Para algumas pessoas, nenhuma dificuldade é capaz de frear sonhos. E em alguns casos, a vida parece caprichar no tamanho dos desafios. É o caso de Agostinho Quintino Batista, ou simplesmente "seu" Agostinho. Em 2013 ele foi um dos quatro autores do Tocantins selecionados para participar do livro do Concurso Nacional Novos Poetas: Prêmio Sarau Brasil, uma coletânea de poemas de 200 autores de todas as regiões do Brasil.
Agostinho queria ir ainda mais longe, e para lançar seu próprio livro "Histórias de um Juricaba", o artesão, escritor e acadêmico na Universidade da Maturidade (UMA), da Universidade Federal do Tocantins (UFT), recolheu mais de sete mil latinhas, cerca de 346 quilos de alumínio, e as vendeu para reciclagem. Seu Agostinho demorou um ano para alcançar a meta, e o resultado de todo esse esforço foi investido na impressão de quarenta cópias da primeira tiragem do livro.
Colecionador de histórias, o escritor explica o nome da obra: "Um juricaba é um guerreiro indígena valente, e eu venho desse povo", afirma. Aos sete anos, seu Agostinho foi mordido por uma cobra, e o acidente deixou sequelas. "O aleijado não ficava na tribo, eles mandavam matar. E a minha mãe, pra salvar a minha vida, se afastou da tribo. Ou arribou, como eles dizem", comenta.
Foi desenhando algumas letras que via em uma revista Cruzeiro, com penas de pássaros, tinta de açaí e outros recursos rudimentares que Agostinho começou a tomar gosto pela palavra escrita. Quando finalmente foi alfabetizado, passou imediatamente a escrever suas próprias histórias e nunca mais parou. Segundo ele, já passam de duas mil, escritas desde a infância.
A ideia de compilar parte desse acervo em um livro existia há dez anos. Em dezembro de 2012, seu Agostinho começou a recolher as latinhas recicláveis durante o percurso que caminhava pela cidade. Geralmente enchia uma sacola grande e levava para casa, onde as guardava. Quando alcançou uma quantidade considerável, Agostinho começou a vender o material coletado e conseguiu cerca de R$ 500. Foi essa a forma que o artesão encontrou para financiar a primeira tiragem de "Histórias de um Juricaba".
"Eu comecei a recolher as latinhas para poder lançar o livro, nunca pensei em usar o dinheiro para outra coisa, mas foi complicado. As gráficas estavam cobrando mais de R$ 1,5 mil para imprimir, e eu não tinha esse dinheiro". Ele conta que só conseguiu prosseguir com o sonho quando encontrou uma gráfica disposta a imprimir quarenta exemplares por um valor em torno de R$ 300. "Ainda contei com um amigo para desenhar a capa, e alguns outros, como o professor Luiz Neto, escreveram alguns textos para o livro", comemora o escritor.
"Histórias de um Juricaba" foi lançado no começo deste mês, na sede da UMA, mas seu Agostinho já pensa no próximo projeto, que está quase pronto. "Já tenho um livro novo, praticamente do mesmo tamanho deste, escrito. Só falta conseguir lançar". E que não se duvide que este artesão consiga. (Ascom UFT)