A expedição para realização do censo populacional do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) constatou que a quantidade de indivíduos presentes no rio Novo, na região do Jalapão, foi menor em relação à última contagem, realizada em 2019, quando foram contados 25 adultos e oito filhotes. “Contamos um número menor do que o registrado no último censo; registramos apenas 10 indivíduos e seis filhotes”, informa Marcelo Barbosa, biólogo e pesquisador do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).
Ele adiantou que novas etapas de buscas da presença da espécie em outros lugares do Brasil serão feitas no próximo ano e também no Tocantins. “Ano que vem, devemos explorar outros rios do Jalapão em busca de novas evidências e ocorrência do pato-mergulhão”, disse, antecipando que as buscas se concentrarão nos rios da margem Oeste da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins e também ao Norte do Parque Estadual do Jalapão, como o rio Caracol.
O biólogo explica que ainda é cedo para determinar as causas desse menor número de indivíduos encontrados. Algumas hipóteses foram levantadas pelos pesquisadores, mas ainda é preciso tempo e muito trabalho de campo para entender.
Apesar do pato-mergulhão ser um bioindicador, ou seja, capaz de sobreviver apenas onde as águas são limpas e transparentes, cercados por matas ciliares, com ecossistema em equilíbrio, o baixo número de indivíduos no rio Novo não significa que o ambiente não esteja mais propício. “Os indivíduos adultos identificados em 2019 podem ter mudado para outras áreas para tentarem se estabelecer”, seria uma hipótese levantada, ou ainda, o sucesso reprodutivo no ano anterior (2020), não tenha sido bom, sugere Barbosa.
Um registro positivo feito pela expedição foi a presença de indivíduos em fases diferentes de vida, a exemplo de dois casais com filhotes, presentes no rio Novo, no interior da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins e o mapeamento de dois novos ninhos da espécie nessa importante Unidade de Conservação Federal.
Além de fazer o censo para determinar a quantidade de patos-mergulhões no rio Novo, a expedição percorreu os rios Soninho, em São Félix, e Manoel Alves, em Rio da Conceição, se estendendo até os afluentes da margem esquerda do rio São Francisco (noroeste da Bahia), com objetivo de investigar se há ocorrência da espécie nesses locais. “Infelizmente nesses rios nenhum indivíduo foi registrado, o que nos intriga quanto à sua ocorrência local.”
Fora o Naturatins, a expedição contou com pesquisadores e biólogos da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e da Fundação Pró-Natureza (Funatura) e um técnico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins).
Essas ações estão previstas no Plano de Ação Nacional da espécie, no qual o Naturatins participa e apoia, inclusive com aporte técnico, logístico e financeiro. Também o PAN conta com apoio financeiro em nível nacional da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O Plano de Ação Nacional (PAN) do pato-mergulhão é coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O biólogo do Naturatins diz, por fim, que havendo necessidade, como em anos anteriores, pode haver nova coleta de ovos na natureza para garantir a sobrevivência da espécie. “Em 2015 e 2017, nós realizamos coletas de ovos da espécie na natureza e, hoje, estão sob cuidados humanos em uma instituição, onde vêm se reproduzindo para futuras reintroduções na natureza”, acrescentou Barbosa, concluindo que a previsão de que o censo seja repetido nesse trecho do rio Novo ao menos num intervalo de dois anos para que possamos entender essa variação no número de indivíduos registrados e sua dinâmica populacional.