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Polí­tica

Foto: Márcio Di Pietro

Foto: Márcio Di Pietro

Morreu no início da noite desta terça-feira, 4, o ex-governador do Tocantins, José Wilson Siqueira Campos, aos 94 anos de idade. Personagem histórico do Estado, estava internado desde o dia 29 de junho em hospital particular de Palmas. 

"É com grande pesar que comunico a partida do Sr. Tocantins, o meu velho querido Siqueira Campos. Ele partiu sereno. As palavras estão todas gastas, mas jamais os sentimentos… Vai com Deus meu pai, esse Estado te ama!", declarou o filho, Eduardo Siqueira Campos. 

O ex-governador enfrentou quadro delicado de saúde nos últimos dias. Dia 29 de junho foi internado, com dor no peito, e em 1° de julho apresentou piora em decorrência de uma infecção pulmonar. Na noite de domingo, 2, o Boletim Médico informou melhora significativa após ser medicado com antibióticos. No entanto, na manhã desta terça-feira, 4, a família informou que Siqueira precisou passar por hemodiálise após sofrer crise renal aguda na madrugada. O ex-governador também apresentou quadro infeccioso de septicemia (sepse) - infecção generalizada. Em outro aviso, já no final da manhã, a família comunicou entubação.

Siqueira Campos realizava tratamento para câncer desde 2002. Em 2014 realizou cirurgia para retirada da próstata e em setembro de 2018 realizou uma cirurgia que durou 5 horas, quando os médicos retiraram todo seu intestino grosso (cólon) que estava com vários pontos de sangramentos em divertículos.

Já em outubro de 2022, o ex-governador novamente passou por uma cirurgia. Naquela feita realizou cirurgia abdominal videolaparoscópica de urgência para a retirada da vesícula biliar, que se apresentou severamente infectada devido à presença de um cálculo impactado. Naquela oportunidade, uma equipe multidisciplinar dirigida pelo médico cirurgião Pedro Cuellar esteve à frente do procedimento que durou três horas.

O ex-governador completaria 95 anos no próximo mês, no dia 1º de agosto. 

Velório 

O velório deve começar às 7h da manhã desta quarta-feira (5), no Palácio Araguaia. O sepultamento está marcado para acontecer no final da tarde no cemitério Jardim das Acácias, na Capital.

História de um visionário 

Siqueira Campos nasceu em Crato, Ceará, no dia 1º de agosto de 1928, filho do pernanbucano Pacífico Siqueira Campos - que tinha a profissão de seleiro e sapateiro - e de Regina Siqueira Campos.

Órfão aos 12 anos, depois da mãe falecer em trabalho de parto, viajou pelo País por quase dez anos, em busca de oportunidade, chegando a passar parte da adolescência nas ruas. Passou pelos Estados do Amazonas (onde foi seringueiro), Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Trabalhou em vários ofícios em diversas cidades, até chegar à cidade de Colinas de Goiás, atual Colinas do Tocantins, na região norte do Estado.

Em Colinas, Siqueira começou a trabalhar como madeireiro e fundou a Cooperativa Goiana de Agricultores. Posteriormente foi candidato a vereador, tendo sido eleito em 1965 com maior votação, fato que o credenciou para ser escolhido presidente da Câmara (1966), vindo ainda a liderar o movimento popular que pedia a criação do Estado Tocantins. Era então filiado a Arena, mas, ao longo de sua carreira política também integrou o PDS, PDC, PFL, PL e PSDB.

Siqueira também foi eleito deputado federal, reeleito por mais quatro mandatos, permanecendo no cargo entre 1971 e 1988, enquanto representante do norte goiano. Chegou a fazer uma greve de fome de 98 horas em favor da causa separatista. Siqueira foi deputado federal Constituinte e relator da Subcomissão dos Estados da Assembleia Nacional Constituinte, tendo redigido e entregado ao presidente da Assembleia Constituinte  (deputado Ulisses Guimarães) a fusão de emendas (conhecida como Emenda Siqueira Campos) que, aprovada, deu origem ao Estado do Tocantins, com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

A criação do Tocantins, pelos deputados membros Assembleia Constituinte, finalizou uma luta de quase 200 anos dos moradores do então Norte de Goiás em prol da divisão do Estado. Com o Tocantins finalmente criado, Siqueira Campos se elegeu o primeiro governador, para mandato tampão de dois anos (de 1º de janeiro de 1989 a 15 de março de 1991). Naquelas eleições foi eleito na oposição aos governos federal e estadual de Goiás, sendo que este último ainda exercia grande influência sobre política do recém-criado Tocantins. Foi o fundador de Palmas, contribuindo para a construção da capital tocantinense que é a última cidade brasileira planejada do século 20. 

Siqueira exerceu o cargo de governador do Estado do Tocantins por quatro mandatos (de 1989 a 1991, de 1995 a 1998, 1999 a 2002 e de 2011 a 2014). Renunciou ao cargo de governador do Tocantins em 5 de abril de 2014, juntamente com o vice João Oliveira (DEM). Posteriormente, nas eleições de 2018, colocou seu nome para a disputa de uma vaga ao Senado da República, mas na sequência, em decorrência das condições de saúde retirou seu nome da disputa e apoiou o atual senador Eduardo Comes (PL), ficando na sua suplência, vindo a assumir o cargo em 16 de julho de 2019 após licenciamento do titular Eduardo Gomes. 

Siqueira venceu as eleições de 1994 liderando a coligação União do Tocantins, um grupo de partidos que se tornou a maior força política do Estado, mobilizando um grande poder político no Estado por 10 anos, até seu rompimento em meados dos anos 2000. 

O ex-governador deixa os filhos Stela, Thelma, Ulemá, Regina, Junior e Eduardo Siqueira Campos do primeiro casamento com Dona Aureny Siqueira Campos; Leandro e Francisco, do segundo casamento com Marilúcia Leandro Uchôa Siqueira Campos; Pedro Siqueira e Sabrina, reconhecidos judicialmente.  (Matéria atualizada às 20h39min)