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Foto: Divulgação

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O processo atual de globalização – ou melhor, da ocidentalização unilateral – da economia e da cultura ao redor do planeta é uma das causas principais da crise civilizacional pela qual a humanidade está passando. É o que afirmou o filósofo e sociólogo Edgar Morin, um dos maiores pensadores da atualidade, na conferência de abertura do Seminário Internacional Crise Civilizacional: Distintos Olhares, realizada às 19h desta segunda-feira, 22, na Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Palmas. O tema da palestra foi: “Em direção ao abismo? Quais as alternativas?”

De acordo com Morin, o processo ao qual nos referimos como “globalização” é, na verdade, uma disseminação do modo de produção ocidental – que, segundo o filósofo, é calcado no crescimento geográfico e econômico e no progresso tecnológico. “Nos anos 90 se falava sobre a 'globalização feliz', que permitiu a proliferação de conceitos como democracia, liberdade e independência de pensamento – principalmente entre os jovens – e de uma certa prosperidade às classes médias de países menos desenvolvidos, que tiveram acesso ao turismo, ao conforto”.

No entanto, para Morin, existe um lado infeliz dessa globalização, um processo onde esses mesmos conceito acabam nos intoxicando: aumentam a poluição, o consumo desenfreado e irresponsável dos recursos naturais, o consumismo, o egoísmo e a corrupção. Estes últimos geram as diferenças sociais, e, com essas diferenças, aumentam também a miséria.

“Esta difere da pobreza, na qual, apesar de se viver com menos recursos, ainda se cultiva uma certa independência, uma certa dignidade, como é o caso do agricultor que tem uma pequena produção e dela vive com parcimônia. A miséria não! A miséria gera dependência, não há dignidade. E, com a globalização, ela tende a se sobrepor à pobreza, mesmo em países desenvolvidos como a França, onde existem situações de miséria que outrora não existiam.”

Além das diferenças sociais criadas por este modelo, Morin observa que ele vem sendo aplicado como padrão, sem alterações, em diferentes culturas, sem levar em conta as tradições culturais e sociais de cada localidade. Para o filósofo, é preciso que se chegue a uma forma de desenvolvimento que leve em conta não somente a definição ocidental da palavra, mas a contribuição que pode ser dada por outras culturas – pensamento que vai ao encontro da proposta de pensamento complexo proposta por Morin.

“O processo mundial é um processo onde interferem diferentes fatores ao mesmo tempo, como a religião, a economia, a política e a demografia, e os conhecimentos parciais não são capazes de nos dar a realidade do conjunto. É como a arte da tapeçaria: os fios separados não nos dão a dimensão da obra completa. Esse princípio pode ser aplicado desde os procedimentos de pesquisa e da busca do conhecimento até ao próprio conceito de desenvolvimento mundial”, disse.

Morin destacou as visões de mundo de comunidades indígenas - que, aos olhos ocidentais, parecem “atrasadas”, mas que, na verdade, têm conceitos mais avançados de vida comum e solidariedade – e as dos países do sul em relação aos países do norte. “No sul, existe menos preocupação com o crescimento, com o cálculo, e maior com as verdades humanas, com a contemplação, com a qualidade de vida. Por exemplo, no Rio de Janeiro, se chove, se espera a chuva passar; na França, pega-se um guarda chuva e o trabalho continua”.

Para ele, esta é a saída: aproveitar as vantagens proporcionadas pelo modelo atual, lutar contra seus aspectos negativos e incorporar a ele o que de bom nos oferecem as demais culturas. “O futuro não está na generalização, mas sim na simbiose entre as civilizações, cada uma contribuindo com o seu melhor. O encontro do dar e do receber”.

O pensador francês lembra que é justamente nos momentos de crise em que paramos para analisar o que já foi feito de errado até então e começamos a buscar novas alternativas, a se ponderar o novo.

“O quadro que se desenrola diante de nós, econômica, social e ambientalmente falando, parece levar à catástrofe, e, provavelmente levará, se não tomarmos uma atitude. Nessa reflexão, é preciso levar em conta o impensado, o improvável; lembrar que o novo sempre é inesperado – pois, se já conhecêssemos o que está por vir, nunca haveria nada revolucionário. Se nos dispusermos a olhar o futuro com esses olhos, poderemos encontrar um novo caminho”, concluiu.

Realização

O Seminário é realizado pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre Política Civilizacional, com sede na França; do CDS/UnB - Centro de Desenvolvimento Sustentável, da Universidade de Brasília; da UFT e da Fundação Universidade do Tocantins. São apoiadores do seminário o Governo do Tocantins, por meio da Secretaria da Cidadania e Justiça, e o Incra/Ministério de Desenvolvimento Agrário.

Fonte: Secom