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Opinião

Wolfgang Teske é jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior

Wolfgang Teske é jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Wolfgang Teske é jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior Wolfgang Teske é jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior

Imaginem os leitores deste artigo. Se no dia da posse, um deputado estadual do Tocantins usa expressões de baixo calão para ofender manifestantes, que no seu legítimo direito alertam, contestam, pedem mudança e anulação de uma lei imoral, o que não fará ao longo de quatro anos de mandato.

O lamentável episódio ocorreu no dia 1º de fevereiro em frente a Assembleia Legislativa do Tocantins, dia em que os 24 deputados foram empossados em seus cargos. Nesta data, o deputado Osires Damaso foi eleito novamente presidente da Casa de Leis, que dizem ser a casa do povo. Ora, se é a casa do povo, por que ele não é ouvido neste momento? Por que não tem acesso com suas reivindicações, justas e ordeiras?

Enquanto o plenário era um recanto consagrado para uma "festa democrática" conforme determinam os rituais legislativos, outra manifestação democrática estava acontecendo do lado de fora, composto por um grupo de estudantes, professores de todos os níveis e militantes de movimentos sociais, portando faixas de protestos contra a concessão do auxílio-moradia de R$ 3,800,00 (três mil e oitocentos reais) por mês a cada deputado estadual. Além disto, o grupo pretendia entregar um abaixo-assinado com aproximadamente 3 mil assinaturas contra a instituição desta ajuda do auxílio-moradia aos deputados.

O que se viu foi lastimável. O deputado José Bonifácio, que não costuma medir suas palavras, segundo testemunhas, mandou que aqueles manifestastes fossem estudar em vez de protestar em frente a Assembleia Legislativa. Ora, vários daqueles eram professores e, inclusive doutores atuantes em universidades do Tocantins. E a coisa não ficou por aí. Afirmar que não tem medo deste tipo de movimentozinhos e mandar que protestem em outro lugar ainda é tolerável até certo ponto, entretanto ao afirmar que não está nem aí para este povo e que estes façam seus protestos na baixa da égua já é demais, pois ultrapassou todos os limites.

Quem pensa que ele é para ofender o cidadão, o manifestante, o povo e eleitor ali representado?

Buscando os dicionários para verificar exatamente o significa esta expressão é de se arrepiar, vindo de um "representante do povo". Há vários sinônimos para esta expressão maldosa: "Local distante, geograficamente desconhecido, para onde não se deseja ir e para onde outra pessoa que lhe atormenta deve ser mandada"; "Vá pro inferno"; "Vá a merda"; !Vá se fuder"; "Vá se lascar"; "Vá pro Quinto dos Infernos"; "Vá para casa da peste"; " Vá pra puta que pariu".

Agora pergunto: este cidadão, se é que o podemos considerar como tal, é digno do cargo que exerce? Certamente que não. A outra pergunta que faço: e os demais deputados, companheiros deste miserável permanecem calados sem contestar? Sem rebater? Sem explicar?

O que estou vendo é que todos eles estão coniventes com o caso, satisfeitos em receber este auxílio-moradia, pois como disse à imprensa o presidente eleito deputado Osires Damaso, que não pretende derrubar este benefício, aprovado no final do ano passado quando presidia a Casa de Leis - "O auxílio-moradia é uma maneira legal de dar conforto aos deputados para fazer um trabalho para o povo, então, não vejo porque não merecer".

E o que merecem os professores e demais manifestantes que estavam protestando? O que merecem os trabalhadores que vivem de salário mínimo? O que merecem enfermeiros e técnicos de enfermagem que lidam com a saúde humana, cujo salário mensal é menor do que o auxílio-moradia que os deputados receberão? E com o valor insuficiente para sustentar suas famílias, ainda tem que tirar o dinheiro para, em muitos casos, pagar o aluguel de suas casas?

Quanta imoralidade oficial. Quanta bobagem sendo dita por estes que deveriam respeitar o povo que os elegeu.

Por outro lado, sei que muitos eleitores venderam os seus votos e agora não podem mais reclamar. Afinal fizeram um negócio, um péssimo negócio e por isso podem ser mandados para a baixa da égua para fazer os seus protestos.

É lamentável uma Casa de Leis que age em benefício próprio, às custas dos impostos pagos pela sociedade que já está sacrificada em todos os sentidos. Este mesmo deputadozinho, na legislatura anterior, defendeu a concessão de auxílio-paletó. Se continuar assim, irá solicitar o auxílio-meia, cueca, calcinha para as esposas dos deputados ou sabe-se lá o que mais.

Clamo por respeito e ética na política, apesar de estar desesperançoso com este quadro que aí está. 

*Wolfgang Teske é catarinense de Blumenau-SC, jornalista, educador e teólogo, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Mestre em Ciências do Ambiente/Cultura e Meio Ambiente. Reside em Palmas-TO, desde 1992, onde implantou o Complexo Educacional da Universidade Luterana do Brasil, sendo o seu primeiro diretor. Foi diretor de Relações Empresariais e Comunitárias da Escola Técnica Federal de Palmas, hoje IFTO, na sua implantação. Atualmente, é professor e pesquisador da Universidade Federal do Tocantins. Autor dos livros A Roda de São Gonçalo; Cultura Quilombola; co-autor do Fotolivro Roda de São Gonçalo e diretor de produção do Filme A Promessa. É Cidadão Palmense e Membro da Academia Palmense de Letras - cadeira nº 17. Wolfgang Teske ainda escreve semanalmente em seu blog Alfarrábio Pensar.