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Indígenas do Paraguai jogam contra representantes da etnia brasileira Gavião

Indígenas do Paraguai jogam contra representantes da etnia brasileira Gavião Foto: Marcelo Camargo

Foto: Marcelo Camargo Indígenas do Paraguai jogam contra representantes da etnia brasileira Gavião Indígenas do Paraguai jogam contra representantes da etnia brasileira Gavião

Tinha tudo para ser a final do futebol dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI). Mas a tabela colocou os dois dos melhores times do campeonato - a seleção indígena do Paraguai e a equipe dos Kyikatejê e Parakatêje, ou Gaviões, como são mais conhecidos – frente a frente logo nas quartas de final. Depois de empatarem sem gols no tempo regulamentar, o Paraguai converteu dois dos três pênaltis e avançou para as semifinais. Os Gaviões desperdiçaram suas cobranças e despediram-se do campeonato.

O nível de envolvimento da seleção do Paraguai e do time dos Gaviões com o futebol é um pouco diferente do que se viu nos Jogos Indígenas. Enquanto a maioria das equipes é formada por jogadores amadores, que praticam o esporte em suas aldeias e em pequenos campeonatos locais, os Gaviões disputaram a primeira divisão do Campeonato Paraense deste ano e o Paraguai tornou-se o melhor time de futebol indígena da América Latina de forma invicta.

O Gavião Kyikatejê Futebol Clube é um clube indígena profissional de futebol e trouxe para os Jogos Indígenas sua equipe sub-20. O time principal permaneceu no estado para a disputa da segunda divisão do Paraense, seis meses depois da queda para a divisão de acesso do estadual. Mas a equipe acabou eliminada no último domingo (25) da competição.

A seleção paraguaia foi convocada em abril, já de olho no torneio continental de futebol indígena e neste Mundial. Formada por jogadores dos povos guaraní ocidental, avá guaraní, enlhet norte, enlhet sur, guaraní ñandeva e aché, o time fez história ao se sagrar como primeiro campeão da Copa América dos povos originários, realizada em julho no Chile. O Paraguai conta com um campeonato  nacional de indígenas e o apoio da Secretaria Nacional de Desportes, entidade que organiza a política esportiva do país. A seleção indígena tem, inclusive, o mesmo fornecedor de material esportivo que patrocina a “Albirroja” - como é chamada a seleção profissional. 

O jogo

Apesar disso, os meninos Gaviões não se intimidaram com o peso da camisa paraguaia, fazendo um dos jogos de melhor nível técnico e tático do campeonato. A intensidade da disputa acabou deixando a partida mais pegada, com duras faltas para os dois lados e várias oportunidades de bola parada. 

Aplicados na marcação, os indígenas do Pará, que eliminaram a Argentina nas oitavas de final, forçavam o Paraguai a trabalhar a bola na intermediária, tentando achar uma brecha para a finalização. O campo molhado pela chuva fez com que a bola corresse mais rápida, matando algumas boas chances de gol. As boas defesas dos goleiros Kukakrykre Horakraktaré e Bartolome Berguen também garantiram o 0 a 0 no placar, levando a partida para os pênaltis.

Knowakreti Irma abriu a série de cobranças para o Gaviões, errando o primeiro chute de cara. O atacante tentou tirar a bola do goleiro e acabou chutando para fora. Edgar Aponte bateu bem na bola e acertou o canto direito do goleiro, que caiu para o outro. Knowakratare Ampeiti teve a chance de empatar para os Gaviões, mas acertou a trave direita. Coube a Raúl Amarilla bater o pênalti da classificação.

O técnico dos Gaviões, Jacuri, ressaltou após a partida que os jogadores estão tendo que se desdobrar para jogar o campeonato e participar das demais provas: “Nossos meninos estão competindo em várias modalidades. Eu ainda não vi o Paraguai competindo lá na Arena. A gente jogou no cansaço, mas fomos para cima e mostramos o futebol que a gente sabe”, elogiou o treinador, que só esperava cruzar com o Paraguai na decisão. 

“Pênalti é loteria. Quem for mais eficiente, leva. Saímos de cabeça erguida porque para enfrentar o Paraguai, empatar e jogar de igual para igual é muito difícil. Eles têm um time muito forte e muito estruturado. Para a gente, foi uma vitória. Eu não vou brigar nem falar nada com eles, porque eles estão de parabéns. Onde eles chegaram, muitos queriam chegar”, afirmou Jacuri. 

Knowakreti Irma salientou o espírito aguerrido da equipe após a derrota: “A gente não desistiu porque os Gaviões não desistem. Queríamos chegar na semifinal e final, mas não deu. Não treinamos pênalti porque viemos na pressa, mas é assim mesmo”. 

O goleiro Berguen, do Paraguai, exaltou a amizade que fica entre os povos: “Foi um jogo difícil. Enfrentamos um rival exigente nesta rodada, mas tivemos humildade e a oportunidade de mostrar nossa habilidade”, comemorou. “A disputa de pênaltis foi emocionante. Sabemos que o Brasil tem finalizadores de alto nível. Quem sabe um dia eu possa defender uma cobrança do Ronaldinho (Gaúcho)?”

O preparador físico da seleção paraguaia, Marcos Coronel, admitiu que foi difícil vencer os Gaviões: “Foi muito disputado. Perdemos oportunidades porque os adversários se fecharam bem atrás. O campo estava pesado e a bola correndo rápido, o que aumentou o desgaste dos atletas. A partir de agora, seguirão aqueles que tiverem mais coração”. E faz questão de escantear o favoritismo: “Somos os campeões da Copa América, mas temos que mostrar esta competência diante de todos os outros times”. 

Semifinais 

Já está certo que a final do masculino terá um time brasileiro e outro estrangeiro. Os Xerentes fazem uma das semifinais com os Karajás. A bola rola nesta quinta-feira (29), às 7h30. Em seguida, às 8h45, o Paraguai enfrenta a Bolívia. Os dois jogos acontecerão no estádio Nilton Santos, sempre no horário de Palmas.

No feminino, as Tapirapés enfrentam as Xerentes, às 7h30. O Canadá joga contra as Guarani-Kaiowás, donas da maior goleada das quartas de final: 10 a 1 em cima das mulheres do povo Erikbatsa. As finais serão na sexta-feira e começam às 19h30 (horário de Palmas), no estádio da cidade, com entrada gratuita. (EBC)