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Educação

Foto: Manoel Lima

Foto: Manoel Lima

É um momento de muita alegria para todos os sete povos indígenas tocantinenses. Nesta sexta-feira, 27, acontece o encerramento do curso de Magistério Indígena, sediado no Centro de Ensino Médio José Alves de Assis, em Paraíso. Quarenta professores indígenas, que já ministravam aulas nas aldeias, agora concluem o curso, que tem duração de quatro anos. Uma oportunidade de melhorar a qualidade do ensino oferecido para as crianças e jovens indígenas no Tocantins.

“É um intensivão. As aulas acontecem durante o dia e a noite. Nos fins de semana são realizadas atividades especificas que abordam questões como a preservação do patrimônio público, o alcoolismo e o referencial curricular para as escolas indígenas”, explicou a coordenadora do curso, Lídia Soraya Liberato Barroso.

O curso de Magistério Indígena é dividido em dois módulos ao ano, que coincidem com as férias escolares de julho e janeiro, com duração de um mês. No total, estudam 154 professores indígenas.

Na escola, eles chegam das aldeias acompanhados de filhos e netos. Para envolver as crianças e jovens são desenvolvidas atividades diferenciadas. São trabalhos lúdicos, como o resgate das brincadeiras indígenas. Parte das salas de aula viram alojamentos, que recebem estrutura específica. “A logística para realizar um curso como este é grande. A própria Seduc coordena e realiza o curso, que antes era terceirizado. A economia com essa mudança foi de 50% dos gastos. As Diretorias Regionais de Ensino apoiam os trabalhos, que envolvem, na verdade, toda a Secretaria da Educação: técnicos, coordenadores, professores, motoristas e muitos outros profissionais. Mas é um prazer imenso saber que estamos trabalhando para o fortalecimento da cultura indígena”, contou o diretor de Educação Indígena e Diversidade da Seduc, Maximiano Bezerra.

Todas as etnias estão representadas no curso: Krahô, Krahô Kanela, Javaé, Xerente, Xambioá, Apinajé e Karajá. Ovídio Krahô dá aulas para alunos do 1º ao 9º ano e agora tem a oportunidade de aprender coisas que ainda não sabia e ensinar melhor seus alunos na escola. “Estou tirando muitas dúvidas que eu tinha sobre língua portuguesa, que era um desafio pra mim na sala de aula. Aqui os professores explicam e eu posso esclarecer pros meus alunos”, contou.

André Cohtat Krahô, professor das turmas de 2º e 3º ano e de 6º ao 8º ano, também valoriza o que tem aprendido. “Eu estou recebendo muitos conhecimentos importantes. Tinha muitas coisas que eu não sabia, agora eu sei como dar aulas, como planejar”, esclareceu.

Os professores que ministram as aulas são da própria Secretaria Estadual da Educação e também das etnias tocantinenses, que ministram aulas de línguas indígenas, além de professores das Universidades Federal do Tocantins e de Goiás. O professor Francisco Edviges Albuquerque, que só em 2011 publicou três livros sobre a etnia Apinajé (um dicionário, uma gramática e um de literatura indígena), conta que o mais gratificante é ver o interesse e os resultados obtidos. “Eu já trabalho há 16 anos com a língua indígena. Sou mestre e doutor nessa área e posso afirmar que eles são bastante interessados e veem positivamente essa capacitação, visto que eles conhecem a parte prática, mas a teórica é passada por nós, professores”, frizou.

Licenciatura Intercultural

A partir de 2012, as escolas em aldeias das etnias Apinajé, Xambioá, Xerente e Karajá darão um salto de qualidade. Elas começarão a receber os primeiros professores índios graduados em Licenciatura Intercultural Indígena pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Do Tocantins, 24 professores se formaram e colam grau em abril deste ano. A Seduc tem convênio com a universidade, o que permite que mais professores indígenas possam conseguir o diploma no ensino superior.

“Eu faço parte desse projeto há 15 anos e vi muitos professores do magistério que já fizeram o ensino superior. A maioria dos alunos que terminam esse curso são aprovados para o curso de Licenciatura Intercultural em Goiânia. Quando eles voltam para as aldeias a mudança é muito grande. Eles chegam mais preparados para melhorar a qualidade de vida na etnias”, líder do Grupo de Trabalho de Educação Indígena, Aldeli Alves Mendes Guerra.

No curso universitário, os alunos são submetidos a debates teóricos e políticos, que buscam contribuir com a construção de propostas educacionais que respeitem e incluam projetos tocados pelas comunidades indígenas. Eles são incentivados a produzir materiais didáticos que contemplem os conhecimentos elaborados pelos indígenas e a diversidade linguística em que eles estão envolvidos. Eles também aprendem a buscar condições para o desenvolvimento de projetos de sustentabilidade econômica e de políticas de revitalização e manutenção das línguas e culturas indígenas.

Leandro Lariwana Karajá se formou no curso de Licenciatura Intercultural é também professor do curso de Magistério Indígena. “É uma nova experiência pra mim. É a primeira vez que eu ministro aulas no magistério Indígena e é bom porque eu estou contribuindo para eles adquirirem mais conhecimento. Depois do início desse curso, melhorou muito a educação nas aldeias. Aqui os professores estão aprendendo a profissionalizar o ensino, aprendendo sobre planejamento, teoria e aprimorando as aulas”, explicou.

Jacira Sekwahidi de Brito Xerente, que é aluna de Leandro, resumiu bem o sentimento de quem participa desse processo de revolução na qualidade de ensino nas aldeias. “Pra mim isso aqui é um passaporte pra tudo. Vou terminar esse curso aqui e buscar o melhor pra mim. Vou estudar e passar na faculdade federal ou no curso de Goiânia. É difícil porque eu tenho que deixar a família, mas para buscar conhecimento pra minha aldeia eu vou onde for preciso e faço o que for preciso”. (Ascom Seduc)