Estabelecimentos já registram queda no consumo. Alta do arroz também incide no aumento da cesta básica, fazendo com que a população reduza a compra de produtos considerados supérfluos
Preocupação geral nos supermercados de Palmas. A crise mundial na produção de alimentos e a volta do fantasma da inflação no Brasil estão atingindo em cheio o setor na capital. Os proprietários de supermercados já começam a registrar quedas sucessivas e mensais nas vendas.
A crise, que é mundial, vem elevando de forma constante o preço dos produtos nas prateleiras. Isso acontece porque todo o setor da indústria reajustou os valores dos alimentos vendidos. A situação está fazendo o governo rever a meta de inflação para o ano de 2008.
Enquanto tudo isso acontece, os salários dos trabalhadores continuam os mesmo, fazendo com que a diminuição do poder aquisitivo, portanto, se torne gradativa. Assim, os supermercados começam a ser prejudicados diretamente.
O informativo O Lojista editado pela CDL – Câmara dos Dirigentes Lojistas de Palmas fez um levantamento com quatro estabelecimentos do setor. Todos foram unânimes em mostrar que estão apreensivos. A redução nas vendas vem se acentuando. Os prejuízos começam a ser acumulados e, pelo menos em curto prazo, não há uma solução efetiva que possa ser deslumbrada.
Supermercado Vitória
Estabelecimento situado na quadra 1.004 sul, o Supermercado Vitória sofre com a crise. O aumento de preços, na empresa, foi mais agudo nos produtos da cesta básica e nas carnes. No último mês, a queda nas vendas chegou a 5% do faturamento.
“Todo mundo está muito preocupado. Eu estou preocupada não só como comerciante, mas também como consumidora. O arroz não pára de subir e a gente fica pensando como as pessoas que estão desempregadas em Palmas estão fazendo”, ponderou a gerente do supermercado Joelma Lopes de Paiva.
A empresária, que tem três funcionários no Supermercado Vitória, espera que esse haja uma paralisação nesse aumento de preços dos alimentos.
Supermercado Real
Do outro lado do Plano Piloto de Palmas, na quadra 103 norte, a situação não é diferente. Gerente do Supermercado Real, Antônio Bueno de Morais, credita boa parte da culpa da crise aos próprios produtores rurais.
Segundo ele, os agricultores (e pecuaristas em alguns casos) armazenam os produtos colhidos mais do que o tempo necessário para aproveitar a especulação mundial da crise e, por conseguinte, conseguir aumentar o valor de mercado de suas plantações. Com 16 colaboradores, o Supermercado Real vem sendo obrigado a reajustar, sucessivamente, os preços do arroz e do feijão.
Muitos outros produtos tiveram um acréscimo de preço que varia de 8% a 12%. Claro que, com o consumidor sendo obrigado a pagar mais caro por aquilo que consome, o prejuízo é inevitável. O empresário estima que, nesses últimos três meses, houve uma redução de faturamento de 10% a 15% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Quartetto
Um dos maiores supermercados de palmas, o Quartetto, localizado no Palmas Shopping, também sofre com a crise. A proprietária do estabelecimento, Maria Fátima de Jesus,citou vários produtos que tiveram aumento nesse período. Ela destacou como os mais relevantes o arroz, a carne, o óleo, o macarrão, o trigo e feijão.
Para piorar, os hortifrutigranjeiros também tiveram acréscimos nos preços. A maior parte das compras do Quaratetto é de São Paulo. Porém, tanto o mercado paulista, quanto o tocantinense, vem se socorrendo de Goiânia para suprir a falta de produtos nas prateleiras.
Alguns itens subiram mais de 25%. O grande vilão da história, pelo menos até afora, parece ser o arroz. Em pouco meses, a elevação no preço foi de mais de R$ 4 na embalagem de dez quilos. Em alguns casos, o arroz subiu mais de 50%.
Maria Fátima salientou que a situação é “de preocupação geral”. Ela frisou que não houve uma diminuição de gastos do consumidor, mas os clientes estão levando menos produtos. Para ela, o governo federal, dentro do possível, precisa tomar medidas para estimular a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, conter a inflação. Ela destacou que o lado social da crise é muito grave, em especial pelo risco de pessoas terem muita dificuldade para a alimentação diária.
Sem supérfluos e complementos
Umas das principais quadras da região sul de Palmas, com maior concentração de kit-nets. Na 210 sul onde está localizado o Comercial El Dourado. O estabelecimento, que tem 12 colaboradores e está fazendo uma importante ampliação de espaço, é afetado pela crise. O proprietário, Adailton Pereira, também cita o arroz como o principal vilão. “Vendíamos o saco de dez quilos a R$ 7 ou R$ 8. Agora, estamos vendendo a R$ 11 a R$ 12”, contou, ao destacar que a tendência, por enquanto, ainda é ter mais elevações no preço.
Ao avaliar a situação, Pereira foi claro. Ele explicou que o aumento dos produtos da cesta básica é muito nocivo para o comerciante em geral. Isso acontece porque nesses itens a margem de lucro é muito pequena e, mesmo com a elevação dos preços, as compras continuam acontecendo em quase que a mesma totalidade.
Porém, o dinheiro que o consumidor tinha para outras compras, que têm margem de lucro bem maior, acaba não existindo mais. Desta forma, as pessoas deixam de comprar doces, chocolates, refrigerantes, cervejas e outros produtos que não são considerados de primeira necessidade. Esta opção do consumidor diminui muito a margem dos supermercados da cidade.
Pereira também defendeu incentivos para plantação agrícola e produção de alimentos. O empresário se posicionou contra a utilização de áreas agrícolas para o biodiesel.
Aumenta estimativa de inflação
Em mais um reflexo direto da crise nos alimentos, economistas e analistas do mercado financeiro aumentaram novamente suas previsões para a inflação em 2008, segundo a pesquisa semanal do Banco Central conhecida como relatório Focus. A expectativa para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que serve como meta de inflação, subiu pela 14ª semana seguida. O IPCA deve fechar o ano a 6,3%, acima dos 6,08% esperados até a semana passada. Se confirmado, o indicador ficaria acima do centro da meta de inflação para esse ano, que é de 4,5%, mas ainda dentro do teto da meta, de 6,5%. Para 2009, a previsão para o IPCA subiu de 4,78% para 4,8%.
Fonte: Assessoria de Imprensa CDL Palmas