Desmotivados com a pesca predatória e com a falta de cuidados com o lago formado pela Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães (UHE Lajeado), um grupo constituído por cerca de 30 pessoas com a participação das empresas especializadas na venda de materiais para pesca esportiva de Palmas, juntou-se e está prestes a criar a "Associação Amigos do Lago" com o objetivo de trabalhar a conscientização da pesca esportiva e combater o uso predatório de redes por parte dos pescadores profissionais autorizados pelo Ministério da Pesca Aquicultura e outros objetos de pesca predatória bem como auxiliar na preservação e conservação do lago.
Nei de Oliveira é proprietário de chácara na margem do lago e um dos que está a frente do movimento. Ele informou em entrevista ao Conexão Tocantins na manhã dessa segunda-feira, 17, que uma das principais pautas da entidade será coibir a pesca com rede e a pesca predatória. Neste intuito, um abaixo-assinado é encontrado nas empresas de pesca esportiva há aproximadamente 15 dias e já conta com mais de 200 assinaturas. "O abaixo-assinado tem o objetivo de mostrar aos órgãos ambientais que existe uma grande quantidade de pessoas preocupadas com o que está acontecendo e desse grupo também vai ser formada a associação para que possamos fazer um trabalho preventivo junto aos órgãos ambientais. A pesca com rede precisa ser mais fiscalizada e mais consciente porque se continuar do jeito que está, daqui há algum tempo não teremos mais peixes no lago. O lago não tem como continuar do jeito que está, só tirando, tirando e tirando", afirmou.
De acordo com Nei, a intenção não é atuar contra os pescadores profissionais e sim contra a maneira indiscriminada de pesca. "É bom ressaltar que não somos contra os pescadores profissionais, somos contra a forma como está acontecendo. Entendemos que deve ser um trabalho disciplinado, feito com regras para não destruir o pescado no lago. A pesca inconsciente, predatória, só está acabando com os peixes do lago e estamos ficando preocupados", explicou.
A associação trabalhará, segundo informou Nei, junto aos órgãos ambientais do Estado. Com o Ministério Público, com o Instituto Natureza (Naturatins), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre outros.
Maria Alice Pinheiro Soares que representa a empresa Sport Center e também está à frente da criação da associação e do abaixo-assinado, afirmou ao Conexão Tocantins, que é necessário cuidado especial com o lago. “Ninguém cuida do lago. No lago não há turismo, não tem nada, só redes. Todo mundo indignado com essa situação, com esses pescadores profissionais com rede”, afirmou.
Segundo Maria Alice, a pesca com rede impacta nas empresas especializadas na venda de materiais de pesca esportiva. “Daqui há alguns dias a gente não vende mais molinete, não vende a carretilha porque não tem peixe. Quanto mais assinaturas melhor”, afirmou.
No dia 5 de agosto, a Prefeitura de Palmas, por meio da Operação Nosso Lago, apreendeu cerca de dez toneladas de pescado em Palmas. A operação aconteceu ao longo das margens do lago, no km 17, km 38, km 41, no balneário Sucupira, nas proximidades do residencial polinésia, e Praia das Arnos, onde cerca de 60 pescadores profissionais provenientes do estados do Pará e do Maranhão, estavam há mais de 60 dias no Lago, realizando a exploração dos pescados. Ontem, 17 de agosto, oito profissionais da pesca foram autuados por crime ambiental com 1.200 kgs de peixes com tamanho e caracterização irregulares.
Aos que desejarem manter contato com os organizadores, Maria Alice disponibiliza do seguinte e-mail: sportcenter65@uol.com.br.
Ações previstas
A Associação Amigos do Lago já estuda juntar um mutirão para limpeza. Outra ação prevista é a realização de um Fórum de Pesca em Palmas. "Tivemos uma reunião com as pessoas que estão a frente e estamos trabalhando para fazer o primeiro fórum de pesca em Palmas e uma das ações que vamos fazer é soltar alevinos no lago para repovoar o lago novamente", informou Nei.
Ministério da Pesca e Aquicultura
Em entrevista ao Conexão Tocantins, o superintendente federal da Pesca e Aquicultura no Estado do Tocantins, Amilton Rodrigues de Araújo, explicou que o Ministério da Pesca tem o controle de todos os pescadores profissionais pelo Estado e que aqueles que fazem mal uso da carteira são punidos pelo Ibama ou Naturatins. "No Tocantins temos o maior cuidado. Temos menos de sete mil pescadores profissionais no Tocantins e eles usam a malha (a rede de pesca) correta até mesmo porque são punidos se não usarem. O Ministério da Pesca é contra a pesca predatória. O pescador que faz mal uso da sua atividade recebe a sua punição com o cancelamento ou a suspensão da carteira", afirmou.
De acordo com Amilton, todos os pescadores do Estado estão passando por recadastramento. "O que o Ministério quer hoje é a identificação do pescado, a produção mensal de todos os pescadores e estamos passando pelo recadastramento", informou.
O Conexão Tocantins solicitou a quantidade de pescadores profissionais atuantes na abrangência do lago da UHE Lajeado, no entanto, segundo informou a Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura no Estado do Tocantins, não é possível determinar o quantitativo com a justificativa de que o lago é federal e, sendo assim, todos os pescadores profissionais artesanais com a licença em dia podem realizar a pesca, desde que não seja de forma predatória e ilegal.
Questionada sobre a exploração dos tanques-redes pelo Estado, a Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura, informou que os tanques redes já estão licenciados desde 2013 aos piscicultores. Hoje, em funcionamento, são apenas cinco parques aquícolas pelo Estado, sendo cinco entregues aos pescadores profissionais e um ao empresariado. Segundo a Superintendência, o Ministério da Pesca e Aquicultura já licitou 209 áreas aquícolas no Estado sendo que 198 foram contemplados.
Segundo informou Amilton, acontece nesta terça-feira, 18 de agosto, audiência com todos os presidentes das colônias de pescadores do Estado. Às 10 horas acontece reunião no Ministério da Pesca e às 14 horas, a audiência no auditório do Comando Geral da Polícia Militar com a participação da Marinha, Ibama, Naturatins, Guarda Metropolitana, entre outros. A audiência tem o intuito de inibir a pesca predatória no Estado do Tocantins. (Matéria atualizada às 13h41min)