Durante a audiência pública sobre a reformulação do ensino médio, nesta última terça-feira, 26, a deputada federal professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) pontuou que Ensino Médio noturno é fruto de um País que tem um sistema desigual. A parlamentar pontuou que, na maioria dos países, as escolas sequer funcionam à noite porque essa fase da educação básica costuma ser concluída por estudantes no período diurno.
“A situação no Brasil é diferente e a provocação é oferecer o ensino noturno para quem realmente precisa, ou seja, para pessoas que trabalham durante o dia e só tem a noite para estudar. E não é assim que funciona. Essa relação tem que ser de exceção”, disse.
A defesa da parlamentar é que se discuta um currículo diferenciado para esse público estudantil do período noturno. “O trabalhador precisa estudar à noite, mas não pode ter um ensino médio de segunda categoria. Ele tem que ter direito a mesma quantidade de horas e acesso ao conhecimento necessário que um estudante do período diurno e, muitas vezes, são pessoas mais velhas, com mais experiência, que poderiam ter um foco diferenciado”, pontuou.
A defesa da deputada é que seja construído um currículo específico, mesmo que o ensino médio noturno dure mais tempo, com reorganização de disciplinas e definição de áreas prioritárias. “O ensino médio noturno não é simplesmente uma questão de horário de funcionamento, requer um currículo e tratamento diferenciados”, afirmou Dorinha.
De qualquer forma, a parlamentar ressalta que o ensino médio precisa ser revisto como um todo, não somente o noturno. “O ensino médio é ruim em qualquer horário. A questão é que o noturno ainda consegue ter um desempenho 40% pior que o diurno”, disse.
A expectativa da comissão, segundo professora Dorinha, é que haja um enfrentamento em relação à questão curricular. “Não adianta pensar que com esse leque de 19 disciplinas vamos formar alguma coisa. O ponto é que o ensino fundamental tem que ser bom e cumprir a sua função para que o ensino médio possa ter uma base mínima que atenda as necessidades do país inteiro e, a partir dessa base, possamos ter ofertas diferenciadas vinculadas à educação profissional de acordo com as questões regionais e culturais”.
Dorinha defende uma reformulação curricular para definir o que é realmente essencial para o ensino médio, rever a formação dos professores e adequar os processos de avaliação, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Atualmente o Enem está sendo praticamente um substituto do vestibular, dirigindo os sistemas de ensino, mas sem clareza do quê e como deve ser ensinado e trabalhado e redefinir a identidade do ensino médio. Do ponto de vista só de informação, hoje temos redes disponíveis muito mais ricos que a escola”, afirmou.
Sobre a audiência
O evento contou com a participação do Secretário de Educação do Acre e membro do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) Daniel Sant'ana defendeu a reformulação do currículo como ponto principal para melhoria do ensino médio, que hoje não é atrativo para os alunos, segundo ele. Sant'ana defende que as medidas tomadas tenham como base experiências exitosas em currículos mais atualizados.
"Caminhar no sentido da educação em tempo integral, que deve ser algo feita de forma gradual, paulatina, consensual. Tem que começar por algo que seja viável e possível de ser replicado e reproduzido em todas as escolas de todos os sistemas estaduais”, disse.
A cada 100 alunos que entram no ensino fundamental, apenas 44 continuam nos bancos escolares até o ensino médio. Desses 44, metade abandona as salas de aula e somente 12 chegam à universidade, segundo dados reunidos, no ano passado, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Um dos principais motivos é a inadequação do ensino médio à realidade em que vivem os jovens. (Assessoria)