

Quanto à questão logística, verificamos que a venda ao usuário tem sido feita principalmente por mulheres e em estabelecimentos comerciais de fachada como bares. Ao longo dessa reportagem visitamos quatro "bocas" aleatoriamente no Plano Diretor. Em todas, mulheres estavam à frente dos negócios. Imagina-se, neste caso, que os "serviços de cobrança" sejam feitos pelos homens.

Disk denúncia 0800 63 1190

(Umberto Salvador Coelho)