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Opinião

Parafraseando os idealizadores do Fórum Social Mundial para tomar emprestada sua idéia-força, que trata da possibilidade real de transformação da nossa sociedade iniciamos esse artigo com a frase título acima.

O conjunto de nossa sociedade está doente e que esta doença tem raízes profundas. Portanto, no debate sobre os rumos das administrações municipais é preciso não nos confundirmos com as candidaturas conservadoras, as oposições inconseqüentes, os donos de verdades absolutas, que reduzem as soluções a fórmulas aparentemente fáceis quanto inúteis, que não resolvem os problemas do povo trabalhador.

Majoritariamente as cidades brasileiras são pessimamente administradas. Geralmente são administradas como se fossem a cozinha ou o quintal de políticos conservadores, que se matem no poder com lances de populismo e manipulação eleitoral dos grupos sociais mais pobres e carentes. Em Gurupi não é diferente e por isso mesmo não temos medo de afirmar que uma outra Gurupi é sim possível, mas nos marcos de um novo tipo de administração, democrática, justa e popular. Nos marcos atuais teremos só mais engodo, miséria, abandono social e administrativo.

Romper com as práticas administrativas municipais marcadas pela fraude político-eleitoral tradicional, pelo condomínio de poder de partidos e políticos conservadores, que se revezam a frente das administrações municipais, mentindo e enganando a população, mantendo sempre a reprodução dos fatores que agravam a situação crítica de nosso povo não é fácil. Isso porque geralmente eles são ligados a famílias tradicionais, ricas e influentes.

Gurupi não é diferente da maioria das cidades brasileiras, é uma cidade sem lazer para os jovens, sem espaço para os idosos, sem creches para as crianças, sem emprego, sem um prefeito a altura de suas necessidades mais prementes. Por isso, os buracos tomam conta das ruas, grande parte dos jovens se perde nas drogas, as mães trabalhadoras não têm onde deixar os filhos e as crianças não tem onde brincar, a não ser ficarem em casa trancadas assistindo televisão. É preciso construir um novo padrão de desenvolvimento para o município, que busque, junto com os setores sadios da sociedade, derrotar a política conservadora e antipopular, geralmente disfarçada de democrática e "preocupada com o social". É preciso edificar uma sociedade livre, democrática e justa. Mas isso só será feito com administrações de fato democráticas e populares e que rompam com abandono administrativo de Gurupi e outras cidades do Tocantins e do país.

A situação da cidade está assim após anos de gestão de um Prefeito que diz ter como prioridade o desenvolvimento municipal e a política de auxílio à população mais pobre o seu eixo de intervenção central. Mas será verdade? Como pode ser prioridade essas políticas se amplos setores da população encontram-se absolutamente abandonados e se a gestão administrativa de Gurupi é absolutamente incapaz de colocar em práticas dinâmicas que busquem resolver os graves problemas sabidos por todos, como a falta de moradia digna, renda, lazer e segurança pública?

Mas será possível, no âmbito do poder local haver enfrentamento de problemas como violência, déficit habitacional, falta de saneamento, desemprego e tantas outras demandas já colocadas? Sim, é possível. Mas todas as soluções passam impreterivelmente por medidas que os políticos conservadores têm verdadeiro pavor: transparência na gestão pública, participação e mobilização popular. E isso não tem nada haver com os "orçamentos participativos" feitos para inglês ver, mas com um verdadeiro processo democrático de envolvimento da população na definição das políticas públicas.

O combate à corrupção e à privatização da gestão pública está na essência da busca pela verdadeira democratização das instituições do Estado. No Brasil a esmagadora maioria dos políticos e seus partidos têm relações nada republicanas estabelecidas com grupos empresariais. O objetivo destas relações é estabelecer parcerias público-privadas subterrâneas, de legalidade sempre duvidosa, sempre imorais e muitas vezes criminosas. Na maioria das cidades de Tocantins é diferente? Em Gurupi é diferente?

Quem já não ouviu falar que muitas cidades tocantinenses são governadas por Chefes de Gabinetes, enquanto muitos prefeitos cuidam de suas fazendas? Quem não ouviu falar que alguns empresários têm relações privilegiadas com o poder público? É possível negar que empresários amigos do poder são beneficiados em muitas cidades? E as empreiteiras maiores financiadoras de políticos no Brasil, fazem-no por espírito público? Ou tem seus interesses garantidos nas Prefeituras. Quantas dessas perguntas os administradores tocantinenses e de Gurupi poderiam responder de forma negativa?

Parar as engrenagens nocivas em uma administração não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, é uma tarefa não só dificílima, como também extremamente perigosa, porém imprescindível. Muitos já foram assassinados por tentar alterar os "esquemas" presentes nas administrações públicas e muitos acabaram intimidados pelos interesses privados a frente das administrações.

O povo brasileiro tem ter a coragem necessária para buscar desmontar os "esquemas" administrativos que buscam se eternizar no poder. Contudo, não basta coragem, é preciso ter força. E a força está no povo e na sociedade civil organizada e mobilizada, no controle social implacável por parte da população. Por isso mesmo, o povo de Gurupi tem que acreditar em sua força e possibilidade de mudança. Chegou a hora do povo brasileiro e o povo de Gurupi acordar e dizer um basta a tanto abandono administativo. Chegou a hora de percebermos que somente com a transparência real, a participação popular efetiva e a mobilização popular poderá haver mudanças políticas satisfatórias. Essa é a condição sine qua non para alcançarmos patamares satisfatórios de solução para os problemas dos trabalhadores em particular e da sociedade em geral.

As engrenagens da corrupção e da apropriação imoral dos recursos públicos têm dentro do serviço público brasileiro extensões sofisticadas e só começarão a ser desmontadas quando o povo disser um basta aos políticos demagogos e passar a participar ativamente do destinos das cidades e das administrações públicas. Mas essas engrenagens precisam ser combatidas em todos os níveis, as administrações municipais são apenas o primeiro degrau da mudança necessária!!

Gurupi como uma das maiores cidades do Tocantins é uma cidade que dispõe de recursos financeiros suficientes para tratar de forma distinta a questão da segurança pública, habitação e saneamento, saúde, educação, geração de emprego e renda, atenção aos direitos da juventude e idosos, por exemplo. Mas até hoje as gestões da cidade tiveram outras prioridades.

Se o social, as políticas públicas eficientes e o povo fossem realmente a prioridade administrativa em Gurupi, hoje estaríamos num outro patamar, seus principais problemas urbanos: habitação, saneamento, educação, saúde, meio ambiente, transporte, emprego e segurança pública já estariam resolvidos. Sim, uma outra cidade é possível. Mas para tanto, Gurupi precisa mais do que um prefeito, ou um mero administrador, Gurupi precisa de um líder político de verdade, capaz de mobilizar o povo, a sociedade civil organizada e ter outra atitude diante do governo do Estado e das dificuldades que ainda impedem a felicidade e a qualidade de vida. É este debate que devemos fazer com o povo gurupiense nas eleições de 2008.

 

Paulo Henrique Costa Mattos

professor de Sociologia e Antropologia da UNIRG.

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