O Boletim Focus desta segunda-feira veio sob o pano de fundo da reativação da guerra tarifária EUA–China, que estressou os mercados na sexta e depreciou o real — mas, apesar do ruído, as projeções para o câmbio permaneceram estáveis em R$ 5,45 para 2025, sinalizando que o choque ainda não contaminou o cenário-base dos analistas de mercado.
Lá fora, as apostas do CME Group para mais dois cortes do Fed neste ano seguem praticamente unânimes, o que mantém o suporte às operações de arbitragem de juros e, por consequência, tende a favorecer o fluxo para moedas de emergentes quando o apetite ao risco se normaliza. No Brasil, a derrota da MP substituta do IOF elevou a incerteza sobre a viabilidade da meta de 2026 e deslocou o foco para o pacote alternativo de recomposição de receitas que o Ministério da Fazenda deverá anunciar — fator com potencial de mexer nas expectativas de início do ciclo de queda da Selic no 1º tri de 2026 (ainda que os sinais da atividade tragam leituras mistas entre resiliência do mercado de trabalho e perda de fôlego da atividade econômica).
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Nos números, o destaque do Focus foi a revisão do IPCA de 2025 de 4,83% (há quatro semanas) para 4,72%, enquanto a inflação suavizada em 12 meses recuou de 4,43% para 4,13% no mesmo período— coerente com o IPCA de setembro mais fraco (0,48% vs. 0,55% esperado). Em sentido oposto, Administrados subiram pela 4ª semana seguida, a 4,96%, lembrando que choques regulados podem limitar a desinflação. Já as medianas de Selic permaneceram inalteradas: 15,00% em 2025 e 12,25% em 2026, reforçando a leitura de que, por ora, o fiscal e a nova rodada de dados locais (vendas no varejo e IBC-Br) são os balizadores do curto prazo. O mercado, portanto, monitora a combinação entre tarifaço global e arranjo fiscal doméstico para reprecificar risco, mas sem alterar — ainda — o cenário central de expectativas.
*Arnaldo Lima é economista, líder de Relações Institucionais da Polo Investimentos.