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Opinião

O escândalo trazido a tona pela operação Carne Fraca atinge em cheio o Agronegócio. Em muitas oportunidades falando que precisamos ter uma visão crítica sobre o setor, somos mal interpretados pois as pessoas acreditam que os importantes resultados para o PIB justificam tudo. Para nós, Engenheiros Agrônomos, ter visão crítica do nosso setor parece ser um contrassenso. Mas agora temos grande oportunidade de evolução no pensamento. 

Nossa bancada ruralista no Senado e na Câmara dos Deputados é conhecida como uma das mais corruptas e de prontidão para defender o agronegócio no seu lado mais feio, para aprovar retrocessos nas leis ambientais, benefícios fiscais e facilidades para as grandes multinacionais do setor de veneno, adubos, sementes e máquinas agrícolas. Sem problemas em legislar nessas áreas, o risco é a atuação sob encomenda, sem compromisso com as consequências para os consumidores, com o futuro da agricultura e do país.

Como esperado, a propaganda “Agro é Pop, Agro é Tech, Agro é Tudo" da rede Globo, não traz consigo intenção de jogar luz sobre as mazelas do setor. Pelo contrário, ela se aproxima do poderoso Agronegócio por afinidade ideológica e por aspirações de poder, deixando de cumprir o seu papel de informar pelo de propagandear. Não é coincidência que o marketing das marcas envolvidas no escândalo da Carne Fraca tenha sido ancorado nos mais proeminentes artistas do país e na propaganda negativa dos produtos da agricultura local. 

Aliás, as origens agrárias da riqueza nacional mantém o Brasil no paradigma de colônia. Quando compartilhamos ideias de que Engenheiros Agrônomos colocamos comida às mesas das pessoas, e coisas do tipo, ajudamos a espalhar estereótipos. As mais importantes soluções técnicas-científicas para os atuais sistemas de produção foram apropriadas da experiência e codificadas cientificamente. O trabalho e a produção agrícola se dão antes e além de uma intervenção sistematizada. O país não tem sequer política agrícola. O produtor, por tradição e herança de conhecimento, ajusta a safra, o quê, quanto, como e onde produzir. Chegamos onde estamos muito mais por tentativas e erros do que por intervenções estruturadas. Até hoje, inclusive, não temos nossos solos mapeados a nível de manejo. E ainda estamos muito longe disso.

Houve grande evolução da produção agrícola que venceu o desafio imposto de suprir a demanda do crescimento populacional até aqui, contrariando a teoria catastrófica segundo a qual a população cresceria mais rapidamente que a oferta de alimentos. O sucesso desta tarefa, contudo, é compreendido hoje que foi obtido pela opção de uso de energia incompatível e impraticável por muito mais tempo. Não apenas sob o aspecto do aquecimento global, mas também pelo esgotamento das fontes naturais de fertilizantes, pelo alto custo de produção dos adubos sintéticos e pelo escasseamento da água e do solo.

Já havia imaginado antes no desafio gigantesco que tem a nossa geração. Qual seja, de assumir a tarefa de planejar sistemas produtivos que atenda à demanda de 11 bilhões de pessoas prevista para o mundo em 2050! Vamos conseguir cumprir essa tarefa só no campo técnico-científico? Certamente que não.

Será um desafio para nossa capacidade de tomada de decisão estratégica e política que atualmente estão em mãos nada qualificadas para a tarefa. Por outro lado, cientificamente temos a crescente dependência de recursos para atender interesses privados e, por outro lado, a maior parte das nossas publicações são classificadas como lixo científico pela revista Nature. Ver em: http://www1.folha.uol.com.br/…/202892-producao-cientifica-e…

E se nós estivéssemos no lugar dos atuais tomadores de decisão, considerando a formação que temos e a qualidade da ideias que costumamos defender as coisas provavelmente não estariam melhores pois, aprendemos agronomia sob o enfoque tecnológico que ela tem, mas, não a aprendemos sob seu aspecto estratégico, político e econômico.

*Sergio da Silva Fiuza, Engenheiro Agrônomo, é doutorando em Agronomia - Ciências do Solo na Unesp de Jaboticabal.