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Economia

Foto: Freepik

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Em coletiva de imprensa da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), foi apresentado um retrato detalhado dos resultados do primeiro semestre de 2025 e das perspectivas para o restante do ano e 2026. Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente e presidente emérito da entidade, destacou que o setor no País, um dos poucos no mundo a manter produção completa, integrada e verticalizada em toda a cadeia produtiva, segue enfrentando desafios, mas também demonstra sinais de recuperação em alguns indicadores.

No campo da produção, o semestre registrou alta de 11,4% no segmento têxtil e de 1,8% no vestuário em comparação ao mesmo período de 2024. No acumulado dos últimos 12 meses, esses percentuais sobem para 17,7% e 18,9%, respectivamente. O emprego acompanhou esse movimento, com a abertura de 10 mil postos de trabalho na indústria têxtil e 12,3 mil na confecção, totalizando 22,3 mil, entre janeiro e junho de 2025, enquanto no acumulado em 12 meses foram criados 7,7 mil postos.

A balança comercial manteve o saldo deficitário: em 2024, o setor exportou US$ 908 milhões e importou US$ 6,6 bilhões, acumulando um déficit de US$ 5,7 bilhões, situação que se prolonga em 2025, agravada pelo crescimento de 10,8% das importações em volume até julho, frente a um aumento de 12,3% nas exportações.

Entre janeiro e julho de 2025, as exportações brasileiras do setor somaram US$ 565 milhões, um crescimento de 8,58% em relação aos US$ 520 milhões registrados no mesmo período de 2024. As importações totalizaram US$ 3,94 bilhões, alta de 7,72% frente aos US$ 3,66 bilhões de um ano antes. Com isso, o déficit comercial setorial aumentou 7,58%, passando de US$ 3,14 bilhões para US$ 3,37 bilhões. Em volume, as exportações subiram de 96 mil para 108 mil toneladas, avanço de 12,29%, enquanto as importações cresceram 10,84%, de 1,08 milhão para 1,2 milhão de toneladas, ampliando o déficit em 10,70%.

No quadro macroeconômico, o setor movimenta R$ 221 bilhões por ano, reúne 25,5 mil empresas com mais de cinco empregados e gera 1,31 milhão de empregos diretos. O peso econômico também se reflete nos R$ 39,1 bilhões em salários pagos e nos R$ 24,4 bilhões em impostos e taxas recolhidos. Esses números colocam o Brasil na quinta posição no ranking mundial da indústria têxtil e de confecção.

O levantamento da Abit também mostrou que, de janeiro a junho, o varejo de vestuário cresceu 5,5% em relação ao mesmo período de 2024 e, no acumulado de 12 meses, a alta é de 5,5%. A confiança do empresariado, entretanto, permanece em patamares baixos: 47,1% na indústria têxtil e 46% na confecção, de acordo com pesquisas de junho.

A inflação do vestuário foi de 2,1% até julho, ante 4,95% do IPCA geral. Os índices de preços ao produtor (IPP) subiram 0,44% no setor têxtil e 0,71% no de vestuário. Em 12 meses, a inflação do vestuário está em 4,12%, ante 5,35% da nacional, o IPP têxtil em 2,80% e o IPP vestuário em 2,34%.

Dentre os pontos de atenção, Pimentel destacou as barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos, que recentemente ampliaram tarifas sobre produtos brasileiros, chegando a 50% para a maioria dos itens do setor. Isso representa mais um desafio para uma indústria já pressionada por práticas desleais de comércio, como subfaturamento e pirataria, além da concorrência acirrada com grandes exportadores globais, como China, Vietnã, Bangladesh e Índia.

Mobilização institucional e política

“O setor têxtil e de confecção brasileiro é resiliente e segue fundamental para a economia e a sociedade, gerando trabalho, renda e inovação. Mas, é preciso que as condições de competitividade sejam asseguradas para que possamos avançar”, afirmou Pimentel. Segundo ele, os obstáculos são grandes, mas não intransponíveis.

O dirigente lembrou que, diante das restrições impostas pelos Estados Unidos, a Abit está propondo medidas compensatórias para as empresas brasileiras. “Queremos que nossas indústrias sejam contempladas em ações de suporte à perda temporária de mercado norte-americano”. Além disso, na busca por conquistar ou ampliar mercados, “estamos trabalhando em novos acordos com a União Europeia, Mercosul e a EFTA, além de insistirmos na agenda de redução do ‘Custo Brasil’, medida essencial para aumentar a competitividade”, declarou.

Pimentel também alertou para a forte pressão dos importados, cujo crescimento tem superado a expansão do mercado interno. “Isso significa perda de market share para nós. E não falamos apenas das importações tradicionais, mas também das que chegam pelas plataformas digitais, que crescem de maneira acelerada”, enfatizou.

Apesar desse cenário, o dirigente destacou que o Brasil ainda ocupa posição de destaque global. “Mesmo enfrentando uma concorrência brutal, nossa indústria têxtil e de confecção continua entre as cinco maiores do mundo e temos a maior cadeia produtiva integrada do Ocidente”, frisou. Ele acrescentou que, pela primeira vez, o setor foi incluído explicitamente em uma política industrial nacional – a Nova Indústria Brasil (NIB) –, o que deve ter desdobramentos positivos em termos de financiamento e estímulo à inovação.

Segundo Pimentel, os avanços também passam pela economia circular e pelas práticas ESG. “Temos uma agenda robusta nessas áreas e precisamos intensificar os investimentos. O setor continua a empregar e a investir, mas há risco de perdas se não conseguirmos redirecionar parte da produção que antes tinha como destino os Estados Unidos”, explicou. Para ele, é preciso manter equilíbrio entre realismo e otimismo. “Temos desafios, sim, mas também um setor que segue resiliente, investindo e buscando caminhos para crescer”, concluiu.