Governança corporativa (GC) e padrões ESG apenas para médias e grandes empresas? Este ainda é o pensamento entre muitas PMEs, o que evidencia um dos grandes desafios no mercado corporativo.
Primeiro é preciso desmistificar a ideia de que a profissionalização por meio da GC estruturada e a implementação de iniciativas sustentáveis ESG são inacessíveis às PMEs.
Assim como os negócios, independentemente do segmento ou porte, necessitam de instrumentos de gestão como planejamento financeiro e estratégico, gestão de custos, entre outros, não seria diferente quanto às métricas de sustentabilidade!
Sair do ciclo de sobrevivência baixa das PMEs no Brasil, destacando aqui a modalidade de empresas familiares, dependerá do esforço dos gestores também quanto às iniciativas sustentáveis.
Com ampla experiência no cenário corporativo, como CEO à frente da Morcone Consultoria Empresarial e conselheiro consultivo, atuando principalmente em PMEs auxiliando-as na implementação do ESG e da governança corporativa estruturada, Carlos Moreira aborda o tema ESG nas PMEs.
ESG nas PMEs – da conscientização à implantação
Em levantamento divulgado ano passado pelo Sebrae (O Engajamento dos Pequenos Negócios Brasileiros às práticas ESG), 81% dos gestores de micro e pequenas empresas afirmaram desconhecer o termo ESG (sigla em português para Meio Ambiente, Social e Governança).
Das empresas analisadas, 84% daquelas localizadas nas regiões Sul e Sudeste, estranham o termo ESG, já os empreendedores da região Norte demonstraram mais familiaridade com o assunto.
O ESG impacta na imagem e reputação do negócio diante dos stakeholders, assim como atrai clientes e investidores, sendo importante estrategicamente para promover a expansão do negócio no mercado.
Mergulhando nos benefícios da sustentabilidade empresarial, compreendem-se as práticas ESG como importante meio para a viabilização de valor à empresa, assim como para o aperfeiçoamento da capacidade de gestão e dos processos sociais e produtivos de um modo geral.
Antes de qualquer ação é fundamental que as empresas sejam conscientizadas quanto ao ESG e compreendam que tanto a governança corporativa estruturada quanto práticas ESG podem ser adaptadas ao tamanho e às necessidades do negócio.
Talvez por essa falta de clareza as PMEs acreditem que ESG e governança só funcionam em grandes organizações, afinal, se compararem os seus projetos, necessidades, realidade, entre outros fatores, a ideia que se terá é a de que ESG só contempla as maiores companhias.
Com algumas ações, é possível promover o ESG nas PMEs, de maneira que acolha sua realidade e, claro, sua visão de futuro!
Promovendo iniciativas sustentáveis em PMEs – olhando para dentro para ir mais longe!
Abaixo separei alguns pontos importantes a serem considerados quanto ao investimento em projetos sustentáveis entre as PMEs, com base em meus atendimentos ao setor, principalmente em empresas familiares.
Invista em projetos do tamanho do seu negócio
Como já mencionado, um dos erros das PMEs é acreditar que deveria investir nos mesmos projetos sustentáveis que as grandes empresas.
É fundamental enxergar a própria realidade, a sustentabilidade do próprio negócio, sobrevivência e pensar em investimentos que se adequem ao seu tamanho e à sua capacidade de investimento.
Pense em projetos sustentáveis que você saiba que terão retorno financeiro e que façam sentido ao seu negócio e à sua realidade.
Comece pelo G “governança”
Inicialmente ao pensar em ESG, pela ordem das siglas, muitos pequenos e médios empresários pensam imediatamente no ‘E’ (environmental = meio ambiente) e ‘S’ (social), mas pouco se atentam ao ‘G’ de governança, o pilar que mantém os demais!
Como posso começar a vivenciar a governança em minha empresa? Quando você pensa em meios de aperfeiçoar o controle financeiro no negócio, em ter um bom planejamento orçamentário, treinamento de equipe para melhor eficiência operacional, quando pensa no processo sucessório (em caso de empresa familiar), por exemplo, você estará trazendo melhorias de governança à empresa.
Em um primeiro momento, busque por auxílio profissional como é o caso de um conselheiro consultivo para ajudar no melhor direcionamento quanto à profissionalização do negócio!
Tenha metas claras, possíveis de alcance
Por que pensar em projetos tão ousados que sejam além da sua realidade no momento? Foque em compreender a sua posição como empresa no mercado, assim como as suas capacidades e objetivos, sendo assim, poderá ter a ideia mais clara de quais serão os meios de acompanhamento desses objetivos e o prazo para realizá-los.
Depois disso, foque em mensurar os impactos da atividade empresarial e mapeie as ações necessárias para que as metas impostas inicialmente sejam alcançadas.
Valorização humana
Qualquer projeto sustentável só será possível por meio do engajamento das pessoas, portanto, o treinamento de equipes, uma gestão com características mais ligadas ao modelo horizontal baseada na escuta ativa, na promoção da autonomia aos profissionais, etc., é fundamental. Não apenas o engajamento das pessoas, mas tê-las como centro das iniciativas, é imprescindível.
Enxergue a sustentabilidade que já existe em seu negócio!
Quando uma empresa consegue manter sua família e a família de seus profissionais, já é sustentável, dentro do ‘S’ de Social.
Esqueça a ideia de que para ser ESG será necessário mudar totalmente a sua empresa, comece por mudanças que estejam de acordo com a sua realidade. No caso do pilar Meio Ambiente, por exemplo, verifique quais seriam os meios para promover ações de proteção ao meio ambiente.
Pequenos esforços já fazem a diferença, vamos supor que você abrace a economia circular, por meio da destinação e venda de seus resíduos e embalagens para reciclagem, essa já seria uma ótima iniciativa!
Como a cultura da sua empresa abraça o ESG?
Muitas empresas ainda estão aprendendo a ser ESG, sendo assim, é comum que a cultura da empresa necessite de algumas adaptações para vivenciar a sustentabilidade da melhor maneira.
Uma cultura alinhada com os princípios ESG é essencial, de maneira que suas vivências apontem para isso. Todas as partes interessadas precisam estar engajadas, desde as lideranças até os prestadores de serviço.
Procure apoio especializado para a implantação de iniciativas sustentáveis
Dentre os principais debates promovidos sobre o papel dos conselhos para o fortalecimento da agenda de sustentabilidade nas empresas, está a importância de que os negócios e conselhos coloquem o ESG no centro de sua estratégia.
Ter uma agenda ESG é crucial, ou seja, incluir as principais demandas presentes neste conceito global no desenvolvimento de quaisquer iniciativas que a empresa deseja executar.
As agendas ESG promovem valor em longo prazo quando estão alinhadas à governança corporativa estruturada e ao trabalho colaborativo.
Os conselhos têm o importante papel quanto ao alinhamento das iniciativas ESG com a direção estratégica da empresa, garantindo que esteja focada em tópicos relacionados à sua realidade, sendo assim, devem ser estabelecidas metas clara e a prestação de contas precisa estar embasada na avaliação de desempenho da empresa em nível global.
Os conselhos, considerando sua diversidade de visões, backgrounds profissionais e culturais, entre outros requisitos, devem lembrar o negócio acerca de seus propósitos, cultura, valores e quais os principais caminhos para que consigam perpetuar sua participação no mercado em longo prazo.
É comum que muitos gestores sintam-se confusos sobre como implantar o ESG nas PMEs, mas a boa notícia é a de que é possível, com a ajuda externa e o mais recomendado seria buscar por um profissional experiente, que pudesse integrar inicialmente o conselho consultivo do negócio para o direcionamento referente à integração ESG em sua dinâmica operacional, trazendo benefícios, inclusive, de curto prazo ao negócio.
Não tem problema sentir-se perdido ou por falta de conhecimento acreditar que ser ESG é um “modismo”, abra-se ao conhecimento, procure por profissionais experientes no assunto, tenha a disposição de aprender continuamente.
Iniciar na jornada ESG pode te ajudar a se fortalecer no mercado e a conquistar novas oportunidades. Agora que você já sabe que ESG é para empresas de qualquer segmento e porte, vamos conversar sobre os meios de implantação?
Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo. (Daiana Barasa/agencianaia)