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Cultura

Foto: Layza Vasconcelos

Entre os meses de abril e maio, um incomum projeto coletivo parte de Goiânia/GO, para uma caravana teatral repleta de sonhos e significados. Trata-se de uma circulação que envolve artistas de três diferentes grupos goianos, que buscam no fazer coletivo e na formação de novas redes o fortalecimento da produção cênica do Planalto Central em face de um cenário nacional ainda concorrido e nem sempre amistoso. O projeto conta com recursos do Fundo de Arte e Cultura de Goiás/Seduce/Governo de Goiás e com a produção da Plano V Eventos e Cultura.

A terceira cidade a receber o projeto será Porto Nacional, no Tocantins, nos dias 20, 21 e 22 de abril. Na sexta e sábado, às 19h, na sede da Comsaúde e no domingo, às 19h, no Centro das Crianças. Nestas datas o público poderá conferir, gratuitamente, três diferentes espetáculos, cada um deles apontando para questões do mundo contemporâneo, mas com formas, linguagens e para públicos diferentes. Em seguida a caravana segue para Brasília/DF, Cavalcante/GO, Mauá/SP,  Campo Grande/MS, Mauá/SP e São Paulo/SP.

Três em três

Enquanto o espetáculo para crianças Rato de Biblioteca encanta pela ingenuidade e doçura, mostrando ao público que o mundo dos livros e da leitura é algo a ser preservado, o espetáculo para o público de jovens e adultos A História é uma Istória, traça um perfil de uma humanidade miserável e amoral, por meio do texto irônico e debochado de Millôr Fernandes. Quando se Abrem os Guarda-Chuvas, por sua vez, remete ao entardecer da vida, discorrendo de forma poética e cômica sobre os percalços e possibilidades de envelhecimento no mundo contemporâneo. Assim, com estes três trabalhos, já bastante amadurecidos pelo tempo de existência, os artistas-criadores Fernanda Pimenta, Thaíse Monteiro e Thiago Moura se unem na importante tarefa de levar teatro a todos os cantos e pessoas, debatendo as condições do próprio fazer teatral.

Segundo seus realizadores, a principal força do projeto está em sua capacidade de viabilizar a colaboração de três importantes grupos de Goiás, fomentando seus trabalhos, valorizando a arte local e fortalecendo o cenário artístico do Estado. O coletivo, formado pelos grupos Cia de Arte Poesia que Gira, Grupo Bastet e Farândola Teatro, já vem trabalhando e colaborando uns com os outros nos últimos cinco anos, portanto, este projeto é fruto desta parceria pré-existente, que confere maturidade e qualidade estética para todos estes trabalhos.

Intercâmbio

Além dos espetáculos, o projeto também prevê bate-papo e residência artística em cada uma das localidades. Segundo Patrícia Vieira, da Plano V Eventos e Cultura, produtora do projeto, a ideia é “estabelecer pontes de diálogo entre os artistas dos espetáculos, o público, a produção e os artistas de cada localidade visitada”. Sobre a relevância deste tipo de ação ela reforça: “É importante para criarmos estratégias de mobilização e fidelização do público de cada cidade às obras teatrais e aos espaços culturais que estão nos recebendo. Consideramos mesmo como uma atividade artístico-pedagógica, de fomento à arte e à cultura e de formação de público e plateia. Nossa ideia é criar e fortalecer essas redes de produção e circulação de espetáculos, como uma via de duas mãos. Nós levamos nosso trabalho e contamos com esses parceiros, que futuramente também poderão contar conosco para trazerem para Goiás suas produções.”.

Sobre os espetáculos 

Quando se abrem os Guarda-Chuvas

Um poema cômico sobre o envelhecer. O monólogo “Quando se abrem os guarda-chuvas” tem a atuação de Fernanda Pimenta, que também é coautora da obra. Um trabalho que nasceu junto com o Farândola Teatro, no ano de 2011. A direção é da espanhola Elena Diego e a dramaturgia do carioca João Pedro Fagerlande. Um trabalho de teatro físico e poético, que é ao mesmo tempo melancólico e cômico, lírico e áspero, contundente e apaziguador. A oralidade é o ponto de partida da personagem Conceição, uma viúva de mais de 70 anos, que se relaciona com o público de uma maneira calorosa, falando de seu dia-a-dia de pessoa idosa, que viu seu mundo se transformar aos poucos. A espevitada figura fala em futuro, em desejos, em como se relaciona com um mundo cada vez mais veloz e tecnológico, e certifica a audiência de sua autonomia e capacidade de se apropriar de tudo isto, inclusive de sua vontade de novamente amar. Dona Conceição contracena com suas memórias e com personagens que estão do outro lado da ligação ou das redes sociais. Ou seja, quando Dona Conceição abre seu guarda-chuva é tão somente para sair mundo afora, caminhando em direção a um futuro que ainda pode lhe reservar muitas surpresas.

A história é uma Istória 

Uma comédia de Millôr Fernandes. Um espetáculo questionador e atual, que aborda a evolução do homem de forma crítica e reflexiva, derrubando os mitos, questionando os ídolos e ridicularizando os “grandes” feitos da humanidade, contando-os pela ótica dos excluídos, explorados e derrotados. O poder do espetáculo está no encontro com o espectador. Corrupção, exploração do sexo, a miséria humana, a canalhice dos poderosos, a alienação das massas. Tudo isso contado pelo Grupo Bastet, que há 15 anos inquieta-se na criação de obras sobre o mundo que alcançamos e sobre o mundo que sonhamos. No elenco estão Thiago Moura e Fernanda Pimenta. A direção do espetáculo é de Lua Barreto. E o ator Miqueias Paz foi quem fez a direção dos atores. 

Rato de Biblioteca

Uma Ratinha, ávida leitora, e uma Traça, muito sabichona e gulosa, são as protagonistas desta trama, que faz uma defesa divertida do hábito da leitura. O enredo mostra que as duas são moradoras de uma biblioteca pública que está prestes a fechar por falta de leitores. Preocupadas com seus futuros, elas vão armar os mais mirabolantes planos para defender seu lugar de vida e de cultura. O público se torna cúmplice da do estratagema. As atrizes Thaíse Monteiro e Fernanda Pimenta cantam, dançam, tocam instrumentos e se apropriam do circo e do teatro para lembrar o público sobre o poder e a importância dos livros. O espetáculo está em cartaz desde 2012.