O DEM pode ser a pedra no sapato do governador Marcelo Miranda no processo de formação de chapas para a disputa das eleições municipais do próximo ano. O partido da senadora Kátia Abreu e dos deputados federais Nilmar Ruiz e João Oliveira vem se articulando para tentar ser o carro-chefe da base aliada do governo nos principais colégios eleitorais do Estado, sobretudo em Palmas e Araguaína. Em Gurupi, os Democratas não têm como sair com candidatura própria, porque a deputada Josi Nunes (PMDB) já conquistou o seu espaço.
Uma briga de gigantes está programada pela frente, pois o que está em jogo é a sucessão do governador Marcelo Miranda, em 2010. A ala ortodoxa do PMDB não quer ver, de forma alguma, a senadora Kátia Abreu ganhar força política e, com isso, se fortalecer para a disputa do Palácio Araguaia.
O governador, por enquanto, se coloca na posição de espectador e continua mantendo o bom relacionamento com as lideranças dos partidos que compuseram a Aliança da Vitória para reelegê-lo. O casamento dos Democratas com o PMDB, selado no ano passado, pode ou não chegar ao divórcio. Tudo vai depender dos entendimentos daqui até a véspera das convenções.
O DEM não enfrenta resistência somente dentro do PMDB. O PSB do deputado Laurez Moreira, também ex-siqueirista, já demonstrou que dificilmente entrará em sintonia com a senadora Kátia Abreu uma desavença criada desde que o parlamentar socialista, eleito pelo antigo PFL, trocou de partido. Habilidosa, Kátia já declarou que vai apoiar a candidatura da deputada Josi Nunes (PMDB) à Prefeitura de Gurupi. Entretanto, espera reciprocidades do PMDB do governador Marcelo Miranda para a disputa em Palmas e Araguaína, com a deputada federal Nilmar Ruiz e o deputado estadual Valuar Barros, respectivamente.
Em Palmas, a situação deve ser a mais complicada, o que vai exigir muito jogo de cintura e bom senso, principalmente por parte do PMDB e do DEM. Os outros nove partidos que fazem parte da Aliança da Vitória, com certeza, seguem as orientações do governador Marcelo Miranda. Os Democratas querem Nilmar Ruiz de volta à prefeitura, porque sabem que a sua eleição seria um grande referencial para a sucessão governamental de 2010. A ala mais radical do PMDB não abre mão da cabeça de chapa, com o deputado Eli Borges.
No meio dessa "guerra" silenciosa, o PT se arma para reeleger o prefeito Raul Filho. E a principal munição de que o partido dispõe é o elenco de obras que o prefeito está realizando, em que pesem as críticas de seus opositores. Raul Filho evita falar em sucessão nesse momento. Prefere o contato com as lideranças comunitárias e empresariais, e investe em infra-estrutura e em ações sociais na periferia da cidade.
Os recursos que conseguiu junto ao governo federal podem lhe assegurar uma situação mais confortável para a disputa. São cerca de 120 milhões de reais que a prefeitura vai dispor até o ano que vem, o que pode gerar dividendos eleitorais para o prefeito. Mas as lideranças petistas admitem que somente esse ingrediente não é o bastante para Raul enfrentar as urnas. Reconhecem que é necessária uma articulação poderosa para a formação de um amplo arco de alianças, tendo inclusive o PMDB como principal parceiro, muito embora o governador não contasse com o apoio declarado e ostensivo de Raul para a sua reeleição.
O que se especula nos bastidores e interlocutores dos dois partidos entendem que o caminho mais viável seria esse é que o PT e o PMDB repitam a dobradinha feita em 2004, quando os peemedebistas lançaram Derval de Paiva como vice de Raul Filho. Nesse caso, o DEM ficaria de fora da aliança, já que é adversário visceral do PT, cuja situação empurraria os Democratas para os braços da UT ou obrigaria a legenda a fazer uma composição com outros partidos menores. Nada é impossível.
A hipótese que está sendo aventada é a de que Raul, sendo reeleito com o apoio do governador Marcelo Miranda, renunciaria ao cargo de prefeito para disputar uma das duas vagas ao Senado em 2010, juntamente com o governador, abrindo espaço para o PMDB ocupar a prefeitura da Capital, projeto que contaria, inclusive, com o apoio do presidente Lula. Quem aposta nessa façanha política? Seria um tiro no escuro ou uma visão de futuro com prognóstico seguro? O balão de ensaio está lançado. Resta esperar. Tudo pode acontecer.
Gilson Cavalcante Jornal opção
