Às vésperas da última reunião do Copom em 2025, marcada para terça e quarta-feira (9 e 10/12), Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirma que a esperança dos juros baixos não pode morrer neste final ano. “Afinal, se perecer, levará com ela uma parte expressiva da expectativa dos brasileiros de que 2026 tenha mais investimentos, PIB mais robusto, empregos de melhor qualidade, renda menos concentrada e um ambiente mais fértil para o empreendedorismo e o ambiente de negócios”, diz.
O PIB já sente os efeitos da Selic elevada por um tempo exagerado. “Um sintoma é a desaceleração no terceiro trimestre, cujo avanço, segundo divulgou o IBGE, foi de apenas 0,1%, ante 0,3% nos três meses imediatamente anteriores e 1,8% na comparação com igual período de 2024”, salienta Cervone, observando: “Não há economia que resista a juros tão altos, pois encarecem o crédito, restringem o consumo, os investimentos e o capital de giro e freiam projetos de expansão e de novas empresas. A Selic atual, de 15% ao ano, somada a exorbitantes spreads bancários, impõe aos brasileiros uma das mais altas taxas reais do mundo”.
Se a Selic não começar a cair, “também ficará arranhada a esperança de o Brasil alcançar um ciclo mais vigoroso de crescimento”, alerta o presidente do Ciesp, acrescentando: “E não é uma esperança qualquer, pois é a que move o aporte de capital na economia real e produtiva, a expansão do consumo, a inclusão social e o ânimo das pessoas de abrirem negócios”.
As consequências dos juros exagerados espalham-se como uma onda: custo financeiro maior, menos produção, menos inovação, perda de eficiência, retração no consumo e um ambiente de negócios marcado pela incerteza. “É como tentar correr com uma âncora amarrada no pé”, compara Cervone. Por isso, ele salienta que a última reunião do Copom este ano carrega um significado simbólico e prático, pois representa a chance de se iniciar uma trajetória de queda da Selic, o que seria mais favorável ao crescimento sustentado.
Entretanto, o presidente do Ciesp alerta que há outra esperança que precisa permanecer viva e que não depende do Copom: é a de que o País avance no equacionamento do déficit fiscal. O desajuste das contas públicas pressiona a inflação, amplia o endividamento e dá motivos, mesmo que não plenamente justificados, para a manutenção dos juros altos, alimentando um ciclo vicioso que trava o crescimento.
“É premente dimensionar e equilibrar bem as políticas monetária e fiscal para turbinar o potencial econômico do País. Mais do que nunca, cabe fazer valer o velho ditado popular de nosso resiliente povo, de que a esperança é a última que morre”, conclui Cervone.
