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Polí­tica

Foto: Divulgação

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A influenciadora digital Ileane Oliveira gravou stories na sua rede social Instagram confessando que está sendo paga para fazer campanha para o governador do Tocantins e candidato à reeleição Wanderlei Barbosa (Republicanos). “Então meu povo, voltando a falar de política aqui né, porque que eu não tô divulgando nem federal, nem deputado estadual, e nem Senado, assim, porque o Instagram é uma ferramenta de trabalho, né? Uma das ferramentas de trabalho, e aí a minha opção para governo já era o Wanderlei, só que aí fechamos para divulgar aqui nos stories né, para trabalhar aqui nos stories, e aí eu tô divulgando, porque tô recebendo para divulgar, né, e aí os outros candidatos não, eu já tenho meus candidatos claro, mas não irei divulgar aqui, porque não estou recebendo nada por isso, mas quem tiver em quem vota, mando no PV tá? Meus candidatos”, (sic), destacou Ileane, em stories postado nesta terça-feira, 27 de setembro.

A confissão foi acrescida na Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) movida pelo candidato ao governo, Ronaldo Dimas (PL), contra o adversário.

Na ação, Dimas acusa Wanderlei Barbosa de cometer os crimes de abuso de poder econômico, político e de autoridade, além do uso indevido dos meios de comunicação e a prática de Caixa 2 de campanha. A Aije relaciona quase três dezenas de influenciadores digitais no Tocantins que foram contratados para promover campanha para Wanderlei nas redes sociais, o que, segundo Dimas, é expressamente vedado pela legislação e suficiente para cassar o registro da candidatura, objetivo final da ação.

“Diante desta realidade, ser um influenciador digital é uma digna profissão, e como tal, esses profissionais, obviamente, cobram pelos serviços prestados, sendo que cada um tem uma tabela de valores, que, via de regra, varia conforme os perfis individuais, a quantidade de seguidores e o engajamento que o influenciador tem com eles. Feitas essas considerações, o que se precisa levar em consideração no caso em epígrafe é que a legislação eleitoral veda qualquer tipo de propaganda paga na internet, inclusive a contratação dos influenciadores digitais, excetuando apenas o impulsionamento”, ressalta trecho de parte da ação.

Segundo Ronaldo Dimas, juntos, os 27 influenciadores relacionados possuem mais de 2,12 milhões de seguidores, praticamente o dobro de eleitores aptos a votar no Tocantins. “Mesmo considerando a desnecessidade de demonstração da potencialidade do ilícito, no caso em epígrafe, verifica-se que somente os 27 (vinte e sete) influenciadores detectados pelos investigantes, juntos, possuem um total de 2.127.081 (dois milhões cento e vinte e sete mil e oitenta e um) seguidores, isso sem considerar outros influencers que não foram identificados de plano”, frisa a ação.

Nessa terça-feira, no debate da TV Globo/Anhanguera, o candidato Dimas, ao anunciar a ação, elogiou a profissão de influenciador e destacou que grande maioria possivelmente nem sabia que estava cometendo ilegalidade.

É informado na ação que as postagens dos influenciadores são idênticas ou muito semelhantes, o que indica uma coordenação dos movimentos. "Além disso, a contratação, como não pode ser oficial, já que é proibida, estaria sendo feita via caixa 2, outro crime suficiente para cassar o registro de candidatura ou o mandato em eventual reeleição", segundo Dimas. 

Para completar, segundo Dimas, o mecanismo usado por Wanderlei é uma "clara burla ao sistema oficial de impulsionamento". "O candidato à reeleição apostou na propaganda positiva e ilegal via pessoas famosas nas redes sociais do Estado. Isso fez com que o gasto oficial de impulsionamento de propagandas no Youtube e no Facebook não chegasse a R$ 18 mil. O valor é muito semelhante aos gastos de candidatos proporcionais. Em contrapartida, foram gastos milhares de reais com os influencers - o que é expressamente vedado pela lei eleitoral. Alguns dos contratados têm mais de 1 milhão de seguidores, o que com certeza desequilibra o processo eleitoral, além de enganar a pessoa na rede social, pois se trata de uma propaganda não identificada e sem aviso prévio – situação bem diferente do impulsionamento", segundo o candidato Ronaldo Dimas. 

Quase 10 mil servidores 

A Aije de Dimas ainda reforça que o governo usou a máquina pública em benefício de campanha de Wanderlei, fazendo cerca de 10 mil contratações de servidores não efetivos em pleno ano de eleição. De acordo com Ronaldo Dimas, em outubro de 2021, quando Wanderlei assumiu o cargo provisoriamente após o afastamento do seu aliado Mauro Carlesse em ação criminal, o Estado tinha 22 mil servidores não efetivos na folha de pagamento. O número saltou para quase 31,2 mil em julho deste ano.

“Os milhares de contratos temporários, firmados precariamente e sem qualquer publicidade em 2022, não serviram para atender à situação emergencial, muito menos para corrigir déficit de pessoal, haja vista não haver encerramento de contratos temporários já existentes. Constata-se duas situações graves praticadas pelo Requerido. A primeira, que é a exoneração de servidores de livre nomeação, retirando dos quadros aqueles indicados pelo ex-governador Mauro Carlesse e seus aliados, e substituindo-os por cabos eleitorais que iriam garantir sua reeleição. A segunda, é que apesar do direito de livre contratação do Estado, ressalvado o disposto no artigo 73, já citado, nota-se vultoso inchaço na máquina pública, referente a formalização de milhares de contratos temporários desnecessários, aos quais, ante a precariedade, dificulta o acesso a provas mais contundentes, pelo que se faz necessário acionar esta Especializada”, frisa a ação, ao detalhar que o governo não tinha qualquer necessidade de expandir a quantidade de funcionários sem concurso público em tão pouco tempo.

Também candidato ao Governo do Tocantins, Irajá Silvestre (PSD), foi o primeiro a mover AIJE contra Wanderlei Barbosa, levantando a possibilidade de cassação por abuso de poder político.