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Foto: Divulgação

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O Brasil possui o segundo maior rebanho efetivo de bovinos do mundo, e desde 2004 assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em mais de 180 países. E esse resultado, evidentemente, é fruto de investimentos e pesquisas, com uma participação ímpar de métodos como a Transferência de Embriões (TE) e Fertilização In Vitro (FIV).

Em 1991, na Unesp, em Jaboticabal, o pesquisador Enoch Borges de Oliveira Filho, revolucionou a indústria da reprodução animal no Brasil. Sua equipe encontrou a melhor concentração de heparina, hipotaurina, penicilamina e epinefirina para capacitar espermatozoides bovinos, obtendo no dia 15 de janeiro do mesmo ano, os primeiros blastocistos do Brasil, ou seja, embriões em estágio avançado de desenvolvimento. Oliveira Filho é, por assim dizer, o pai da FIV.

O pesquisador, que atualmente trabalha na Fundação Universidade do Tocantins (Unitins) continua buscando novos desafios. E está perto de anunciar mais um grande avanço na FIV (fertilização in vitro), que é a inclusão de uma ovelha no processo. Mas para compreender a grandeza e importância dessa pesquisa, é imprescindível uma pequena explanação sobre TE e FIV.

Transferência de Embriões

Na TE (sem congelamento), explica o pesquisador, “se pega uma boa vaca, doadora, e dá doses maciças num protocolos de hormônios para ela superovular mais. E ao invés de um, ela vai dá sete, oito, ou mais oócitos. Esses óvulos são fecundados por inseminação artificial na própria vaca ficando por sete dias após a fecundação. Daí, eles são retirados mediante lavagem do útero e podem sim ser congelados e descongelados com uma taxa de sucesso razoável de prenhez, que no nosso caso deu 30%”.

Os embriões estarão prontos para serem congelados, mas também podem ser transferidos imediatamente para receptora, que é “barriga de aluguel”, já previamente preparada para receber.

A carga hormonal que uma doadora recebe na TE convencional é altíssima, podendo facilitar um desequilíbrio hormonal colaborando para a formação de cistos ovarianos, tumores, endometriose, entre outros, e pode perder a capacidade de reprodução dela. Na FIV praticamente não há sequelas, se comparado com a superovulação.

Fertilização in Vitro

“Na FIV é o contrário. Você consegue tirar muitos óvulos da doadora que serão fecundados no laboratório (in vitro) e passa para a receptora sete dias após sair da estufa e não compromete a vaca, mas os embriões obtidos não são congeláveis. É preciso que esteja com o lote de receptoras sincronizadas, prontas. Esse problema do congelamento, é porque é uma segunda agressão química ao embrião, a primeira é da FIV. Como é feita em laboratório toma muito banho de química, vários produtos. E ao tentar um segundo banho para congelar, o embrião não suporta e morre”.

A principal contribuição da FIV é a amplitude de uso da doadora, que pode começar bem mais cedo, antes de poder emprenhar, até uma idade já avançada, período em que não mais respondem aos estímulos de superovulação. De modo que vacas senis com idades entre 16 e 18 anos, por exemplo, podem ainda doar óvulos e ter prenhez em uma barriga de aluguel.

Entendendo, agora, um pouco mais sobre os procedimentos, pode surgir uma nova pergunta: E onde a ovelha entra nessa história?

Ovelha na FIV

Para diminuir a agressão sofrida pelo embrião devido ao uso de produtos no banho de química e na estufa (sete dias), o pesquisador está introduzindo uma ovelha no procedimento. De que forma? Ao invés dos embriões ficarem sete dias na estufa, ficam apenas dois dias e são transferidos para as trompas da ovelha e lá ficam por cinco dias.

“A nossa ideia é reverter um pouco para o natural, dentro da ovelha, por cinco dias. A ovelha dá aquela recomposição de natural para o embrião, é isso que pretendemos, e ele passe a aguentar o segundo banho de química para o congelamento. Essa parte não foi feita ainda por falta de disponibilidade de material técnico. Até agora fizemos o que já é conhecido para termos comparativos. TE, 30%, e a FIV deu 47% de prenhez. Se o trabalho, com a inclusão da ovelha, atingir os 30% está bom, já ganhou do método tradicional”.

O resultado da pesquisa deve ser divulgado na Agrotins 2014, ocasião em que o pesquisador ministrará a palestra “Aumento do numero de bezerro por vaca usando a FIV”.

Sobre o pesquisador

Graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1968), mestrado em Produção e Reprodução pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), doutorado pela Universidade de São Paulo (USP-1977), pós-doutorado em Melhoramento Genético Animal pela University of Florida, USA (1977-78), pós-doutorado em Transferência de Embriões e Fecundação in Vitro, pela University of Cambridge, Inglaterra (1987-88), pós-doutorado em Micromanipulação de Embriões e Fecundação in Vitro, no Laboratorie Pour Le Controle Des Reproducteurs, Maisons-Alfort, França (1988), pós-doutorado em Biologia Molecular, Paris, França (1995). https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gif(Ascom Unitins)