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Foto: Divulgação

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Na última sexta, 26, dois pacientes que estavam internados no Hospital Geral de Palmas (HGP), aguardando cirurgia, faleceram por não terem sido submetidos aos procedimentos cirúrgicos que pela sua complexidade exigiam leitos de UTI para o acompanhamento no pós-cirúrgico. Um deles necessitava da cirurgia para correção de um aneurisma cerebral.

De acordo com um dos médicos da equipe de neurocirurgia do HGP, que não quis de identificar, algumas intervenções cirúrgicas da área só podem ser realizadas mediante a garantia de que um leito estará reservado ao paciente, quando esse sair do Centro Cirúrgico. “Não podemos fazer cirurgias tão complexas, que requerem leito de UTI, sem a garantia de que esteja disponível na unidade, para a utilização pelo paciente imediatamente após liberação do Centro Cirúrgico. Seria uma total irresponsabilidade da nossa parte, pois a nossa responsabilidade não acaba quando a cirurgia é feita, mas sim quando fazemos tudo que precisa ser feito, quando paciente tem alta, e sai com a sua vida preservada”, esclarece.

Ainda conforme o neurocirurgião, o problema reside no fato de a maioria dos leitos de UTI do HGP, mais de 70%, segundo ele, ser direcionada à assistência a pacientes com traumatismos em decorrência de acidentes no trânsito, sobretudo os motociclísticos. “As autoridades competentes precisam fazer alguma coisa. O prefeito (de Palmas, Raul Filho) tem que tomar providências. É inadmissível que pessoas continuem morrendo, por que muitas vezes temos que deixar de fazer aquilo que é de responsabilidade do HGP, como por exemplo, o atendimento à demanda referenciada, para fazer o trabalho que deveria ser feito pela prefeitura (de Palmas), se tivesse um Pronto Socorro para atender a demanda local”, desabafa.

Segundo o médico, o atendimento à demanda de acidentados do município de Palmas é de responsabilidade da prefeitura, e não do HGP. “É revoltante e frustrante para nós, médicos, que amamos fazer medicina, mas que nessas situações nos sentimos impotentes, por saber que em função da incompetência e irresponsabilidade da prefeitura, as mais de 20 pacientes que estão aguardando cirurgias de alta complexidade, que necessitam de leitos de UTI, podem morrer a qualquer momento”, alerta.

Na unidade, é consenso entre os médicos neurocirurgiões que a resolução do problema em médio prazo, seria a ampliação do número de leitos da UTI, já que o atendimento à demanda local vai continuar sendo feito, até que o PS municipal seja construído, ou que o redimensionamento do fluxo de atendimentos pelas Redes de Saúde, seja finalmente reorganizado e redefinido.

“Falo em nome de toda a equipe e volto a apelar: construam um Pronto Socorro, pensem que ninguém está livre de um aneurisma cerebral. Político também fica doente e tem parentes que adoecem. Eles, querendo ou não, na hora de uma emergência terão que utilizar nossos serviços, até porque a melhor equipe de neurocirurgia do Estado do Tocantins se encontra exatamente aqui no HGP. Pensem nisso e ajam! Não deixem que mais pessoas morram para tomarem uma atitude”, implora o neurocirurgião. “O que mais precisa acontecer para que o prefeito Raul Filho construa logo o Pronto Socorro? Não entendemos o por que da dificuldade que ele tem, em entender isto”, questiona.

O médico informou ainda que o HGP é referência em tratamentos que só podem ser realizados na instituição, mas que acabam sendo comprometidos por serem de média e longa duração, e para isso é necessário leito de internação, que sempre estão ocupados pelos “acidentados da prefeitura”.

Prefeitura de Palmas

Segundo a Diretora de Atenção à Saúde da Prefeitura de Palmas, Adriana Victor Lopes, existe uma pactuação que é feita de acordo com a política nacional de atendimento às urgências que é a portaria 2048 e se for sob a responsabilidade do município, o atendimento pré-hospitalar de urgência é feito com base nela. Segundo a diretora, se for necessária a internação por mais de 24 horas, o paciente é passado para o próximo nível que é o HGP.

Adriana Lopes afirma que 58% do custeio do HGP é bancado pelo município de Palmas e o ano passado a Prefeitura arcou com mais de 38 milhões para custear atendimentos relativos aos moradores do município. Segundo a diretora, o neurocirurgião está completamente por fora de toda a questão legal. Segundo ela, existe um acordo feito entre as três esferas de governo onde recursos do ministério da Saúde destinados a Palmas vão diretamente para o HGP. “Quando este neurocirurgião dá uma declaração desta, além dele estar sendo irresponsável, está sendo completamente ignorante, com relação à pactuação, com relação ao desembolso financeiro e com relação aos níveis de hierarquia que cabem a cada esfera de governo”, afirma Adriana.

Segundo a diretora, o HGP está sendo um hospital de porta aberta quando deveria ser de porta fechada, atendendo pessoas referenciadas. “Não sei por qual motivo qualquer pessoa que chega inclusive com uma unha encravada é atendida pelo HGP. O problema é o seguinte, não existe uma classificação de risco no HGP, não existe uma triagem e estão ocupando leito de forma errada. Culpar Palmas que este paciente não foi atendido porque Palmas está ocupando os leitos isto é uma irresponsabilidade. Estes leitos estão sendo muito bem pagos. Inclusive Palmas responde por 24,5% da população atendida no HGP e está pagando 58%”, alfineta a diretora.

Hospitais

Segundo a diretora, dos hospitais municipais prometidos pelo prefeito Raul Filho ainda durante a primeira campanha eleitoral e que poderiam resolver parte do problema, um já está em fase final de construção. O outro enfrenta problemas de repasse por parte do ministério da Saúde. “Houveram problemas de repasse de FPM - Fundo de Participação dos Municípios -, queda da arrecadação e o ministério não pode arcar com os compromissos que ele havia assumido”, afirma a diretora.

Segundo Adriana, a maior parte dos recursos que estão sustentando tanto o HGP quando o Hospital Dona Regina são recursos municipais.