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Opinião

Foto: Divulgação

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Como se explica o enigma Bolsonaro? Lidera as pesquisas, principalmente quando Lula não aparece como candidato, mas o PR e o PRP acabam de recusar parceria com seu partido, o PSL, que esperava o apoio de uma onda bolsonarista com 100 deputados. Até agora este contingente não deu as caras. Qual a razão para o isolamento do capitão? A essa altura, a menos de três meses do pleito, era de esperar que uma enxurrada de adesões transferisse ao pré-candidato da extrema-direita a condição de favorito inquestionável à cadeira presidencial. Pois bem, inquestionável ele já não é.

Expliquemos as razões. A começar pela paisagem social, onde sementes se espalham fazendo brotar tanto nos roçados centrais como nos terrenos periféricos uma floresta de ressentimentos contra os protagonistas da política. Por sua conhecida verve contra petistas, na esteira de uma linguagem centrada em plataforma recheada de posições conservadoras, o deputado Jair elevou-se à condição de inimigo número 1 das esquerdas e seus porta-vozes, a começar por Lula. Dessa forma, conseguiu construir o seu “muro”, para usar uma metáfora pinçada da construção que Donald Trump prometeu ao seu eleitorado e cujo foco é o combate à migração a partir do México.

O “muro” de Trump ganhou o sistema cognitivo do eleitor conservador e nacionalista. O “muro” de Bolsonaro é a defesa da sociedade contra a bandidagem, além da promessa de combater “esquerdistas” de todos os quadrantes, principalmente aqueles que usam o verbo para lembrar a era da opressão aberta pelo golpe militar de 1964. Trata-se de um representante que expressa as ideias do nacionalismo à moda antiga, com uma abordagem amparada na burocracia militar-desenvolvimentista. Também é acusado por adversários de ser “autoritário, truculento, racista e homofóbico”.

Chegou a defender o fuzilamento de Fernando Henrique pelas privatizações que ele fizera, o que mostra a propensão para produzir frases de efeito, porém de alta aceitação em seus eleitores: “bandido bom é bandido morto”, “a polícia deveria matar mais”, entre outras. Promete, caso ganhe, inserir muitos militares no governo, porque são “incorruptíveis e moralmente superiores aos políticos”.

Nesse ponto, convém pontuar sobre a polêmica que seu discurso propicia. Se as massas aplaudem a “linguagem militarista”, sob o entendimento de que um militar no governo seria mais adequado para manter a ordem e a segurança social, o meio político teme por seu futuro, enxergando em Bolsonaro o dirigente que tolheria a inserção de políticos na estrutura governativa, restringindo o balcão de trocas e fechando o circuito de interlocução entre Executivo e Legislativo.

A par da sombra autoritária que acompanha Bolsonaro, há dúvidas sobre      seu desempenho até a reta final.  Seria possível a algum candidato, por mais populista que seja, suportar o massacre de atores que na campanha terão grande tempo de TV e rádio? Sem coligação, o capitão disporá de míseros 7 segundos. Poderá ter as redes sociais como artilharia. Ora, redes sociais não elegem ninguém. Mobilizam a militância. Essa é a dúvida que persiste no meio político, razão pela qual, apesar de liderar intenções de voto, Jair Messias Bolsonaro não sai do isolamento. Partidos receiam assumir compromisso com uma figura que abre tantas interrogações.

O enigma Bolsonaro continuará até mais adiante quando a campanha pegar fogo. Caso consiga atravessar a fogueira sem se queimar, é razoável pensar em milagre. A Bíblia não diz que o Messias andou sobre as águas na direção de seus apóstolos? Jair Bolsonaro tem um Messias de sobrenome.

Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato