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Polí­tica

Foto: Divulgação

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Em artigo divulgado nas redes sociais e distribuído à imprensa, o empresário Nicolau Esteves, cotado como um dos pré-candidatos do PT na sucessão estadual de 2014, afirma que a falta de credibilidade política no Estado do Tocantins está afugentando investidores. Ele lembra que em pouco mais de quatro anos três governadores passaram pelo Palácio Araguaia e considera que o quadro se agrava com a possibilidade de renúncia do atual governador.

“A saída antecipada de Siqueira nem precisa se confirmar para agravar o ambiente de instabilidade política que se instalou no Tocantins; só o noticiário de uma possível renúncia ou cassação de mandato já gera desconfiança por parte dos investidores. Os investimentos ficam paralisados, aguardando o desfecho deste quadro”, comenta Nicolau Esteves.

O artigo aborda questões relacionadas à industrialização do Estado. O empresário observa que será necessário aumentar a produção mundial de alimentos em 70% para atender a população estimada para 2050 e destaca que o Tocantins precisa “trabalhar duro para aproveitar esta janela de oportunidade”. Mas é necessário, segundo ele, criar um ambiente em que haja perspectivas econômicas aliadas à estabilidade política e segurança jurídica.

Leia o artigo na íntegra.

 A industrialização na pauta do dia: instabilidade política afugenta investidores

por Nicolau Esteves*

Temos ouvido nos últimos dias falar muito que a solução para os problemas do Tocantins é a industrialização, com o que nós concordamos plenamente.

Entretanto, discordamos da maneira como o tema tem sido abordado, como se a industrialização fosse uma decisão unilateral, que se resolve só com palavras, e do dia para a noite as indústrias viriam aqui se instalar, num simples estalar de dedos.

Definitivamente não é assim que as coisas acontecem.

A industrialização passa por uma decisão firme do Estado, com a criação de políticas públicas sérias, que atraiam os investidores para aqui instalarem seus negócios.

Os investidores estão em busca, especialmente,de segurança política e jurídica e de retorno do capital investido, o que nos remete também ao risco.

A maioria dos investidores é avessa ao risco, para usar um linguajar das finanças. Portanto, eles estão sempre em busca de menor risco, de maior segurança, ou seja, de estabilidade.

Vivemos hoje no Tocantins um cenário em que a falta de credibilidade política, e de algumas instituições, tem afugentado os investidores e reduzido a capacidade do Estado de atrair novos empreendimentos. Os executivos interpretam como consideravelmente elevado o risco do capital investido.

A falta de credibilidade política salta aos nossos olhos. Em pouco mais de quatro anos, tivemos três governadores no comando do Palácio Araguaia, cada um com seu estilo próprio de gestão. O atual responde a uma ação de impugnação de mandato, que o acompanha desde a posse, e agora uma eventual renúncia do governador, em nome de um projeto político-eleitoral, é o assunto colocado na pauta do dia. A saída antecipada de Siqueira nem precisa se confirmar para agravar o ambiente de instabilidade política que se instalou no Tocantins; só o noticiário de uma possível renúncia ou cassação de mandato já gera desconfiança por parte dos investidores. Os investimentos ficam paralisados, aguardando o desfecho deste quadro.

Diante de um cenário que fragiliza o Estado, era de se esperar que o Governo viesse a público desmentir com rigor tais boatos, mas observa-se justamente o contrário: parece que a notícia é plantada na mídia pelo próprio Palácio.

E a estabilidade política exigida pelos investidores, onde fica?

Respeitadas as particularidades próprias da política, na gestão de um Estado é preciso ter sensibilidade e responsabilidade para sobrepor os conceitos técnicos aos aspectos meramente políticos. É nesse ambiente que os investidores confiam.

Todos concordamos que a industrialização deve ser tema predominante na agenda do Estado. Indústrias geram divisas e, na outra ponta, proporcionam emprego. Com mais gente no mercado de trabalho, estamos distribuindo renda e combatendo a desigualdade.

Mas, insistimos, não se deflagra um processo de industrialização com discursos. É necessário criar um ambiente em que haja perspectivas econômicas aliadas à estabilidade política e segurança jurídica.

É preciso que se respeitam os contratos. É preciso que as instituições garantam a segurança jurídica necessária para que o investidor tenha confiança e veja no Tocantins um porto seguro para seus investimentos; que o seu risco fique por conta apenas do chamado risco do negócio.

Por outro lado temos a questão do retorno, para fecharmos a equação financeira “risco x retorno”.

Com relação ao retorno temos que analisar os custos. Aí temos que falar em produtividade, ou seja, a competitividade de nossos produtos.

Ao falarmos em competitividade temos que falar no tripé: tecnologia de ponta, qualificação da mão de obra e pesquisa, ou seja, a produtividade.

Nesses quesitos estamos extremamente defasados. Basta observarmos os orçamentos anteriores e o do próximo ano e veremos que isso não é prioridade. Desta forma, como vamos ser competitivos?  

Temos uma oportunidade de ouro à nossa frente, mas temos que trabalhar duro para aproveitarmos esta janela de oportunidade. É sabido que será necessário aumentar a produção mundial de alimentos em 70% para atender a população estimada para 2050. E esta demanda virá principalmente dos asiáticos através de bens como carnes, lácteos e grãos.

A natureza fez a sua parte, privilegiou o Estado do Tocantins com terra, água, clima, localização geográfica e um povo trabalhador e guerreiro. Mas estamos perdendo tempo demais, por falta de políticas públicas austeras e adequadas.

Nossa produção de grãos tem batido recorde ano a ano, mas infelizmente não é por incremento de produtividade, mas sim por aumento da área plantada.Nosso índice de produtividade total dos fatores (PTF), que mede a produtividade, é um dos mais baixos do país, resultado da falta de investimentos no tripé tecnologia, qualificação e pesquisa.

Além da precária produtividade, temos custos elevados principalmente em itens como carga tributária, energia e logística.

O Estado do Tocantins pratica uma das cargas tributárias mais elevadas do país, e, por outro lado, são inconsistentes as políticas de incentivos fiscais. Temos também a energia mais cara do Brasil, ou quase isso, devido à falta de credibilidade da distribuidora, a Celtins, que não consegue preços competitivos nos leilões de energia. E o Governo, detentor de 49% das ações, de quem se esperaria uma ação mais proativa em defesa dos interesses do Estado, mantém-se inerte.

A logística é outro entrave. Neste aspecto, mais uma vez o Estado desperdiça oportunidades, na medida em que deixa de explorar seus extraordinários recursos hídricos. Apenas para fins de comparação, uma tonelada transportada sobre rodas tem um custo de aproximadamente R,00 reais. Sobre trilhos custa R,90 reais. Já o transporte pelas hidrovias tem um custo estimado inferior a R$ 1,00.

O Tocantins é um lugar admirável pela imensa quantidade de água de que dispõe. A natureza nos privilegiou, falta o Governo fazer a sua parte.

Completando o raciocínio, o Estado precisa apresentarpolíticas robustas de facilitação de crédito.Temos que encarar os fatos com muita seriedade e sem romantismo. Só com palavras, sem as correspondentes ações, não serão atrativos aos investidores.

É preciso que o Estado assuma esta agenda com competência, coragem, seriedade e acima de tudo que priorize a bandeira da industrialização, fazendo-a tremular para além do discurso e da falácia.

Nicolau Esteves é médico, administrador de empresas com especialização em Gestão Estratégica, diretor-presidente do ITPAC (Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos) e secretário municipal de Saúde de Palmas.E-mail: nicolauesteves@uol.com.br