Conexão Tocantins - O Brasil que se encontra aqui é visto pelo mundo
Opinião

No ano de 2002, o Brasil inteiro tomou conhecimento daquela que, possivelmente, foi a primeira operação policial brasileira "batizada" com um nome impactante: a operação “Arca de Noé” que teve como principal objetivo desfacelar o jogo do bicho em Mato Grosso, a partir de então, virou moda "batizar" as ações policiais e de investigações.

No Tocantins, há poucos meses, tomamos conhecimento da Operação “Maet” que investiga o judiciário tocantinense. Mais recentemente, no dia 20 de abril a Polícia Civil do Tocantins lançou a Operação Zumbi de combate ao tráfico de drogas. Considerando que a polícia esteja cumprindo um de seus papéis, o de investigar e prender os traficantes de entorpecentes da capital, somos elogiosos. Entretanto, não podemos deixar de refletir sobre a gravidade de se denominar a ação de Operação Zumbi.

Zumbi dos Palmares nasceu em 1655 e, por suas habilidades intelectuais e marciais se tornou um respeitável estrategista militar e guerreiro. Aos 25 anos de idade, substituiu Ganga Zumba, seu tio e até então líder de Palmares, e liderou o quilombo por aproximadamente 15 anos, sempre lutando e defendendo todo o seu povo da tirania dos senhores escravagistas da época.

Zumbi é para a população negra e para uma parte muito significativa dos demais brasileiros, o símbolo maior de resistência, digno de ser condecorado com as mais altas honrarias, razão pela qual jamais se deveria associar o seu nome a questões tão degradantes para a sociedade como são as drogas.

É compreensível que nem todos saibam e reconheçam os heróis da nossa pátria, entretanto, é dever de todo cidadão e de toda cidadã respeitar a nossa história e, por consequência quem a constrói, por isso mesmo, lamentável que uma ação tão relevante seja maculada pela expressão que evidencia o racismo, consciente ou não, de membros da nossa respeitada polícia civil tocantinense.

Muito embora ainda existam alguns que neguem o racismo no Brasil, é urgente o reconhecimento dessa doença social, como única possibilidade de avançarmos rumo à cura. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, registrado na pesquisa nacional por amostragem domiciliar (PNUD 2008), mostra que para 71% das pessoas negras, a cor da pele influencia na hora de uma contração, que para 44,1 % ser negro influencia no acesso à saúde e que para 68,3% das pessoas negras as suas características étnico-raciais, influenciam nas relações com outras pessoas, no convívio social.

Assim, na expectativa do garboso ato da polícia civil de renomeação da operação e retratação pública pelo ato cometido, vimos conclamar a sociedade tocantinense a lutar contra toda forma de preconceito, pois esse é um dos maiores males humanos aprendidos e desenvolvidos ao longo da vida. Reflitamos no que disse o ex-presidente africano, Nelson Mandela: "para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar". Viva Zumbi!

* Elis Raik Miranda de Carvalho, professor, especialista em história da áfrica e cultura negra, Secretário Estadual de Combate ao Racismo do PT, membro do Fórum Estadual de Educação e Cultura Afro-Brasileira. elisraik@gmail.com - twittet - @raikmiranda - facebook/elisraik