A preservação dos peixes das bacias dos rios Tocantins e Araguaia contará com a colaboração dos pescadores da região. Um aplicativo inovador desenvolvido no âmbito do Plano de Ação Territorial de Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Território Cerrado Tocantins (PAT Cerrado Tocantins) possibilitará que os usuários conheçam mais sobre as espécies encontradas na área graças ao banco de dados disponível, que reúne informações de mais de 120 espécies. Além disso, a proposta é que os cidadãos disponibilizem detalhes sobre seus registros, como tamanho, peso e outras características dos animais localizados, que serão utilizados em pesquisas científicas e no monitoramento pesqueiro.
A iniciativa reforça a importância das estratégias de ciência participativa, ou ciência cidadã, que tem se consolidado como uma nova forma de interação entre os cientistas profissionais e os cidadãos na coleta de dados. Além de aumentar a produção de conhecimento, a ação tem o potencial de ampliar a rede de pessoas comprometidas com a sustentabilidade ambiental e a conservação da biodiversidade.
A ideia é que a ferramenta, denominada “EuPescador”, seja utilizada tanto por pescadores que praticam a atividade como esporte quanto para os que a utilizam como subsistência, de forma artesanal. De acordo com o biólogo do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), Oscar Vitorino, que coordenou todo o trabalho de desenvolvimento do aplicativo, existem cerca de 700 espécies conhecidas na bacia dos rios Araguaia Tocantins, sendo que mais de 30 estão na Lista Espécies Ameaçadas de Extinção. “Entre essas espécies ameaçadas, temos 5 que foram selecionadas para serem alvo do nosso PAT Cerrado Tocantins e foi pensando em localizar esses peixes que a gente desenvolveu o aplicativo. Fizemos campanhas com os pescadores e com as colônias de pesca aqui da região para saber se eles estão capturando esses exemplares, se elas ainda existem, onde ocorrem”, relatou.
Ele explicou que a busca por esses peixes ameaçados é constante, principalmente por meio de expedições, mas que a dificuldade em encontrá-los motivou o desenvolvimento do aplicativo. “Com a ferramenta, daremos às pessoas a possibilidade de repassar dados fundamentais para atualizar o grau de ameaça de cada uma das espécies, principalmente as CR Lacuna (Criticamente em Perigo), que são o nosso foco principal”, complementou Oscar.
Acervo pessoal
Por meio do “EuPescador”, os usuários poderão manter um acervo pessoal com seus registros e disponibilizar informações sobre seus registros para os órgãos responsáveis pela preservação dos estoques pesqueiros. Esses dados serão fundamentais para a elaboração e atualização das portarias que regram sobre as espécies de peixes, localidades, períodos e tamanhos permitidos ou proibidos para a pesca.
Para acessar os serviços do aplicativo, o usuário precisa, inicialmente, criar uma conta gratuita. A plataforma foi desenvolvida de forma intuitiva para que todos possam acessar a biblioteca de peixes, que traz informações sobre as espécies com ocorrência nos rios Tocantins e Araguaia, além de armazenar os seus registros e enviá-los para o Naturatins.
A ferramenta foi desenvolvida sem custos no âmbito do projeto Pró-Espécies: Todos Contra a Extinção, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, da sigla em inglês para Global Environment Facility Trust Fund), implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e tem o WWF-Brasil como agência executora. O processo de desenvolvimento do aplicativo contou com a parceria da Universidade de Brasília e alunos do curso de Engenharia de Software.
O Pró-Espécies trabalha em conjunto no Maranhão, Bahia, Pará, Amazonas, Tocantins, Goiás, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo para desenvolver estratégias de conservação em 24 territórios, totalizando 62 milhões de hectares. Prioriza a integração da União e dos estados na implementação de políticas públicas, assim como procura alavancar iniciativas para reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo (CR) e que não contam com nenhum instrumento de conservação. (ParadisComunicacão)