A Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas/TO) completou nesta última segunda-feira, 12 de agosto, 10 anos de criação com expressivos números em sua infraestrutura, pesquisa e transferência de tecnologia. Segundo os dirigentes do centro de pesquisa, algumas das maiores conquistas foram a própria construção da Sede – que demorou cinco anos para ser entregue e consumiu mais de 54 milhões em obras de infraestrutura e equipamentos – e a consolidação da aquicultura como um tema de pesquisa da Embrapa. Atuando nas áreas de pesca, aquicultura, sistemas agrícolas e importantes culturas que movimentam o agronegócio, como soja, milho, arroz, feijão, algodão e mandioca na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o centro de pesquisa é um marco na visão de membros governo do estado e do setor produtivo. “Essa instituição tem reconhecimento internacional e é protagonista no Tocantins, gerando uma plataforma muito significativa no desenvolvimento regional, principalmente na aquicultura e na piscicultura, que é o foco, o nome que leva essa unidade”, atesta Thiago Dourado, presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins).
Ao comemorar dez anos, a Embrapa Pesca e Aquicultura também obteve a importante conquista de liderar o maior projeto de pesquisa em aquicultura já realizado no País, o BRS Aqua, um marco em investimentos no tema, fruto da parceria entre Embrapa, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a atual Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, ligada à Presidência da República, (SEAP). Iniciado em 2018 e orçado em 57 milhões de reais, o projeto visa estabelecer a infraestrutura e a pesquisa científica necessárias para atender a demandas do mercado de aquicultura.
Francisco Medeiros, presente da Associação Brasileira da Piscicultura, a Peixe BR, destaca a importância do centro de pesquisa e do BRS Aqua. “Nós acreditamos que essa unidade da Embrapa é fundamental nesse momento que passa a piscicultura no Brasil, um momento de crescimento, de desenvolvimento, e principalmente de ganho de competitividade”, atesta ele. “Nós temos em andamento o BRS Aqua, que acreditamos que fará a diferença no nosso setor. Temos que comemorar e trabalhar para que tenhamos ainda mais resultados, mas esses dez primeiros anos são um marco bastante significativo na piscicultura do Brasil”.
Uma década de lutas e vitórias
A jornada desde a criação da Embrapa Pesca e Aquicultura foi marcada por grandes desafios. Desde a falência da construtora responsável por executar a obra de construção da sede, até diversos cortes orçamentários do governo federal, passando pela recessão que tomou conta do país e o fim do Ministério da Aquicultura e Pesca. “Internamente, construir um centro no Norte do país, com diferença de clima, dificuldade de acesso, diferenças culturais, trazendo concursados de todas as regiões do país também não foi fácil”, relembra Eric Arthur Bastos Routledge, chefe de P&D da Embrapa Pesca e Aquicultura. Para ele, o saldo é positivo, apesar reconhecer a impossibilidade de atender a todas as demandas do setor produtivo. “Temos um grande gargalo que é a falta de mão de obra. Temos um centro que deveria abrigar no mínimo 200 colaboradores e hoje só temos 86. As demandas são muitas, pois em aquicultura temos mandato nacional e em sistemas agrícolas nossa atuação é regional. Nossa equipe já está operando no máximo e não tem mais para onde se expandir. Estamos tendo que adiar novos projetos para que possamos concluir os que estão em execução”, lamenta Routledge.
Alexandre Freitas, chefe geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, concorda. “A falta de pessoal é nosso maior entrave pra continuarmos atendendo às demandas, que são cada vez maiores”, diz. Para ele, o lado positivo foi a equipe ter desenvolvido uma grande capacidade de estabelecer parcerias com outras unidades da Embrapa, universidades, instituições públicas e privadas e com o setor produtivo. Tudo para superar as limitações de pessoal e de instalações, que demoraram anos para ser finalizadas. “Com todos os entraves, mesmo assim conseguimos montar uma carteira de projetos ampla, abrangente, articulada com parceiros, com UDs, atendendo vários estados do país, e isso não é pouca coisa”, afirma Freitas.
‘A chegada da Embrapa trouxe a redenção da atividade’
Uma das grandes parceiras da Embrapa Pesca e Aquicultura é Miyuki Hyashida, proprietária da na Fazenda São Paulo, que produz alevinos de peixes nativos. Para ela, a Embrapa Pesca e Aquicultura é um divisor de águas para o setor. "Há quase trinta anos estamos na atividade. Durante muito tempo enfrentamos resultados ruins e problemas de todo tipo, desde sanidade, valores, venda, mercado até produto com má qualidade, etc. A chegada da Embrapa trouxe a redenção da atividade, dando um toque de mágica, onde tínhamos que melhorar, aprender, crescer, tecnificar, houve trabalhos grandiosos de pesquisa, capacitação e informações. Hoje a cadeia do peixe tem credibilidade suficiente para ter políticas públicas sérias, que vão ajudar a nos tornar grandes produtores!", elogia ela.
Para Jenner Bezerra de Menezes, diretor de projetos da empresa Biofish Aquicultura, de Rondônia, o centro de pesquisa foi fundamental para incrementar a aquicultura no Brasil. “Essa Unidade era o que faltava na aquicultura brasileira para ganhar musculatura, através de processos tecnológicos apropriados para as espécies brasileiras”.
Milhões em ganhos econômicos para produtores
Criada em 12 de agosto de 2009, a Unidade aumentou consideravelmente a presença da Embrapa no Tocantins. É que apesar de haver uma Unidade de Execução de Pesquisa (UEP) da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) atuando desde 1999, a equipe era muito reduzida, contando com apenas cinco empregados.
De lá para cá, a Embrapa Pesca e Aquicultura trouxe importantes contribuições ao setor produtivo, entre as quais destacam-se um pacote de soluções tecnológicas para produção de pirarucu; o drawback, estudo para viabilizar a isenção de impostos federais na compra de insumos utilizados na produção de tilápia para exportação; o Plano ABC, que envolve o desenvolvimento de sistemas de produção integrados, intensivos e sustentáveis, entre outros. No Tocantins, foram executadas ações que proporcionaram aumento de mais de 500 mil hectares de áreas que adotaram tecnologias sustentáveis, ligadas às diferentes possibilidades de integração entre lavoura, pecuária e floresta.
Outro projeto de destaque, o ABC Corte, proporcionou ganhos econômicos de mais de 33 milhões de reais em 2017, com tecnologias adotadas por produtores rurais, sobretudo sojicultores. A Embrapa Pesca e Aquicultura também forneceu subsídios para inserção do pescado nas políticas públicas de apoio à comercialização de produtos da pesca artesanal e piscicultura familiar.
Números expressivos em pesquisas e infraestrutura
Atualmente a Embrapa Pesca e Aquicultura conta com 86 funcionários, dentre os quais 33 pesquisadores. Além desses, há sete colaboradores de outros centros de pesquisa da empresa lotados em Palmas. A Sede conta com 30 laboratórios e um campo experimental voltado à aquicultura, composto por tanques escavados, estruturas de suporte e um banco de germoplasma que vai preservar e permitir pesquisas com peixes nativos.
Em dez anos a Embrapa Pesca e Aquicultura realizou um intenso trabalho de transferência de tecnologias. Foram realizados mais de 500 eventos, entre cursos, palestras, oficinas, encontros, dias de campo e outras modalidades. O público beneficiado com essas ações supera 50.000 pessoas e a carga horária de conhecimento compartilhado alcançou 3.343 horas.
Outro destaque é na área de publicações, que são editadas e disponibilizadas gratuitamente no portal eletrônico da empresa – o www.embrapa.br/pesca-e-aquicultura. Desde sua criação, já foram disponibilizadas 787 publicações, e seu número de downloads também é bastante significativo: mais de 163.000, com destaque para os mais de 57.000 downloads realizados só em 2018. Desses, 40,27% foram originados dos Estados Unidos e 40,57% do Brasil.
Para os próximos anos, as metas são ambiciosas, mas não impossíveis. “Tenho certeza de que, se conseguirmos aumentar nossa equipe, seremos um dos principais players do setor de aquicultura do país”, aposta Alexandre Freitas. “Minha expectativa é que o nosso centro de pesquisa contribua para a urbanização do entorno e melhoria dos serviços públicos dessa região onde estamos instalados”, revela Eric Routledge.
Produtores como Menezes, também estão confiantes do que ainda está por vir. “Temos alguns termos de cooperação técnica com a Embrapa Pesca e Aquicultura, que prevê modificar positivamente a cadeia produtiva do tambaqui e do peixe nativo brasileiro. É um trabalho de melhoramento genético, melhoria de proles com monitoramento de cruzamento e outras tecnologias, ainda na fase de pesquisa, que temos a intenção de desenvolver e obter sucesso nessas ações”, enumera ele, que também aposta alto: “Com isso vamos mudar o capítulo da produção de peixes nativos do Brasil. Estamos muito confiantes e muito crédulos que esse termo de cooperação será muito produtivo e exitoso com o peixe nativo brasileiro”.