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Opinião

A despeito do argumento, da razão e do entendimento, sou favorável ao diálogo. Mas, nesse momento em que o processo eleitoral já se mostra bastante definido, muitos perdem a compostura e a capacidade de dialogar, e com falácias, calúnias, vão apregoando o evangelho da destruição e do desamor. Primeiramente recorreram à xenofobia sem o menor constrangimento, o que me lembra de certo episódio da história ocidental, o III Reich, onde uma população de origem estrangeira, em sua maioria semita, mas também negros, ciganos, entre outras minorias, tiveram suas vidas roubadas e seus bens saqueados, culminando no maior holocausto humano da nossa era.

De repente, querem impingir um sentimento imediatista de brasilidade ao som de marchas patrióticas “eu te amo meu Brasil, eu sou brasileiro com muito orgulho etc. e tal.” Nada contra ser brasileiro e ter orgulho dessa condição. Eu o sou, mas isso não nos faz melhor do que outras pessoas, outros povos. E me lembra de outro episódio da história: os idos da ditadura militar no Brasil, cujo golpe foi antecedido de passeatas sob o lema “Deus, Pátria e Família”. E quem eram esses homens que mandaram milhares de inocentes para a prisão, para a tortura e para o desconhecido?

Não satisfeitos com a própria xenofobia, cujo resultado tem sido semelhante a um tiro no pé, no afã de retomar o caminho do paço municipal, agora resolveram divinizar suas atitudes recorrendo às sagradas escrituras, maculando-as. E para convencer os desavisados a não votar no estrangeiro citam Deuteronômio 17.15: certamente estabelecerás como rei sobre ti aquele que Jeová teu Deus escolher. A um dentre os teus irmãos estabelecerás como rei sobre ti.

No Brasil, alguns cargos não podem mesmo ser exercidos por estrangeiros como a presidência da República, entre outros. Estando, no meu entendimento, em harmonia com o texto bíblico. Com a diferença do poder hereditário do rei, suas atribuições e importância se equiparam às do presidente. A questão em Palmas é a escolha de quem vai representar a prefeitura, e a constituição assegura que cargo de prefeito pode ser ocupado por um estrangeiro.

Se lessem a Bíblia de verdade, saberiam que na genealogia de Jesus encontra-se uma estrangeira. Das terras de Moabe, Rute, viria a ser avó do mais importante rei hebreu, Davi, de onde se descende Jesus, o messias. E saberiam quais recomendações este livro faz acerca do estrangeiro. Vejamos algumas:

No livro de Levíticos 24.22 diz claramente: Uma e a mesma lei tereis tanto para o estrangeiro como para o natural; pois eu sou Jeová vosso Deus. E em Deuteronômio 24.17, um alerta: Não perverterás o direito do estrangeiro. Em Gênesis 23.4, o patriarca Abraão, peregrino em terras estrangeiras, recorre aos representantes do lugar solicitando um favor, a compra de uma área para sepultamento de sua amada esposa Sara. E é bem atendido em suas necessidades.

José do Egito era estrangeiro. E foi providencial para a vida e sobrevivência do povo egípcio, chegando a ocupar o cargo de governador-geral. O Capítulo 41 do livro de Gênesis explica detalhadamente. E Jó (31.32) em sua paciência e sabedoria declara: o estrangeiro não passou a noite na rua, mas abri as minhas portas ao viandante. O profeta Zacarias (7.10) declarou: não oprimais a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o pobre; nenhum de vós intente no seu coração o mal contra o seu irmão. Em Lucas 17.18, Jesus Cristo exalta a fé de um estrangeiro. No livro de Hebreus 11.13, diz que todos nós, viventes, somos estrangeiros e peregrinos sobre a terra.

Mas, voltando às eleições municipais, Palmas, como já se sabe, não é mais uma criança e tem autonomia para escolher o que é melhor pra si. O momento histórico em que vivemos não comporta mais velhos golpes e velhas práticas. Um novo tempo está surgindo.

* Carlos de Bayma é jornalista, escritor, cantor e compositor, vocalista da banda praZion! Publicou O Arquipélago (poesia, 2003), Acerca da Sorte e Mistério de Curimbã (conto, 2005) e O Menino Incendiário (poesia, 2010).